Cultura!

Cultura!

OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

LE HAVRE


LE HAVRE, de Aki Kaurismaki

Foi um dos filmes estreados em 2012 nesta cidade onde vivo, que então não cheguei a poder ver. 

Por já conhecer alguns dos filmes deste famoso realizador finlandês (Orimattila, 4-Abr-1957), por muitos considerado um dos grandes nomes do cinema contemporâneo, opinião que partilho por já conhecer alguns das suas obras maiores, que passaram felizmente por cá, não quis deixar de o ver agora, em sessão organizada em colaboração com o ABC Cine-Clube. 

Uma vez mais utilizando o seu estilo muito próprio, com uma fotografia que me faz lembrar às vezes as grandes obras do hiper-realismo da pintura, com diálogos reduzidos ao essencial e sempre com as questões sociais contemporâneas em primeiro plano, LE HAVRE tem de novo em relação ao que conhecíamos o encantamento de uma história de gente boa que contraria o mundo desapiedado, frio, cruel, em que a exploração dos trabalhadores aumenta, em que a xenofobia cresce, em que as diferenças sociais atingem níveis nunca julgados possíveis, em que políticos venais e medíocres servem os interesses do grande capital (como os que infelizmente estão no poder no nosso país), tudo isto é a lamentável Europa do início do século XXI, que urge combater antes que rebente e volte a fazer milhões de vítimas, como por duas vezes no século XX, em 1914-1918 e 1938-1945. 

E para isso é necessário que a gente boa se una e lute, para que se criem condições para aquela gente actualmente no poder seja afastada e uma nova política surja, a caminho de uma sociedade mais justa, em que os direitos dos povos sejam respeitados e a exploração diminua e tenda para o seu fim.

Um brevíssimo relato do argumento: um escritor em dificuldades, trabalha como engraxador no Havre, a cidade portuária da Normandia, onde vive com a mulher que entretanto adoece. O engraxador encontra um jovem imigrante africano, que deveria ir para Londres, onde a família o espera e que desembarcou forçadamente naquele porto da Normandia, e por isso foge à polícia que o quer reenviar para o país de origem. O engraxador irá ajudá-lo, escondendo-o em sua casa e na dos vizinhos, numa cadeia de solidariedades, a que um inspector da polícia também se associa. E apesar dos delatores fascistas que odeiam os imigrantes e os denunciam à polícia, das rusgas e buscas policiais, o jovem, ajudado pelos seus novos amigos, consegue escapar e seguir para Londres. 

Uma belíssima obra de Aki Kaurismaki.


EM DIRECÇÃO AOS CÉUS


EM DIRECÇÃO AOS CÉUS

de Ödön von Horváth (Susak, Fiume, Império Austro-Húngaro, 8-Dez-1901 – Paris, 1-Jun-1938)

Eu ainda não tinha 6 meses quando Horváth morreu aos 36 anos. Caminhava nos Campos Elísios, em Paris, e subitamente abate-se sobre a cidade uma tempestade e uma grande árvore cai, subterrando alguns transeuntes. Um deles era o escritor, que teve morte imediata. Uma ocorrência fatal que parece saída da imaginação fértil do próprio Horváth. 

Se falo nisto é porque desconhecia os pormenores, que li nos textos da Companhia de Teatro de Almada, relativos aos espectáculos que sobem à cena. E julgo que a maioria dos meus amigos facebookianos também o desconheceria.

Horváth levou quase toda a sua vida em luta, pelo menos nas suas obras, contra as injustiças da sociedade em que viveu, acabando por assistir horrorizado à ascensão dos nazis no país que considerava seu, pelo nascimento e pela língua, a Alemanha. Mais tarde, perseguido por eles, viria a considerar-se um apátrida e assistido aos “autos de fé” que os nazis fizeram aos seus livros (e aos de muitos outros grandes autores), queimando-os na praça pública, ainda antes de começarem, numa nova inquisição, a queimar seres vivos nos fornos crematórios de Auschwitz e de mais umas dezenas de campos de concentração e extermínio na Alemanha e nos países ocupados. Horváth já não assistirá todavia a essa fase terrível da vida no seu país e em grande parte da Europa ocidental.

Esta peça, escrita em 1934, pertence já à última fase da obra do escritor, em que ele utiliza um humor, quase sempre cáustico, para apontar também os ridículos dos nazis e dos seus apoiantes e mentores, abandonando o retrato, nu e sem ilusões, de obras anteriores, como por exemplo “Fé, Esperança e Caridade”, onde Luísa Cruz era magnífica no papel de uma das heroínas de Horváth que não sobrevivem numa sociedade que o escritor descreve com muito pessimismo. Peça que havíamos visto representada num excelente tele-filme e agora fomos rever, realizado no início dos anos 90, pela RTP, ainda a Televisão Pública não havia descido aos níveis inacreditavelmente baixos do ponto de vista cultural, como aqueles a que assistimos agora, retrato aliás do estado do país a que chegámos e dos seus desgovernantes, os tais “cratinos”, arrivistas e medíocres sem remédio, que urge erradicar. 

