Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

sábado, 22 de fevereiro de 2014

FREARS (Philomena), SCORSESE (The Wolf of Wall Street)

SOBRE O CINEMA EM EXIBIÇÃO EM LISBOA

(1)-O QUE JÁ VI E GOSTEI

(1.1) – DE VISÃO RECENTE

FILOMENA, de Stephen Frears (***)

Realizado por um cineasta inglês (como Steve McQueen), com um “savoir faire” inegável, mas com obras algo desiguais. Para mim as melhores são o seu famoso “Ligações Perigosas” e o excelente “Liam”.
Agora trata-se de uma obra muito interessante sobre famílias desfeitas, tendo como pano de fundo o que se passava na  igreja católica, irlandesa e não só, em meados do século XX. O seu fundamentalismo,  responsável pelos crimes cometidos por membros da sua hierarquia, que vão da venda de crianças à pedofilia, passando pela escravatura de jovens mulheres entregues às instituições religiosas.
Frears adaptou um relato jornalístico sobre um facto real, escrito por um jornalista britânico, ex-acessor (depois despedido) de um PM de triste memória, em especial pelos seus envolvimentos com os EUA e a CIA, Tony Blair.
Um outro aspecto que este filme também refere, de passagem, é a posição da direita norte-americana (Partido Republicano, em especial) em relação ao tratamento dos doentes com SIDA (AIDS),  contribuindo, tal como a Igreja Católica, para a sua fatal propagação. Crimes contra a Humanidade que têm aliás sido silenciados nos Media controlados pelo actual poder económico e político de direita. Nesta história, real de acordo com a ficha tecnica, é afinal um jovem membro daquele partido de direita, quase sempre extremista, que por ironia, acaba também por ser vítima da política que defendeu para a saúde (assesor do Bush Pai) ...
Com excelentes actores: a veterana actriz de teatro e de cinema, Judi Dench, com pelo menos dois desempenhos notáveis que eu conheça no cinema, em obras de Richard Eyre (Note on a Scandal) e James Ivory (A Room with a View) e o actor Steve Coogan, menos conhecido mas aqui também magnífico, entre outros.

LOBO DE WALL STREET (O) (The Wolf of Wall Street), de Martin Scorsese (****)

Desta vez os protagonistas são os novos gangsters de colarinho branco, responsáveis pela miséria de milhões e a morte de muitos milhares de cidadãos e a correspondente criação de alguns novos milionários, que Scorsese retrata.
Mas matanças já não são ao estilo de Chicago. Agora matam ainda mais pelo desemprego, pela falta de apoios sociais, pela falta de apoio à saúde, pelo despejo da casa... num retorno às políticas mais agressivas do sistema económico em vivemos, assente na exploração dos trabalhadores. E continuam a matar muito.
Só dois aspectos mais: se por um lado as fortunas destes candidatos a multimilionários crescem como cogumelos num solo pútrido, o da sociedade capitalista, por outro a principal personagem do filme, um corrector de Wall Street, aliás real, é de origem social atípica, provindo não do seio da grande burguesia donde saiem habitualmente os que têm sucesso na banca e no mundo financeiro, mas dos extractos sociais  desfavorecidos, vítimas da exploração e da pobreza. Por isso, como no filme, são candidatos também à queda a prazo. E quando caiem denunciam os seus pares, como no filme, procurando sobreviver.
Realizado com a mestria habitual deste grande cineasta estado-unidense, desta vez num estilo muito directo, muitas vezes mal educado e rude, como os seus personagens, envolvidos nos negócios das Bolsas, da especulação financeira e da corrupção, no sexo sem limites e nas drogas.

(2) OS OUTROS, JÁ VISTOS HÁ MAIS TEMPO

BLUE JASMINE, de Woody Allen (****)

Notável obra sobre os reflexos da crise capitalista nos EUA. Talvez seja um dos filmes mais claramente políticos deste brilhante intelectual estado-unidense, ou deveria dizer, nova-iorquino manhattanense?
A ascensão e queda duma pequena burguesa (Jasmine) e dos seus pares (o companheiro metido nos esquemas fraudulentas da alta finança e das bolsas, que passámos também infelizmente a conhecer), em plena crise capitalista. Mais trágico que irónico.

DOZE ANOS ESCRAVO (12 Years a Slave), de Steve McQueen (*****)

Um filme magnífico sobre a escravatura nos EUA, de um artista na área das artes visuais (pintura, instalações), que faz aqui mais uma incursão brilhante no cinema, a terceira, depois de uma estreia excepcional com “FOME” (Hunger).
Os acólitos do Império, na crítica dos jornais, obviamente que não gostaram. Mas não é só tematicamente que o filme é importante, mas também pela qualidade da linguagem. Mas nem isso “eles” lhe querem reconhecer. Ou talvez não lhe sejam sensíveis... Posso rir?
Nota: Acaba de receber o prémio britânico para o melhor filme do ano (BAFTA)

PROPÓSITO DE LLEWYN DAVIES (A) (Inside Llewyn Davis), de Joel e Ethan Coen (****)

Um mergulho, cheio de fascínio, na Manhattan dos anos 60 e dos que sonhavam fazer carreira no mundo da música. Sobre mais um dos seus “heróis” desastrados, a quem o sucesso não sorri. Triste e melancólico mas com todo o brilhantismo cinematográfico habitual dos manos Coen.

TAL PAI, TAL FILHO, (Soshite chichi ni naru), de Hirokazu Koreeda (***)

Os reflexos das mentalidades   saídas das universidades que formatam sem escrúpulos (à la crato) os jovens para as necessidades do sistema capitalista, em famílias em crise ocasionada pelo funcionamento desumano do sistema.
No estória do filme trata-se de uma troca de bebés, que só anos depois é descoberta e de todas as consequências que daí advém, a começar pelo hospital (privado) a querer fugir às resposabilidades enquanto não arranjam um bode expiatório, e às famílias postas perante uma situação inesperada e chocante.

(2-)O QUE AINDA NÃO VI MAS QUERO VER (se for a tempo...)

NINFOMANÍACA (Partes I e II), de Lars von Trier

Suponho que se trata de mais uma provocação à von Trier, que fará simultaneamente as delícias de um público burguês, ávido de cenas escandalosas e o protesto, escandalizado, dos mais conservadores.
Do grande cineasta de outras vezes pouco restará, a não ser, provavelmente,  o seu “savoir-faire”. Ou daí talvez não. De von Trier tudo se espera. Veremos.

QUANDO TUDO ESTÁ PERDIDO (All is Lost), de J.C.Chandor

O meu interesse na obra reside apenas no desempenho de um grande actor Robert Redford, já veterano, com participações em grandes filmes, que aqui comete uma proeza de representação, a crer nalgumas referências críticas.
Nesta obra é o mar que se torna o obstáculo que se tem que  superar para não perecer, mas relembre-se a propósito outro grande desempenho, inesquecível, deste notável actor (e também magnífico realizador) em JEREMIAH JOHNSON (As Brancas Montanhas da Morte), de 1972, esse sim um belíssimo filme dirigido por outro nome grande da Sétima Arte, o saudoso Sidney Pollack. Então era o gelo e a neve que era preciso vencer para sobreviver.

VIDA DE ADÈLE (A), de Abdellatif Kechiche

Kechiche, grande cineasta, que já nos deu obras brilhantes, faz uma incursão pela diferença. De certa maneira o seu magnífico “Venus Noire” já fazia prever uma evolução temática na sua obra. Mas de risco elevado. Vamos ver como se sai.

20-Fev -2014


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