Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

quarta-feira, 21 de março de 2012

NO TEATRO E NA CULTURA - O QUE GOSTEI MAIS EM 2011

BALANÇO DO ANO, sobre os dez eventos culturais de que mais gostei, mas não consegui ver muito, por isso admito ter falhado algumas coisas muito boas, mas não tenho tempo (e muito menos dinheiro) para ver tudo!

Aviso: não faço nem pretendo fazer crítica de qualquer espécie. Mal ou bem, são apenas pequenas notas justificativas de gosto.

SANTA JOANA DOS MATADOUROS, de Bertold Brecht, enc. Bernard Sobel, TMA
Uma impressionante encenação, à altura dos espectáculos de grande nível que o Festival de Teatro de Almada nos tem dado, de há muitos anos a esta parte. Vi-o duas vezes e não me arrependi, apesar da sua longa duração. Uma nota para a magnífica interpretação, entregue a estudantes de Teatro e Cinema.

“A RAINHA LOUCA”, de Alexandre Delgado, enc. Joaquim Benite
É a segunda parte da “Trilogia da Loucura”, de que o autor prepara a terceira obra, e de que já víramos a magnífica “O Doido e a Morte”, baseada em Raul Brandão. O musicólogo António Cartaxo considerou esta obra “sublime” e eu estou de acordo. Também as vozes eram excepcionais. Lembrar ainda que a cena final é magistral e deslumbrante, com araras e até um macaco!

“ELA”, de Jean Genet, enc. Luís Miguel Cintra, Cornucópia

Extraordinária encenação de uma cáustica peça daquele grande autor francês, numa espécie de pista de circo, em que Genet não poupa instituições (Igreja) e mentalidades que lhe dão suporte. Luís Miguel Cintra, na figura do Papa, é também brilhante, como sempre, como actor. “O Papa não tem cu” é uma famosa tirada da peça e sintetiza-a de certo modo.

“TEATRO CÓMICO”, de Carlo Goldoni, enc. Mario Mattia Giorgetti, CTA

Um dos grandes autores da Commedia dell’Arte numa magnífica encenação de um especialista, dirigindo uma companhia de brilhantes actores, a Companhia de Teatro de Almada. Vi  a estreia no palco ao ar livre, numa noite excelente de Verão, em condições ideais. Maravilha!

“I AM THE WIND” (Sou o Vento), de Bob Fosse, enc. Patrice Chéreau

Surpreendente, pelo impacto visual, de grande beleza. É daqueles espectáculos que não vou esquecer mais! Outro dos grandes (e teve vários) momentos do Festival de Teatro de Almada.

“RETRATOS DA COMÉDIA DELL’ARTE”, de Ferrugio Soleri

Maravilhosa antologia de cenas de uma das principais personagens da Commedia dell’Arte, o Arlequim, por um grande actor, que há décadas se dedica a representá-lo. Momento insuperável no Festival, uma vez mais visto no palco ao ar livre! Preferi vê-lo assim, em vez de o ver enfiado numa confortável cadeira do insonorizado grande auditório do CCB (que é bom, diga-se de passagem. Não é isso que está em causa).


“ONE AFTER ANOTHER”, exposição de Pedro Cabrita Reis (CCB)

Exposição retrospectiva, com trabalhos de escultura, pintura, fotografia, vídeo e instalações. Surpreende pela genialidade de muitas das propostas estéticas deste artista. Em minha opinião, brilhante!

ORATÓRIO e outros trabalhos, de Paula Rego, na Casa das Histórias (obra de arte do Arquitecto Souto Moura!)

Como sou um admirador quase incondicional da obra desta grande pintora contemporânea e portuguesa, não podia deixar de citar a sua última obra, nesta instalação. Mas, do desenho à pintura, e à instalação, de tudo se pode ver neste museu. Confesso que gosto muitas vezes mais da obra da pintora do que, tirando um ou outro dos grandes quadros do pintor, da obra de Freud. Do neto Lucian, claro! Posso rir?