A encenação de Rodrigo Francisco, para a Companhia de Teatro de Almada, com a magnífica colaboração de toda a companhia, onde para além do trabalho dos actores é justo destacar a cenografia de Jean-Guy Lecat, agradou-nos muito, por sublinhar, julgo que muito bem, as intenções do autor. 

Imaginando um S.Pedro (André Gomes) e um Diabo (Luís Vicente) cujas semelhanças são muitas. Levando-nos a crer que, no “céu” ou no “inferno”, seriam facilmente alternativa um do outro. Embora o inferno represente para Horváth a Alemanha dos nazis, os seus guardiões do céu talvez representem a complacência com que os políticos burgueses assistiram à ascensão de Hitler, apadrinhado pelo grande capital germânico. 

Horváth já não chegou a assistir, embora o receasse, no que tudo isto veio a desembocar: uma guerra mundial e muitos milhões de mortos.

Mas ao contrário de peças anteriores, nesta há ainda uma esperança para Horváth, ao juntar, na Terra, finalmente um par feliz, a cantora (Ana Cris) que, a partir de certa altura, recusa vender-se e o aparentemente desajeitado assistente de realização (Duarte Guimarães) , que tinha sido recambiado para a Terra, por S.Pedro achar que não tinha lugar no céu, mesmo depois duma passagem pelo purgatório.



sexta-feira, 22 de novembro de 2013

LA VÉNUS À LA FORRURE (Vénus de Vison)


LA VÉNUS À LA FOURURE (Vénus de Vision)

Polanski regressa com mais um grande filme. Embora este cineasta não chegue a ser verdeiramente um mal amado para a crítica de cinema dominante que infelizmente temos (escapa por exemplo o “O PIANISTA”, THE PIANIST... até o PR que temos disse que gostou... mas houve quem começasse por dizer mal. Posso rir?) , mas uma vez mais as reticências que a sua obra provoca são mais que muitas. 

Agora, provavelmente, por causa do seu humor muito irónico e quase cínico, que bule com uma certa mentalidade muito conservadora que extravasa das páginas de cinema dos jornais dominantes. Relembremos como foi desprezado o seu recente e extraordinário “THE GHOST WRITER” (O Escritor Fantasma), espécie de ajustes de contas com CIA e FBI, que metia a ridículo o colaborador deles, Blair. Polanski era na altura, de novo, ferozmente perseguido pela justiça norte-americana, como aliás nunca deixou de o ser, a pretexto de “atentados à moral”, nos tempos em que por lá viveu. Dá vontade de rir num país onde se pode fazer tudo e mais alguma coisa desde que se tenha poder e dinheiro...

Polanski tem afirmado que sempre desejou fazer um filme apenas com um par de actores, uma mulher e um homem, num cenário único. 

Finalmente conseguiu-o e de uma maneira brilhante, encerrando-nos, a nós seus espectadores, durante 96’ numa sala escura onde vemos um velho palco de teatro, a caminho da decrepitude, no qual dois actores (a bela Emmanuelle Seigner, companheira de Polanski na vida real, como Vanda e Mathieu Amalric, grande actor do cinema francês, no papel de Thomas), se degladiam, numa luta de sexos, com uma certa dose da perversão que a burguesia tanto aprecia mas que, é bem de ver, quase sempre apenas sugerida. 

A referência são os textos do austríaco Leopold von Sacher-Masoch (1895-1936), um dos teorizadores do sado-masoquismo (Sade e Masoch) e a peça que sobre esses textos escreveu o autor do argumento do filme, a partir de peça própria, aliás de grande sucesso de público nos palcos nova-iorquinos, provavelmente pelas razões atrás expostas, o norte-americano David Ives. Notar que quase todos os principais participantes na obra são de ascendência polaca e velhos conhecidos - Polanski, Amalric, Ives.

Polanski não esconde nas entrevistas, que se serviu das técnicas digitais para muitos dos efeitos do filme, mas isso passa despercebido a um espectador comum, como eu... E o cineasta também não se importa de multiplicar os planos para conseguir uma obra que prenda irresistivelmente o espectador, até pela inteligência da realização.

Houve quem falasse em “huis-clos”, espaço fechado, a propósito deste filme e isso é até certo ponto verdade, citando-se até outras obras do realizador, como “CUL-DE-SAC” (O BECO), de 1966, e uma das suas maiores obras primas, em minha opinião, que é “A NOITE DA VINGANÇA” (Death and the Maiden), de 1994. 

