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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

quinta-feira, 16 de março de 2017

VELIKII GRAJDANINE (Um Grande Cidadão) (1ªparte – 1937, 2ªparte – 1939), de Friederich Ermler (URSS)

No ano em que se comemora por todo o mundo o centenário (1917-2017) da  mais bela revolução da história da Humanidade, a Revolução de Outubro, que colocou no poder por muitas décadas os explorados e oprimidos, relembro outra obra-prima da Sétima Arte produzida e realizada na União Soviética. 
Raramente o Cinema atingiu o nível artístico e documental como nessa época.  


VELIKII GRAJDANINE (Um Grande Cidadão) (1ªparte – 1937, 2ªparte – 1939), de Friederich Ermler (URSS) ***** (5)

Trata-se de uma obra, magnífica, em duas partes, num total de 4 horas e 45 minutos, sobre os anos dificílimos de construção do Socialismo, na União Soviética.

Como obra sobre um período revolucionário, referindo-se aos anos de 1930-35, em que os explorados estão no poder, não estará nunca datada, porque descreve as dificuldades, as divergências, as traições, as sabotagens, em tal período. Algumas cenas, apesar de terem quase com um século, parecem-nos actuais (em 2007), em termos de comportamentos.

O filme descreve a vida e o assassinato do dirigente comunista Serge Kirov (sob o nome de Chakov, admiravelmente interpretado por N.Bogolioubov), de acordo com a versão oficial na época, a qual viria a ser mais tarde contestada. 

Mas para além disso, é a maneira admirável como aquele grande cineasta soviético filma as personagens, muitas vezes em grandes planos, conseguindo dar-nos o seu retrato psicológico, que tornam o filme perfeitamente actual em termos de linguagem. Filme principalmente de diálogos intensos, tem no entanto meia dúzia de exteriores magníficos – os plenários na fábrica, as reuniões com os operários e população, as manifestações, as obras da construção do canal.

A figura da Mulher é fortemente exaltada, equiparando-a ao Homem, no trabalho, na direcção da fábrica e no partido. Uma das cenas mais fortes do filme é o discurso da mãe de Chakov no plenário, mas há mais meia dúzia de figuras femininas admiráveis, que sobressaem na obra.

O assassinato de Chakov, é dado elipticamente, como em geral o fazem os grandes mestres, adquirindo enorme força.

Mas um dos aspectos que mais me surpreendeu foi a maneira como o ideal comunista, no comportamento, nos é dado, com muita inteligência, sem nunca recorrer a frases feitas, mas antes ao que acontece na prática, perante os acontecimentos favoráveis ou desfavoráveis.

Curiosamente nada disto é referido na folha respectiva da Cinemateca, num texto longo, repleto de provocação e aleivosia, que quase se limita a debitar um ideário anti-comunista, ou não tivesse o crítico evidentes simpatias pelo outro extremo do espectro político (confrontar com outras críticas do mesmo, nos jornais).

Lamentáveis também os erros ortográficos (e não só) inacreditáveis (“houveram”, por exemplo) da legendagem electrónica. Feita aonde? Na própria Cinemateca? 

Terminada a projecção é inevitável que nos interroguemos, se não foi uma formidável proeza, única na história da humanidade, o poder dos explorados, dos oprimidos, conseguir resistir durante tantas décadas, perante a força do inimigo, que recorreu a todos os meios para o minar, para o sabotar?

Admirável obra, de um período fecundo para a arte cinematográfica – o das gerações que fizeram a Revolução de Outubro.

(visto na Cinemateca Portuguesa, em Mar-2007)




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