Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

domingo, 25 de dezembro de 2016

BALANÇO TEATRAL de 2016 - As minhas preferências



Devo dizer que me faltou ver muita coisa nos palcos do nosso País, em 2016. E algumas estariam certamente aqui. Mas estes espectáculos, entre os que vi, foram os de que mais gostei por razões várias e muito diversas até. Mas, em minha opinião, sempre em espectáculos de qualidade superior. Como é habitual escolhi os 10 preferidos, com pena como sempre de deixar outros de fora.

A minha lista:

CLARABÓIA, de José Saramago, enc. Maria do Céu Guerra, pel' A Barraca

12 HOMENS EM FÚRIA, de Reginald Rose, enc. Armando Caldas, pelo Intervalo Grupo de Teatro

FREI LUÍS DE SOUSA, de Almeida Garrett, enc. Rogério de Carvalho, pela CTAlmada

DE AÇO E SONHO, pelo Teatro Extremo

HEDDA GABLER, de Ibsen, enc. Juni Dahr, pelo Viojoner Teater, Oslo (FTAlmada)

A GAIVOTA, de Anton Tchekov, enc. Thomas Ostermeier, pelo Théâtre Vidy-Lausanne (FTAlmada)

TRÓPICO DEL PLATA, de e enc. Rubén Sabadini, Vera Vera Teatro, Buenos aires (FTAlmada)

O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS, de José Saramago, enc. Helder Costa, pel' A Barraca

A ÚLTIMA VIAGEM DE LÉNINE, de António e Mafalda Santos, pelo Grupo de Teatro Não Matem o Mensageiro, com André Levy

A NOITE DA LIBERDADE, de Ödön von Horváth, enc. Rodrigo Francisco, pela CTA



OBS: Assim que tiver tempo tempo acrescentarei as razões das escolhas






BALANÇO CINÉFILO de 2016 - As minhas preferências (10+1)



As preferências de 2016: a ideia eram ser apenas 10. A visão à última hora da obra de Wenders, e ainda poderá aparecer mais alguma nas últimas estreias, forçou-me a incluir mais uma e por isso ainda não decidi quais vão ser as 10 definitivas

A lista:

45 YEARS (45 Anos), de Andrew Haigh, com Charlotte Rampling e Tom Courtenay

THE BIG SHORT (A Queda de Wall Street), de Adam McKay, com Christian Bale, Steve Carell

LA LOI DU MARCHÉ (A Lei do Mercado), de Stéphane Brizé, com Vincent Lindon e Karine de Mirbeck

CINZENTO E NEGRO, de Luís Filipe Rocha, com Joana Bárcia e Filipe Duarte

WHERE TO INVADE NEXT (E agora invadimos o quê?), de Michael Moore

MARAVIGLIOSO BOCCACCIO (Maravilhoso Boccaccio), de Paolo e Vittorio Taviani

SNOWDEN, de Oliver Stone, com Joseph Gordon Levitt e Sheilene Woodley

JULIETA, de Pedro Almodóvar, com Emma Suárez e Adriana Ugarte

CAFÉ SOCIETY, de Woody Allen, com Steve Carell e Kristen Stewart

I, DANIEL BLAKE (Eu, Daniel Blake), de Ken Loach, com Dave Johns e Hayley Squires

LES BEAUX JOURS D'ARANJUEZ (Os Belos Dias de Aranjuez), de Wim Wenders, com Sophie Semin, Reda Kaleb, Jenz Harzer, Nick Cave e Peter Handke (também autor do texto)

OBS: quando tiver tempo para as escrever acrescentarei a esta nota as razões destas preferências




quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

LES BEAUX JOURS D' ARANJUEZ (Os Belos Dias de Aranjuez), de Wim Wenders

Não se pode esperar que esta recentíssima obra de Wim Wenders, estreada no Festival de Cinema de Veneza deste ano, venha a ter grande sucesso junto do público ou da crítica dominante. 

No entanto trata-se de um filme belíssimo para quem aprecie a chamada Sétima Arte. 
É que Wim Wenders pegou num texto quase abstracto, escrito para o teatro pelo dramaturgo alemão Peter Handke, seu velho conhecido. E o resultado é puro fascínio, com os dois principais personagens, uma mulher e um homem, Sophie Semin e Reda Kateb, conversando perante nós enquanto a câmara se movimenta suavemente. 

Enquanto Sophie fala dos seus amores e desamores, indo até a pormenores da relação física, Kateb descreve a natureza luxuriante que os rodeia, embora nos arredores de Paris mas com memórias do belíssimo parque de Aranjuez. Por ser mais discreto ou porque essa é condição atávica do ser masculino? 

Wenders introduz no entanto uma diferença em relação à peça, porque cria o personagem do escritor (Jenz Harzer) e sendo embora discutível o que vemos, para mim o casal é apenas imaginação. Harzer vai pontuando a peça com músicas tocadas numa velha juke box e numa delas surge até ao vivo Nick Cave, numa das suas mais emblemáticas canções, tocando piano e cantando.