O que não consigo aceitar é o que li numa revista de cinema (aliás a melhor que conheço na actualidade, apesar do seu, às vezes, conservadorismo, que nos espanta, principalmente quando abordam o social ou o político) comparando a personagem feminina da “VÉNUS DE VISON”, Vanda (Emmanuelle Seigner), com a de “A NOITE DA VINGANÇA”, Paulina Escobar (Sigourney Weaver). Relembremos que este filme se baseava numa peça de alguém que colaborou com o governo de Unidade Popular de Salvador Allende, Ariel Dorfman, que consegue escapar aos torcionários fascistas e se exila como tantos artistas chilenos, enquanto muitos outros, mais perto de Allende, são assassinados pelos apoiantes de Pinochet (como o famoso e inesquecível cantor, Vitor Jara). 

Sem me querer afastar do assunto relembro só que na obra de Dorfman, a principal personagem feminina, que era uma ex-vítima dos torcionários fascistas do regime de Pinochet, reconhece, por mero acaso, em alguém a quem presta auxílio em sua casa, numa noite tempestuosa, um antigo carrasco das polícias de Pinochet, que a havia brutalmente torturado. Mas ela hesita em vingar-se, acabando por desistir, não procedendo portanto como o tinha feito o seu torturador. 

A cena final dessa obra, que não mais saiu do nosso imaginário cinéfilo, mostra vítima e carrasco, numa mesma sala de concertos, anos depois, anónimos espectadores entre a assistência, como se nos quisesse avisar – “cuidado, que eles andam por aí... e se tornarem a ter poder voltarão a proceder da mesma forma”, numa nota inquietante que o realizador gosta de deixar suspensa.

Em “VÉNUS DE VISON”, é a mulher que sai (uma vez mais?) vencedora do confronto de sexos, o que leva um critico a dizer que o final é ridículo (posso rir?). Polanski diverte-se com coisas mais ou menos sérias, e diverte-nos a nós também. nesta obra não em "A DONZELA E A MORTE" (A noite da vingança). 

E, por favor, depois, quando o filme acabar e o genérico começar a ser projectado, não saiam dos vossos lugares antes que o projector seja definitivamente desligado e o ecrã fique completamente escuro, porque vão assistir a um desfile final, inesperado e fascinante de obras-primas, que não vou revelar... 

A música, de Alexandre Desplat, é magnífica.


quinta-feira, 21 de novembro de 2013

ROCCO E SEUS IRMÃOS

ROCCO I SUOI FRATELLI (Rocco e Seus Irmãos)

Revisto num ciclo, “EUROPA”, organizado pelo ABC CINE-CLUBE, o decano dos cine-clubes lisboetas, o único dos grandes que conseguiu sobreviver até hoje, felizmente.

Uma das obras-primas absolutas de um Mestre. Luchino Visconti (Milão, 2-Nov-1906 – Roma, 17-Mar-1976), encenador de teatro e de ópera e realizador de cinema. Este filme é ainda da sua brilhante fase neo-realista. Depois viriam outras grandes obras, operáticas, ou não fosse ele também um grande encenador de ópera, como SENSO (Sentimento) e IL GATTOPARDO (O Leopardo), inesquecíveis.

É a história de 5 irmãos – Vicenzo, Simone, Rocco, Ciro e Luca, que emigram do Sul (Sicília), pobre, miserável para muitos, para a grande urbe industrial, do Norte, Milão. Acompanham a mãe, a quem a morte recente do marido torna a vida ainda mais difícil. Vão ao encontro do filho mais velho, Vicenzo, que já vive em Milão, com uma carreira breve e frustrada de boxeur.

Depois é a saga do desenraizamento, da busca desesperada de trabalho, precário e difícil, da luta para sobreviver dos imigrantes numa grande cidade, desumana para os que vivem nas margens e são a maioria.

Visconti, num admirável fresco sobre a quase sempre difícil condição humana, mostra-nos os dois extremos a que se guindam ou em que caiem os homens, fruto principalmente das condições de vida, mas também do seu carácter.

É um retrato no masculino, dos cinco irmãos, na sua luta pela sobrevivência mas em que alguns deles (Rocco e os mais novos) procuram manter a integridade da sua família, os Parondi, num meio hostil. Aliás a obra divide-se em 5 capítulos, um para cada um deles.

A acção passa-se nos anos 50 (o filme estreou-se em 1960), quando o boxe, a “nobre arte”, como então lhe chamavam, se torna motivo das paixões populares, mas também do pior, dos oportunistas, empresários em geral, que se movimentam por trás dele (como no grande circo do futebol de alta competição da actualidade), da corrupção e da exploração, num desporto em que a vida humana corre riscos se não for protegida por regras que contenham a violência.

