Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

sexta-feira, 25 de maio de 2018

O AMOR, O DINHEIRO E O PECADO, de Olavo D'Eça Leal / Armando Caldas



"O AMOR, O DINHEIRO E O PECADO", de Olavo D'Eça Leal /Armando Caldas, encenado pelo Armando Caldas, para o Intervalo Grupo de Teatro

Gostei muito! 

Poder-se-ia pensar que o texto de 1960, "O Amor, O Dinheiro e a Morte", estreado nos palcos nesse mesmo ano pela companhia Teatro Nacional Popular numa encenação de Ribeirinho, para um grupo de grandes actores e actrizes, poderia estar algo datado. A verdade é que a adaptação de Armando Caldas a tornou muito actual, com um final empolgante, muito à Intervalo, com todos os actores em palco e acompanhando o "sonhar um sonho impossível" de Jacques Brel, para "lutar sempre, sem dúvidas, nem descanso", para atingir "a inacessível estrela". Um final optimista, mas que acaba por nos emocionar, para uma luta longa e difícil que não ignoramos e nos espera, por um mundo melhor. 

Ainda que, cada vez mais, os jardins românticos das nossas cidades, com os seus bancos onde às vezes sonhamos e pensamos, continuem a ser cobiçados para serem destruídos pela ambição desmedida de alguns, pela especulação imobiliária que a nada olha, para em seu lugar surgirem edifícios grotescos que irão servir de sede aos bancos, instituições controladas pelo grande poder económico que tudo quer dominar, para manter a exploração do homem pelo homem em que assenta. 

A peça fala-nos com humor irónico, mas sem ódio, de algumas fraquezas humanas mas também das tentativas de amar, entrecortadas pelas incursões dos homens do dinheiro, ou dos seus representantes, que preparam a destruição daquele recanto de árvores verdadeiras na floresta de betão e asfalto. 

Hoje, quase 60 anos passados, não conseguimos deixar de continuar a pensar no que está acontecer nesta nossa amada cidade, cada mais descaracterizada, com o seu povo a ser afastado para as periferias. 

Tal como o fez aquele grupo de actores, quase todos progressistas, nesse já longínquo ano, entre eles o inesquecível e actor maior, Rogério Paulo, que por essa época tinha já participado, do lado de fora mas significativamente, na maior das fugas das masmorras fascistas (Peniche), donde escapariam Álvaro Cunhal e mais 9 camaradas, entre eles alguns heróis da luta na clandestinidade contra o fascismo, iniciando irreversivelmente a fase decisiva da vitória sobre o regime. 

Foi assim que vi mais este belo espectáculo do Intervalo, que sugiro aos amigos que, podendo, não falhem. 

Um bravo para os actores desta companhia, cujo trabalho tanto apreciamos, João José Castro, Rita Bicho, Fernando Tavares Marques (magnífico guarda do jardim), Teresa Forjaz, Pedro Beirão, Miguel Partidário, Cláudia Nadine, Miguel Almeida, Hélder Anacleto, Mouzinho Arsénio, João Pinho, Fernando Dias, Cristina Miranda (magnífica na canção de Brel, que fecha o espectáculo) 

Sugiro também a leitura de um belo texto, sobre o Intervalo e sobre esta peça, escrito pelo também homem de palco, poeta, dramaturgo e romancista, cuja obra seguimos e admiramos, Domingos Lobo, publicado no Avante de 10 de Maio.





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