Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

quarta-feira, 30 de julho de 2014

URBANO TAVARES RODRIGUES - EXPOSIÇÃO


Uma dúzia de retratos de um fim de vida sereno, depois de um trajecto difícil e admirável. Feitos por um grande fotógrafo, Alfredo Cunha. Um belíssimo poema (ver imagem). Algumas das suas obras, pertencentes ao acervo da biblioteca municipal do Seixal, no respectivo Fórum Cultural. Entre elas um título de que um dia, na Feira do Livro de Lisboa, ultrapassei a minha habitual reserva e pedi um autógrafo ao Urbano. Disse-me, e julgo que não foi para ser simpático, que era uma das suas obras de que mais gostava. Foi para mim uma grande e inesquecível satisfação. 
A exposição esteve patente no Fórum de Exposições Augusto Cabrita (outro grande fotógrafo!). É uma homenagem simples mas tocante a um grande escritor, entre os nossos maiores, mas também ao cidadão exemplar, pelo seu envolvimento cívico, e político, desde os tempos terrivelmente sombrios e perigosos do fascismo, em que ousou sempre dizer o que pensava e dizer NÃO, o que lhe valeu perseguições, espancamentos, ostracismos, exílio e prisões. Nunca desistiu. Era comunista.



EDUARDO GAGEIRO - EXPOSIÇÃO




Não é certamente por acaso que fez das mais belas, ou talvez mesmo as mais belas fotografias sobre o 25 de Abril, a Revolução e algumas das suas grandes figuras.
Fê--lo porque não teve medo e apareceu com a sua câmara quando nada ainda estava decidido.
Da sua obra, entre os vários álbuns que a compõem, há dois que são os meus preferidos. São sobre a minha cidade, Lisboa, e são belos e comoventes.
A exposição esteve patente no Fórum Municipal Romeu Correia (grande escritor!), em Almada e são 40 fotografias mais ou menos ligadas ao 25 de Abril ou à luta que a ele conduziu e às condições de vida, duras e difíceis, do Povo Português, que a Revolução, enquanto durou, combateu e ultrapassou em muitos casos.
Tenciono não falhar a visita à sua retrospectiva, na antiga Fábrica de Loiça de Sacavém, onde aliás ele começou. Julgo que até ao fim do ano. E se possível numa visita guiada pelo autor!



Violência nas ruas durante o fascismo


Retirando os retratos dos fascistas no dia em que o Movimento das Forças Armadas (MFA) ocupou a sede da PIDE/DGS


Álbuns de Eduardo Gageiro






5 MULHERES À VOLTA DE UTAMARO



NOTA CINÉFILA

Uma pintura que julgo não efémera entrevista num pé feminino (não será um pouco estúpido fazê-lo sem possibilidade de mudança?) fez-me lembrar um grande filme de um mestre da arte das imagens, Kenji Mizoguchi, aliás obra pouco conhecida, sobre um grande pintor japonês, do século XVIII, Utamaro (1753-1806). O filme chama-se "5 MULHERES À VOLTA DE UTAMARO" (de 1946) e ficou a vontade de o rever.




CAIS OESTE, de Bernard-Marie Koltés


NO FESTIVAL DE ALMADA, UMA ESTREIA: 

CAIS OESTE, pela Companhia de Teatro de Almada, com encenação de Ivica Buljan (Sinj, Croácia, Jugoslávia, 1965)

Um cenário muito realista, de um armazém abandonado, sujo e juncado de destroços. Humanos também, sabe-lo-emos depois. Já nem água há por ali, porque alguém a mandou cortar. Uma música repetitiva, obsessiva, incomodativa. 
Eis o espaço e o tempo para o terrível texto (de 1985) de Bernard-Marie Koltés (Metz, 9-Abr-1948 – 15-abr-1989), com o seu pessimismo habitual, onde o desespero sem saída faz surgir o pior da natureza humana, que copia os cânones da sociedade de exploração e racismo, miserável nos princípios, que os afasta para as margens antes de os eliminar. Onde nem uns laivos de amor, de amor físico, conseguem resgatá-los e aproximá-los da condição humana a que tinham direito. 

Difícil de ver, difícil de suportar. Há quem na plateia não aguente e saia.



Apesar de alguns momentos excepcionais, difíceis de esquecer, e de algumas interpretações brilhantes (Teresa Gafeira é uma delas, como sempre, admirável na cena final, quando rola no palco até cair exangue) há a sensação de que o texto poderia ter sido melhor servido: por alguns actores, que falham na dicção, talvez no ritmo, demasiado frenético, tornando o texto quase inintelígivel (pelo menos para mim), e por algumas cenas menos conseguidas. Pelo menos foi o que senti. E é pena, porque prometia muito. 

Esperemos que mais algumas semanas de ensaios permitam limar arestas. Aguardemos por isso por meados de Outubro, aquando da exibição normal desta peça nesta mesma sala. Gostaríamos muito que a CTA mantivesse o seu habitual elevado nível de qualidade nos espectáculos que apresenta. Há vários anos que a acompanhamos quase sem falhas e consideramos admirável o seu repertório e o que dele tem feito. 