É um retrato no masculino, mas as mulheres não estão ausentes, em figuras admiráveis.

A matriarca da família Parondi, Rosária, numa interpretação brilhante da grande actriz grega, oscarizada aliás noutra obra, Katina Paxinou (Pireu, Atenas, 17-Dez-1900 – 22-Fev-1973), que alguns consideram ser excessiva, num “over-acting” como se diz em inglês. Julgo todavia que se esquecem que era assim que se comportavam os que conseguiam escapar ao modelo social da “boa educação”, quando deixavam os nervos à solta. O que ainda hoje podemos ver, principalmente nas comunidades que entre nós vivem situações semelhantes de desenraizamento social, quase sempre vítimas aliás de segregação social, exploração e ignóbil racismo – nomeadamente os ciganos e os imigrantes africanos pobres.

E Nadia, personagem desempenhada pela bela e grande actriz Annie Girardot (Paris, 25-Out-1931 – 28-Fev-2011), a jovem que cai na prostituição e tem uma relação fatal com Simone mas se apaixona por Rocco (Alain Delon), num hiato de lirismo, num filme trágico e de intenso dramatismo.

E não esqueçamos Claudia Cardinale, na companheira de Vicenzo, o mais velho dos irmãos, actriz que viria a ser, anos mais tarde a protagonista de outra obra-prima de Visconti, O LEOPARDO, numa das suas mais brilhantes interpretações (lembrar o baile e o jantar no palácio).

História trágica e realista dos dramas da emigração, que também passou por nós e está a voltar também para os europeus neste início do século XXI, perante o retrocesso civilizacional a que o estado actual da Luta de Classes conduziu grande parte do mundo, com o regresso ao poder, nomeadamente neste continente, a Europa, do grande capital e da exploração. 

Obra-prima de Luchino Visconti, um comunista por opção de classe, já que era por nascimento um aristocrata. Obra-prima sob quaisquer dos aspectos pelos quais a analizemos – a fotografia a preto-branco de Giuseppe Rotunno, um dos grandes directores italianos de fotografia, a música de Nino Rota, outro nome grande.

Não percam quando puderem, isto é, se alguma vez estiver em exibição perto (ou em DVD, mas isso não é mesma coisa...) e não se assustem com a longa duração da obra, mais de 3 horas na versão original, porque o tempo passa num ápice, tal a intensidade das emoções que Visconti nos transmite magistralmente e nos conduzem inevitavelmente à vida que prossegue fora da sala escura e nos chama para a luta quotidiana. Emoções que nos tocam, a todos julgo, profundamente. E não é um filme pessimista, bem pelo contrário: é nos irmãos mais novos (Ciro, o operário, Luca, ainda uma criança mas já com uma grande aprendizagem da vida e mesmo Rocco, apesar de todo o seu idealismo e sacrifício) que fica a esperança de transformação da vida e também da sociedade, num final da obra comovente.


Ciro


Rocco e Nadia

terça-feira, 19 de novembro de 2013

BALANÇO CINÉFILO 2013 (provisório)

A minha primeira tentativa para fazer um balanço do que gostei mais no grande ecrã de cinema (mas ainda falta mais de um mês para o fecho do ano)

OS 10 MAIS (ordem alfabética...)

Até Amanhã. Camaradas, de Joaquim Leitão
Blue Jasmine, de Woody Allen
O Capital, de Costa-Gravas
Django Libertado, de Quentin Tarantino
A Essência do Amor (To the Wonder), Terrence Malick
Eu e Tu, de Bernardo Bertolucci
Like Someone in Love, de Abbas Kiarostami
Não, de Pablo Larrain
O Profundo Mar Azul, de Terence Davies
Vénus de Vison, de Roman Polanski

OS DOCUMENTÁRIOS PREFERIDOS

A Mãe e o Mar, de Gonçalo Tocha
A Última Encenação de Joaquim Benite - Não basta dizer "Não", de Catarina Neves

UMA SURPRESA
Frances Ha, de Noah Baumbach

UMA DESILUSÃO
Antes da meia-noite, de Richard Linklater

UMA (RE)VISÃO MAGNÍFICA
Tio Vânia, de Andrei Mikhalkov-Konchalovsky

UMA REFERÊNCIA FINAL

A um filme relativamente modesto, sem pretensões cinéfilas, mas cuja visão nos deu prazer por ter a ver connosco: A GAIOLA DOURADA, de Ruben Alves





CINEMA PARAÍSO



CINEMA PARAÍSO, a obra prima de Giuseppe Tornatore, ao vivo
Na Covilhã, numa organização da JCP