SINFONIA PATÉTICA DE TCHAIKOVSKY, pela Orquestra Gulbenquian (Lawrence Foster) em Almada, no Teatro Municipal

Não vi muita coisa este ano, infelizmente (principalmente por razões económicas e por mais algumas  pessoais), no domínio dos concertos, mas entre o que vi este concerto foi inesquecível: música, orquestra, sala e público. Magnífico!

JORGE PALMA (TMA) e CARLOS TÊ (CCB) com os seus intérpretes convidados (Manuela Azevedo com os Clã, Cristina Branco, Rui Veloso)

Dois concertos excepcionais, com músicos de que gosto muito e que aqui estiveram ao seu nível mais elevado. Confesso que ouvir os Clã numa sala como o grande auditório do CCB chega a ser electrizante! Brilhante!

NO CINEMA - AS OBRAS PREFERIDAS DE 2011

BALANÇO CINÉFILO DO ANO, sobre os filmes de que mais gostei (e julgo ter visto a maioria do que considerava essencial). Dedicado aos amigos que gostam tanto como eu desta arte que nasceu no século XX.
Aviso: não faço nem pretendo fazer crítica de cinema. São apenas pequenas notas justificativas de gosto.

Três filmes documentais

O último filme de Wiseman (“Crazy Horse”) sobre o voyeurismo, é algo decepcionante quando comparado com o resto da obra deste grande documentarista. Também Jia Zhang Ke desilude com as suas “Histórias de Shangai” (será que nos chegou a versão integral ou alguma amputada?).
Mas para mim, os grandes filmes exibidos comercialmente são:

48, de Susana Sousa Dias
Brilhante como linguagem e, ao mesmo tempo, tocante homenagem aos que lutaram contra a opressão até às últimas consequências. Terrível retrato do fascismo salazarista, através dos que sofreram a prisão e a tortura nos cárceres do regime, mas que sobreviveram à ignomínia. Suponho que quase todos militantes comunistas. Através das fotos dos resistentes, tiradas pelos carcereiros, e das suas vozes, muito mais tarde, narrando em liberdade, o que sofreram. Foi um dos grandes filmes vistos no festival DOCLISBOA de 2010.
JOSÉ E PILAR, de Miguel Gonçalves Mendes
Admirável peregrinação pelos últimos anos da vida de um dos génios literários do século XX, o nosso Nobel, José Saramago. Mas acima de tudo, um olhar comovente sobre uma belíssima história de Amor. “Um Homem e uma Mulher”, seria outro dos títulos possíveis para a obra (e não tendo nada a ver, felizmente, com a lamurienta obra homónima, de Lelouch).
PINA, de Wim Wenders
Homenagem a uma fascinante mulher, bailarina, encenadora, coreógrafa, entre outras coisas mais, personagem multifacetada do século XX, que suscitou a nossa grande admiração - Pina Bausch. Só não gostámos da utilização do  3D (em geral e nesta obra  particular...). Wenders continua a oferecer-nos grandes filmes sobre personalidades do mundo das artes, que admira e que nós também, pelo menos nalguns aspectos.



As 10 longas metragens de ficção de que mais gostei

Mas gostava de citar alguns filmes portugueses estreados este ano de que gostei também muito e mais ou menos por ordem de preferência: CISNE, de Teresa Villaverde, VIAGEM A PORTUGAL, de Sérgio Tréfaut, SANGUE DO MEU SANGUE, de João Canijo e A MORTE DE CARLOS GARDEL, de Solveig Nordlund.