Neste caso particular convém salientar que para quem se lembra de “Na Solidão dos Campos de Algodão” (de 1986), no antigo Teatro Aberto, na Praça de Espanha, com Mário Viegas e João Perry no melhor que deles conheço, a expectativa era muito alta!...




terça-feira, 29 de julho de 2014

PEQUENAS NOTAS SOBRE 31º FESTIVAL DE ALMADA



NOTAS DE UM ESPECTADOR COMUM SOBRE A 31ª EDIÇÃO DO FESTIVAL DE ALMADA



Apesar de não ter podido estar tão presente como desejaria, e para isso seria necessário mudar-me durante 15 dias para Almada (o que não me importaria nada, devo dizê-lo. Talvez para o ano tal venha a ser finalmente possível), não quis deixar de referir este incontornável Festival em que o Teatro ocupa o primeiro lugar e que tem uma posição de relevo entre os grandes festivais de teatro por esse mundo fora.



Não obstante toda a controvérsia que sempre surge sobre este ou aquele espectáculo, porque festival tem que ser assim mesmo, entre o brilhante e o menos conseguido, dependendo também do gosto e da preparação dos espectadores, julgo que o evento foi o que sempre tem sido: uma belíssima festa de Cultura, este ano com a novidade de mais espectáculos de rua, e das habituais e renovadas várias salas e locais, em Almada e Lisboa onde decorreu, dos encontros da esplanada, mas não esquecendo os muitos debates e, em lugar de grande destaque, as lições de um Mestre incontestado a quem o Festival homenageou este ano, Luís Miguel Cintra.

Não sei se terão acontecido este ano muitos daqueles momentos extraordinários de que o Festival de Almada foi pródigo ao longo das suas 30 edições. 

Julgo ter assistido a um deles, quando após a representação de ÍON, de Eurípides, magnificamente encenado pelo Luís Miguel Cintra para a sua Companhia, a Cornucópia, a sessão se prolongou inesperadamente para nós, até de madrugada, para vermos um filme realizado por uma das colaboradoras da Cornucópia, Sofia Marques, sobre ILUSÃO, a colagem de textos de Federico Garcia Lorca, que Luís Miguel Cintra fez e encenou e que foi representada por mais de meia centena de actores não profissionais, entre os quais alguns pisando o palco pela primeira vez. O resultado é de um enorme fascínio. Embora de longa duração e ainda não montado na versão definitiva, o documentário absorveu-nos completamente pelo início da madrugada. Embora filmado foi um momento ímpar que aquele grande homem de Teatro mereceu.

Do que vi, embora tenha falhado alguns dos momentos altos do Festival no que diz respeito a encenações, queria referir o espectáculo da CIRCOLANDO, companhia que muito apreciamos de outros trabalhos que aqui estiveram em anteriores edições. 



É que o seu ARRAIAL DELUXE é quase como uma passagem do dia para a noite, do silêncio quase contemplativo para um ambiente feérico, pleno de vibração, de sons, de movimento. Houve quem não tivesse apreciado. Eu, embora tenha uma enorme admiração pelos trabalhos anteriores, não posso deixar de reconhecer muita mestria na abordagem desta panóplia de situações decorrentes de um arraial tal como o conhecemos ou imaginamos, pelo menos nalgumas zonas do nosso país. E não deixou de ser um belo achado a participação dos espectadores (que se prestaram a isso).

A CAIS OESTE dedico, a seguir, uma pequena nota mais alargada, não só atendendo ao autor representado, Bernard-Marie Koltés, mas por se tratar de um espectáculo da companhia-mãe do Festival, a CTA - Companhia de Teatro de Almada. 

Aguardamos, como ali digo, o regresso ao palco desta peça, em Outubro, porque gostamos muito da CTA e gostaríamos que estivesse sempre a um nível que não desmerecesse nem dos grandes autores representados nem das grandes companhias que pelo seu Festival têm passado. É que, apesar de algumas críticas que lhe possam ser apontadas e da dificuldade do texto, julgo que é possível fazer desta encenação de Ivica Buljan um espectáculo magnífico.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

31º FESTIVAL DE ALMADA


Começa hoje, 4 de Julho, o FESTIVAL DE ALMADA, na sua 31ª Edição.

Aos/às Amig@s só posso sugerir que não faltem porque há muitos e bons espectáculos, alguns porventura excepcionais. 
E há exposições, conferências e debates. 
E há uma multiplicidade de espaços, magníficos, em Almada e Lisboa, onde o Festival vai decorrer. 
E há a famosa esplanada, e agora também um restaurante no próprio teatro, locais de encontro de autores, actores, espectadores, num ambiente de Cultura sem elitismos idiotas nem (espero) vedetismos medíocres... 
Depois darei conta do que mais me impressionou, embora reconheça que já não tenho capacidades física e intelectual para grandes maratonas embora gostasse muito de ainda as ter.