ATÉ AMANHÃ, CAMARADAS

Fui ver (e gostei muito!) a recente versão para cinema da adaptação para a TV, de 2005, realizada pelo cineasta Joaquim Leitão (Lisboa, 21-Dez-1956), com argumento de outro cineasta, Luís Filipe Rocha (Lisboa, 16-Nov-1947), de “ATÉ AMANHÃ, CAMARADAS”, obra maior, em minha opinião, da literatura portuguesa, por retratar, julgo que como nenhuma outra, a luta da Resistência Clandestina contra o fascismo. É em 1944 que se situa a acção do romance de Manuel Tiago, pseudónimo literário de Álvaro Cunhal (Coimbra, 10-Nov-1913 – Lisboa, 13-Jun-2005).

A propósito, devo dizer, numa opinião muito pessoal, que a Literatura tem para mim uma significativa vantagem sobre o Cinema, do ponto de vista da liberdade de interpretação pelo leitor/espectador. Será por isso que as adaptações ao cinema das grandes obras literárias raramente conseguem atingir o mesmo nível de qualidade. Ressalvem-se algumas excepções, como Kubrick / Nabukov, em “Lolita” ou Oliveira / Agustina, em “Vale Abraão”. Não se espere por isso que uma obra de inegável qualidade como é este filme de Joaquim Leitão consiga guindar-se ao nível da obra-prima que é o romance. Mas julgo que se trata de um belíssima obra de cinema, com uma notabílissima direcção de actores, de que não vou destacar nomes porque me parece haver uma grande sintonia entre eles e a obra que representaram e dá a sensação de terem feito o seu melhor e são todos muito bons! Obra que julgo nos consegue apesar de tudo dar o essencial daqueles retratos humanos que o romance nos oferece em toda a sua complexidade.

Para o espectador, a imagem que fica da obra, apesar da luta sem tréguas travada contra o fascismo, pelos militantes clandestinos do Partido Comunista Português, ilegal para o regime, luta que se salda por vezes por uma enorme repressão, sangrenta, impiedosa e desumana, contra quem não utiliza a violência e apenas encabeça as lutas pelas reivindicações de melhorias de vida e conquista de direitos inerentes à condição humana, a obra constitui um grito de esperança e não nos esqueçamos que se desenrola quando ainda a Segunda Guerra Mundial decorria (1938-1945), de esperança na medida em que os fascistas, mesmo prendendo, torturando, assassinando os resistentes mais destacados, nunca conseguem calar a revolta do povo, e novos elementos revolucionários surgem para substituir os presos e os assassinados pelos fascistas. Esta luta só iria terminar em 1974, com a vitória da Resistência e a eclosão da Revolução de Abril. E o filme também mostra, muito bem, que raramente há desumanidade entre os oprimidos, porque são superiores os seus objectivos, de transformação da sociedade, no sentido da justiça social, da liberdade, da igualdade e da fraternidade entre os homens.

Peço aos amigos que não deixem de ver a obra, embora ela esteja restringida a duas únicas sessões diárias, em salas diferentes, nesta grande urbe de um milhão de habitantes onde vivemos onde proliferam os cinemas “multiplex”, mas em geral com programações muito medíocres. Porquê?

Gostava de terminar com o parágrafo final de um belo prefácio sobre o romance “ATÉ AMANHÃ, CAMARADAS”, escrito por um dos maiores especialistas portugueses em Literatura, o professor universitário Óscar Lopes (Leça da Palmeira, 2-Out-1917 – Matosinhos, 22-Mar-2013):

“(...) Evidenciam-nos que a vida é inesgotável; repetindo Guimarães Rosa, diria que a lição do livro é a de que viver (ou Viver, com maíscula) é perigoso. Sentem-no aqueles que inteiramente se comprometem a melhorá-la. E eles até mesmo nos ajudam a sentir que muito existe ainda sem nome, à espera de coragem, pois de coragem é, em grande parte, feita a capacidade de entender, de sentir a fundo, e de acertar.”




Nota: 

Este texto foi escrito a pensar no Facebook e em quem nos lê e também nos Amigos que por lá se encontram, que sabemos que arriscaram a sua vida para melhorar a de todos nós. Tenho uma enorme admiração por eles. Afinal são eles os heróis da obra “ATÉ AMANHÃ, CAMARADAS”.