ANOTHER YEAR (Mais Um Ano), de Mike Leigh
Retrato social da Inglaterra actual, através de uma dúzia de personagens, admiravelmente representadas, que tentam sobreviver, social e materialmente, num ambiente medíocre. Mais uma obra, inteligente e brilhante, de um dos mestres do cinema contemporâneo. A minha longa metragem de ficção preferida de 2011!
THE IDES OF MARCH (Nos Idos de Março)
Um brilhante filme de George Clooney, num realista retrato da política nos EUA: sobre a traição e a sede de poder; sobre o trajecto político dos arrivistas que dominam os partidos burgueses que alternam o poder (lá como cá). Por isso os críticos neoliberais que temos “não gostaram” da obra, também porque assim agradam aos patrões...
TULPAN, de Serguey Dvottsevoy
Um dos mais belos filmes vistos nos últimos tempos. Sobre as intermináveis estepes do seu país (Casaquistão) e dos pastores que nelas vivem, agora que o estado social foi tragicamente substituído pelo individualismo e pela exploração, que os abandona à sua difícil condição. O nascimento duma cria do rebanho é uma cena telúrica inesquecível, digna das grandes obras-primas que o Cinema Soviético produziu, em que o Homem avultava como personagem principal, às vezes em contacto muito próximo com a Mãe Natureza.
THE TREE OF LIFE (A Árvore da Vida), de Terrence Malick
Visão sobre o Cosmos, de outro grande mestre contemporâneo, de uma enorme beleza visual. Mas a que se junta uma crítica acerada ao fundamentalismo de raiz religiosa, que causa sérios danos nas mentalidades “mais permeáveis” do seu país, os EUA.
VENUS NOIRE (Vénus Negra), de Abdellatif Kechiche
Admirável libelo contra o racismo, através de uma jovem sul-africana, que no início do século XIX é trazida para a Europa e aí sexualmente explorada. Retrato violento e sem réstias de compreensão, da burguesia em todo o seu “resplendor”. Para ver até ao último fotograma!
A PELE EM QUE EU VIVO, de Pedro Almodóvar
Mais uma extraordinária realização deste grande mestre espanhol, desta vez sob a forma de um clássico do terror, estranho e impressionante. Fascina pela inteligência do argumento, que não se pode contar para não diminuir o efeito de surpresa, muito hitchcockiano. A crítica portuguesa dominante tentou queimar o filme, como de costume por razões alheias ao Cinema...
YOU WILL MEET A TALL DARK STANGER (Vais Conhecer o Homem dos Teus Sonhos), de Woody Allen
Outra obra irónica, às vezes angustiantemente sarcástica (o envelhecimento...), sobre as taras sociais dos seus concidadãos, embora a tenha filmada em Londres. O novo riquismo, o consumismo, o individualismo estão quase sempre na sua mira. Sempre para ver com um sorriso (e às vezes uma boa gargalhada) porque Allen raramente é demasiado cáustico para transformar o sorriso de alguns num esgar.
TRUE GRID (Indomável), de Ethan e Joel Coen
Os manos Coen fazem uma incursão brilhante pelo western clássico, sempre com aquela inteligência e ironia que os caracteriza. Conseguindo desta vez um sucesso comercial.
LOONG BOONMSEE RALEUK CHAT (O Tio Boonmee), de Pichatpong Weerasethakul
De um grande cineasta tailandês contemporâneo, uma obra de arte de rara beleza e sensualidade, com as famosas cenas da princesa no banho do lago e da descida de Boonmee às entranhas da terra. E também humor, sob a forma de uma crítica à “globalização”, com o monge budista entretido a ler sms, enquanto se veste “à civil” para ir comer hamburguers...
MIDNIGHT IN PARIS (Meia Noite em Paris), de Woody Allen
Uma obra despretensiosa mas cheia de humor sobre um norte-americano que visita a sua cidade europeia preferida, Paris, onde vai “encontrar” alguns dos artistas que a povoaram e de quem gosta. Mas Allen também não perde a ocasião para desancar sem dó nem piedade naquele tipo dos seus conterrâneos que detesta (e nós também): conservadores, incultos, pedantes e snobs! E deu um pequeno papel à Carla Bruni (posso rir?), o que lhe valeu não sei quantas estrelas dos críticos mais retrógrados.



A desilusão cinéfila do ano

FILME-SOCIALISMO, de Jean-Luc Godard
Confusão em elevado grau! “Dilúvio de citações, numa confusão de ideias lançadas a granel”. Bom para “épater le bourgeois”! Posso rir?