E para finalizar é o próprio Peter Handke, o dramaturgo,  que surge em silhueta no jardim, aparando as sebes.

Belíssima obra que suscita vontade de a rever. A dicção dos actores é aliás espantosa.

Adenda: 
Sophie Semin a bela e magnífica actriz desta obra é a companheira de Peter Handke, o escritor, dramaturgo e cineasta autor da peça original e que aliás surge também num pequeno papel, numa homenagem de Wim Wenders! 
Handke teve, no final dos anos 90, a coragem de se manifestar publicamente contra o ataque, a invasão e a destruição da Jugoslávia pela NATO, ataque que causou milhares de vítimas numa agressão que se manteve até à conquista dos Balcãs como nova área de influência do imperialismo norte-americano e dos seus acólitos europeus. Não tenho seguido a sua trajectória política e social mas esse facto torna-o ainda mais credor da nossa admiração.






NOITE DA LIBERDADE, de Ödön von Horváth



NOITE DA LIBERDDADE - de Ödön von Horváth

O grande dramaturgo e escritor de língua alemã, nascido no Império Austro-Húngaro em Susak, Rijeka, em 9-Dez-1901 e falecido em Paris em 1-Jun-1938, levou grande parte da vida a alertar para o perigo do fascismo, particularmente do nazismo, que viu nascer no seu país e pouco a pouco avançar como uma peste, como um mal de consequências imprevisíveis que ele, lamentavelmente falecido muito precocemente, não chegou a assistir em todos os seus efeitos que causaram milhões de mortos por todo o mundo.

No nosso País temos tido a fortuna de assistir a algumas das suas peças mais representativas, algumas delas em Almada, pela mão da Companhia de Teatro de Almada.

Mas mais que descrever as manifestações nazis que pouco a pouco influenciavam parte do seu povo - o racismo, a xenofobia, o egoísmo social, o nacionalismo, o desprezo pela condição feminina, o ódio às minorias - o autor ridiculariza-as por vezes até, Horváth alertou para a capitulação burguesa perante os fascistas, em quem a grande burguesia via apenas possíveis aliados para conter e reprimir as aspirações sociais do povo, ajudando a manter a exploração do trabalho em que assenta a sociedade capitalista.

Em 1933 o partido nazi, chefiado por Hitler, vence as eleições e ele é nomeado chanceler.

E a partir daí são conhecidos os factos históricos que terminariam com o desencadear da 2ª Grande Guerra Mundial e os anos de horror entre 1938-45, embora já antecedidos da preparação para a guerra pelos fascistas, em Espanha, onde as hordas fascistas de Franco apoiadas pelos nazis, destruiram a novel República Espanhola no meio de um horror de crimes e assassinatos.

Esta peça de Horváth, cujo título original é "Noite Italiana", em apoio à luta anti-fascista em Itália, contra Mussolini e seus sicários, foi escrita em 1929.

Um pouco antes portanto da chegada dos nazis ao poder na Alemanha, quando o partido nazi era ainda apenas uma ameaça e os partidos burgueses julgavam poder contê-la, apesar dos alertas dos comunistas, que defendiam a necessidade da criação de uma verdadeira frente popular contra o fascismo.

No final da peça imaginada por Horváth os jovens comunistas, que haviam sido expulsos do partido socialista dominado por políticos burgueses por apelarem à luta anti-fascista, surgem em defesa destes perante o ataque dos nazis. 

Sabemos no entanto que o anti-comunismo desses dirigentes prevaleceu nos anos seguintes, dando força aos nazis para atacarem a União Soviética, onde felizmente foram finalmente derrotados. Horváth já não viveu infelizmente para testemunhar isto, vitimado em Paris, onde se refugiara, por uma árvore em queda nos Campos Elíseos durante uma manhã tempestuosa.
A encenação de Rodrigo Francisco, pretende ligar a acção da peça à preocupante situação política e social dos nossos tempos, com o fascismo de novo a crescer na Europa e nos EUA (Trump) mas sem alterar o texto original de Horváth, o que implica um mínimo de conhecimentos por parte dos seus espectadores. 
A esperança de quem vê a peça é que ela seja bem entendida pela maioria dos seus espectadores. 

A ilusão de que o capitalismo se pode regenerar, tornando-se humano, é um erro que foi fatal em várias ocasiões ao longo do século passado e que não gostaríamos de ver repetida neste novo século pelo atraso que inevitavelmente trará para a luta dos povos por um mundo melhor, por uma sociedade socialista, em que a exploração do homem pelo homem, a discriminação e a pobreza sejam erradicadas.