(publicado no facebook)







domingo, 10 de novembro de 2013

NA SEMANA CULTURAL DE 2013, DO INTERVALO GRUPO DE TEATRO

Na Semana Cultural de 2012 assisti praticamente a tudo. Este ano, infelizmente, apenas pude estar presente na última sessão, até porque teria um desgosto se não tivesse lá estado pelo menos uma vez.
Não foi no Auditório Lourdes Norberto, Linda-a-Velha, onde é a casa habitual do Intervalo Grupo de Teatro, mas no Auditório Ruy de Carvalho, no Centro Cívico de Carnaxide. 
Foi a homenagem do Intervalo a Álvaro Cunhal (Coimbra, 10-Nov-1913 - Lisboa, 13-Jan-2005), no ano do centenário do seu nascimento, que se tem vindo a comemorar desde o início do ano (e vai continuar), em geral por iniciativa do seu partido, o Partido Comunista Português.
Mas desta vez foi um grupo de teatro, de que tanto gostamos, que resolveu incluir também uma homenagem, na sua Semana Cultural, que se realiza há cerca de 30 anos, julgo que sem interrupção e por onde têm passado grandes figuras da nossa Cultura.
Aliás Armando Caldas, o director e encenador principal do grupo, contou nesta sessão como convidou Álvaro Cunhal para participar (que logo aceitou), juntamente com os dirigentes dos principais partidos portugueses, numa sessão comemorativa do 25º Aniversário do Intervalo (fez este ano 43, salvo erro) e como ela acabou por não se poder realizar por ausência dos outros convidados, que aliás haviam anuído previamente...
Mas, voltando à sessão de anteontem, a que assistimos, queremos dizer que gostámos muito.
É que Armando Caldas, com a sua inteligência e sensibilidade, organizou uma sessão que primou pela sobriedade, mas de uma qualidade superior.
Onde a habitual intervenção sobre o homenageado da noite, desta vez, em homenagem infelizmente póstuma, foi entregue a José Barata Moura, filósofo e intelectual multi-facetado, que vai desde a cátedra universitária (passando também pela responsabilidade durante alguns anos da Reitoria da Universidade), à obra escrita, em que avulta a tradução e estudo de Marx e Lenin, até à música, como autor e cantor, com especial relevo para os seus trabalhos para a infância. 
Escusado será dizer que a intervenção foi brilhante, combatendo preconceitos sobre o homenageado, sobre o seu pretenso dogmatismo, mostrando, até com citações de Álvaro Cunhal, como ele analisou a situação política do país e não só, com incursões históricas também, à luz do Marxismo, que continua a revelar toda a sua superioridade como teoria de análise da realidade. E referiu também a componente artística de Álvaro Cunhal, os seus trabalhos, brilhantes, nos campos da literatura, pintura e desenho e, o que nos toca profundamente, referindo uma vez mais a sua ausência de dogmatismo também relativamente à Arte, no seu trabalho "A Arte, o Artista e a Sociedade".
O momento de música que completa estas homenagens não podia ficar melhor entregue! Foi o Coro Lopes-Graça, da Academia de Amadores de Música, dirigido pelo maestro José Robert, com as Canções Heróicas, que foram proibidas durante o fascismo salazarista, e escritas por alguns dos grandes poetas portugueses. 
Foi por vezes emocionante e até comovente, com o grande final, à capella, de "ISTO VAI, MEUS AMIGOS ISTO VAI", de Ary dos Santos e "ACORDAI", de José Gomes Ferreira. A genial música de Fernando Lopes Graça, foi tocada, magnificamente, pelo pianista Fausto Neves. 
Tenho pena de não ter levado a maquineta no bolso para registar esses momentos finais (embora sem som), com a fotografia do homenageado em fundo e os artistas em palco e o público de pé, aplaudindo longamente!

Fica aí o programa que ouvimos, embora o alinhamento fosse ligeiramente diferente:

Oito canções heróicas para Coro e piano – música de Fernando Lopes-Graça

1. Gafanhoto caracol (poesia de Mário Dionísio)
2. Canção campista (poesia de José Gomes Ferreira)
3. Canção do camponês (poesia de Arquimedes da Silva Santos)
4. Mãe pobre (poesia de Carlos de Oliveira)
5. Ó pastor que choras (poesia de José Gomes Ferreira)
6. As papoilas (poesia de José Gomes Ferreira)
7. Ronda (poesia de João José Cochofel)
8. Quando a alegria for de todos (poesia de André Varga)

II parte

Oito canções heróicas para Coro e piano – música de Fernando Lopes-Graça

1. Canto do Livre (poesia de Soares de Passos)
2. Cantemos o novo dia (poesia de Luísa Irene)
3. Exaltação (poesia de Miguel Torga)
4. Canto de esperança (poesia de Mário Dionísio)
5. Canção de maio (poesia de Joaquim Namorado)
6. Combate (poesia de Joaquim Namorado)
7. Canto de Paz (poesia de Carlos de Oliveira)
8. Jornada (poesia de José Gomes Ferreira)

Duas canções heróicas (à Capella) – música Fernando Lopes-Graça

1. Isto vai, meu amigos isto vai (poesia de Ary dos Santos)
2. Acordai (poesia de José Gomes Ferreira)

Piano - Fausto Neves.
Direcção - Maestro José Robert.


Obs: Retirei a foto publicada do mural do Intervalo Grupo de Teatro, com os meus agradecimentos


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A ÚLTIMA ENCENAÇÃO DE JOAQUIM BENITE - Não basta dizer "Não"

PEQUENAS NOTAS DE UM MERO ESPECTADOR DE TEATRO (E CINEMA)

Sobre “A ÚLTIMA ENCENAÇÃO DE JOAQUIM BENITE – NÃO BASTA DIZER NÃO”, de CATARINA NEVES

Já tinha pensado dizer aos amigos alguma coisa sobre o filme /documentário da Catarina Neves, que revi no S.Jorge, integrado no XIIº DOCLISBOA. Já o tinha visto durante o último FESTIVAL DE TEATRO DE ALMADA e gostei tanto que me apressei então a recomendar aos amigos, como o voltei a fazer agora, assim que soube que ia ser exibido neste incontornável festival de cinema documental.

Entretanto esta obra ganhou o PRÉMIO DO PÚBLICO do DOCLISBOA. Tinha confidenciado, a quem me acompanhava, que esta obra mereceria as honras de Sessão de Encerramento. Compreendo que talvez não tivesse acontecido dada a presença do cineasta iraniano Mohammed Rasoulof, que o DOCLISBOA queria homenagear de uma maneira especial.

Alinhavei meia dúzia de notas, que gostava de transmitir aos meus amigos.

Primeiro lembrando uma frase que subscrevo, ouvida a um espectador, no final do pequeno debate que se seguiu à projecção, de que “é uma obra que ficará para a História do Teatro em Portugal”. 

O filme não é um elogio fúnebre e ainda bem. É um testemunho sobre uma vida dedicada à Arte, ao Teatro em particular, que serve de exemplo para os que chegam porque mostra os métodos de trabalho e as opiniões de um grande homem de teatro, que tem uma obra, em que, pelo menos eu, não encontro dissonâncias. Fez sempre o tipo de teatro de que mais gostamos e que, pessoalmente, achamos mais importante, sem cedências de qualquer espécie ao populismo ou ao mau gosto, atingindo não poucas vezes níveis elevadíssimos de qualidade artística. De acordo aliás com as ideias que tinha e defendia para a sociedade, de acordo com a sua militância comunista, sempre sem preconceitos nem dogmatismos.

O filme ilustra o que foi o trabalho de Joaquim Benite e da equipa que o rodeava ( e que felizmente continua) e conseguiu fazê-lo de uma maneira tão admirável que não se esgota numa única visão. Quando saí da sessão confesso que não me importaria de o voltar a rever logo a seguir (e já seria a terceira visão...).

A Catarina Neves disse no final da projecção que a sua ideia inicial, aliás com o acordo do Joaquim Benite, seria o de fazer com ele uma longa entrevista. Se por um lado temos pena que não tivesse podido também fazê-lo, por outro o filme que fez é uma obra rara sobre o trabalho teatral, de grande autenticidade, mas sempre feita com grande respeito pelos intervenientes, conseguindo, sem grandes alardes ou palavras, dar-nos um retrato do Homem, de quem até as crianças, os seus três netos, nos dão, e muito bem, o seu testemunho.

Lembrei-me, no final da projecção, da frase de Álvaro Cunhal, “A deificação dos mortos é uma desencorajadora subestimação do papel dos vivos”, citada por José Barata-Moura, na intervenção que fez há dias na homenagem a Álvaro Cunhal, no Intervalo Grupo de Teatro. E lembrei-me porque o belíssimo filme de Catarina Neves é antes, em minha opinião, uma ponte para o futuro. Uma transmissão do trabalho de alguém que se distinguiu, que muitos admirávamos como artista e como cidadão. E esse é para mim um dos aspectos mais admiráveis deste filme/documentário. 

Gostaria de continuar porque haveria muito mais a dizer mas agora vou ficar por aqui, apenas com uma recomendação aos meus amigos (e não só...):

Não percam quando puderem!


Foto feita por mim na homenagem a Joaquim Benite, realizada em 2013 na Festa do Avante!

HANNAH ARENDT

HANNAH ARENDT é uma obra sobre um episódio da vida dessa filósofa alemã, que a perseguição aos judeus na Alemanha nazi fez emigrar a tempo (1933) para os Estados Unidos da América, escapando assim aos anos terríveis que se aproximavam e que deram origem a um dos mais tenebrosos períodos de perseguição e crime da História da Humanidade, o Holocausto, espécie de Inquisição do Século XX, onde não só os judeus (e membros de outras comunidades consideradas inferiores pelos ideólogos nazis), pereceram aos milhões, mas também todos os que não se submeteram à ideologia nazi, a começar pelos comunistas.