O trabalho do encenador e actores é magnífico, com destaques vários, de Guilherme Filipe, no político burguês, a Tânia Guerreiro, na jovem revolucionária Anna, passando por Duarte Guimarães (Karl), João Tempera (Martin), Maria Frade, Marques de Arede e todos os restantes.

A não perder se vier a ser repetido na próxima época!






quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

EU, DANIEL BLAKE (I, Daniel Blake), de Ken Loach

I, DANIEL BLAKE (Eu, Daniel Blake) 

Mais uma belíssima e importante obra porque fala dos tempos que atravessamos, do grande cineasta inglês Ken Loach.
É em Newcastle que assistimos à tragédia de mais um trabalhador doente e desempregado, que as teias do sistema capitalista, que como bem sabemos só favorece o capital, prende e arrasta até ao limite. 
Sob a capa de um simulacro de serviço social assistimos ao calvário de um homem cujo apoio, que deveria ser obrigatório numa sociedade justa (mas isso claro só no socialismo), é negado.
Nessa trajectória encontra outros seres humanos em idêntica situação a quem procura ajudar.
O filme também mostra algo extremamento doloroso de ver, mas bem real, como sabemos por experiência própria no nosso País, que é como o sistema capitalista se serve de alguns miseráveis a  quem explora para oprimir os outros trabalhadores.
Interpretações brilhantes de Dave Johns, como Dan, e da jovem actriz Hayley Squires, como Katie,  a jovem mãe que, encostada à parede, vê na prostituição o último recurso para salvar os dois filhos da fome. 
Retrato doloroso do Reino Unido Século XXI (United Kingdom), mas que é também o duma Europa capitalista, situação que está a abrir caminho de novo, como nos anos 30 e 40 do século passado, a um populismo, racista e xenófobo, que em geral conduz ao fascismo como forma última que o capital tem de tentar controlar e esmagar as massas trabalhadoras.

Lembrar ainda que o primeiro filme que vimos deste grande cineasta foi o famoso KES (Os Dois Indomáveis), de 1969, passado na região mineira do Yorkshire, uma vez mais numa misérrima situação social de então a servir de pano de fundo à história de um miúdo e do seu falcão, Kes. Belíssima obra que logo nos alertou, mesmo que a contra-corrente, para a existência de um novo grande realizador. 
Não há muito vimos entre as suas últimas obras, o extraordinário documentário, "O Espírito de 45" (Spirit of '45), sobre a trajectória do seu país, entre e após as duas grandes guerras mundiais, mostrando com bastante clareza como se processou a recuperação económica pelas mãos de uma política de esquerda no pós segunda Grande Guerra, após a derrota eleitoral do político de direita, Churchill e de como o retorno da política de direita, através do dito neo-liberalismo, da inominável e fascizante Margaret Thatcher, veio nos anos 80 destruir os direitos sociais do povo britânico e entregar de novo o poder ao grande capital, envolvendo o país em novas guerras - Malvinas, invasão e destruição da Jugoslávia para controlo dos Balcãs, Afeganistão, Médio Oriente, etc, etc, num prenúncio de um 3º conflito à escala mundial, em que o imperialismo nazi é substituído pelo norte-americano, mas sempre com o grande capital por trás a comandar.

NÃO PERCAM! 
E não liguem à subtil desvalorização que é feita à obra e ao seu autor pela maioria da crítica de cinema dominante, aliás paga pelo grande capital...







terça-feira, 20 de dezembro de 2016

SUITE QUEBRA-NOZES, pelo GATEM



NO 20º ANIVERSÁRIO DO GATEM - GRUPO DE TEATRO ESPELHO MÁGICO - No Fórum Municipal Luísa Todi, em Setúbal (27-Nov)

Bela dramaturgia de um famoso conto de E.T.A.Hoffmann, O QUEBRA NOZES E O REI DOS RATOS. 

Relembrar, para os que já se esqueceram, que o escritor é o dos CONTOS DE HOFFMANN, obra-prima musical de Offenbach, que depois foi genialmente adaptada ao cinema pela famosa dupla Michael Powell e Emeric Pressburger. (esta é para os cinéfilos, porque foi a partir desse filme que vi nos anos 50 do século passado que passei a admirar o trabalho desses dois grandes cineastas) 
Este conto particularmente tem outras adaptações à música e ao bailado, a mais famosa das quais é a do grande e muito admirado Piotr Tchaikovsky.

Quanto a este espectáculo do GATEM é de novo belo e encantatório. Embora dedicado em primeiro lugar aos mais novos, em grande número na sala, agrada também muito aos graúdos.
Gostei muito! Parabéns a todos os intervenientes, nomeadamente aos que vimos actuar tão bem em palco.

Parabéns à Céu Campos e ao Ricardo Cardoso, que julgo são os principais responsáveis por estas maravilhas!

Aos Amigos que me lêem que não percam próximas representações! 
E eu fico a aguardar a estreia do próximo espectáculo do GATEM.

(texto publicado no Facebook)