Como se trata de uma pequena nota escrita directamente no facebook não tenho tempo para explanar com profundidade as razões porque o filme me desiludiu, com a sua "defesa" (justificação?) de Arendt. Digamos que exige um certo conhecimento histórico para situar a personagem e a controvérsia à volta de dois temas - a "sua" banalidade do mal e a responsabilidade dos líderes judeus (segundo Arendt) na dimensão do Holocausto. 

Para os que conhecem minimamente a vida e obra da filósofa sabem da sua perigosa tendência para envolver carrascos e vítimas no mesmo saco, ou exploradores e explorados, opressores e oprimidos, o que vem a dar no mesmo. 

A sua paixão e relacionamento amoroso com o seu professor e também filósofo, Martin Heidegger, que viria a aderir ao nazismo, não será afinal tão contraditória como alguns pretendem. As outras personagens que aparecem no filme estão apenas esboçadas, como a sua amiga Mary McCarthy, escritora e personagem de trajecto muito controverso, que na obra de Von Trotta aparece a dizer mal de Ernest Hemigway, o grande escritor norte-americano. Porque fez o que a maioria dos intelectuais não é capaz? Ser coerente e se ter alistado nas Brigadas Internacionais que na martirizada Espanha do final dos anos 30 lutaram contra as hordas fascistas de Franco, as quais apoiadas pelos nazis e Salazar, acabariam por derrotar a novel e progressista República Espanhola e tomar o poder sobre os corpos de milhares de vítimas.

Este filme de Margarethe Von Trotta passa-se durante o julgamento de um responsável nazi, Adolf Eichmann, pelo envio de milhares de pessoas para os campos de extermínio, o qual os serviços secretos israelitas, Mossad, raptaram na Argentina (1960) e levaram para Israel a fim de de ser julgado. O que veio a acontecer, terminando o julgamento com a condenação, desse criminoso nazi , à morte por enforcamento (1962). 

2- Hannah Arendt, à época jornalista em Nova Iorque, EUA, da revista The New Yorker, seria enviada em trabalho para cobrir o julgamento. Foram as suas crónicas, publicadas nessa revista, que provocaram à época enorme polémica, nomeadamente por aqueles que viram nelas uma justificação daquele alto responsável nazi, que alegou em sua defesa apenas ter cumprido o seu dever, isto é ordens, como se fosse um simples soldado raso (e mesmo assim não se livraria da questão moral)...

Apesar das limitações da obra, que retrata Hannah Arendt como alguém que faz face à opinião pública e não desiste dos seus intentos (viria mesmo a publicar um livro defendendo as suas teses), mas faltando-lhe, em minha opinião retratar melhor os meandros do seu pensamento e o das personalidades que a rodearam, dispensando as cenas laudatórias (conferência na universidade) sem o que, os menos avisados, poderão concluir que teria razão, apesar dessas limitações a obra justificará sempre uma visão. 


Foto feita por mim na Festa do Avante! de 2005

A MÃE E O MAR

Pequenas notas sobre dois filmes, ambos que tem como principais personagens, mulheres. 

Em primeiro lugar a obra documental de longa metragem (83'), A MÃE E O MAR, do jovem realizador de cinema, o português GONÇALO TOCHA, magnífica vencedora da competição nacional do DOCLISBOA deste ano. 

1- A MÃE E O MAR é um documentário sobre as pescadeiras de Vila Chã, a aldeia piscatória perto da Póvoa do Varzim. segundo dizem caso quase único (ou mesmo único) de uma terra no nosso País, onde houve (e ainda há) mulheres que se dedicam à pesca e várias com carta de arrais, o que significa que dirigem as respectivas embarcações, com tripulações maioritariamente constituídas por homens.

Gonçalo Tocha conseguiu realizar uma obra que nos prende do primeiro ao último minuto, mesmo nas cenas que parecem arrastar-se mas que nos dão a dimensão do trabalho, violento e às vezes muito perigoso, daquelas mulheres. E prende-nos pela sua autenticidade, pela maneira magnífica como filmou os diálogos com e entre aquela gente para quem o Mar é quase tudo. Nunca escondendo aliás a presença das câmaras, lembrando-nos sempre que se trata de um documento, o mais real possível tendo em conta a subjectividade da visão do autor, inerente a todas e quaisquer imagens, mesmo quando se fixa a câmara... 

Uma obra a não perder, quando for exibida, como espero, comercialmente ou se não o for (dada a lamentável distribuição que em geral temos) que a vejamos em outros festivais ou na Festa do Avante, onde julgo que não falhará dada a sua grande qualidade.