Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

sábado, 3 de novembro de 2012

O GEBO E A SOMBRA, de MANOEL DE OLIVEIRA


“O GEBO E A SOMBRA”, de Manoel de Oliveira (POR)

(publicado no facebook e "não publicado" no Cartaz de Cinema do "Público"/ Indeks)

De cada nova obra do decano dos cineastas (a nível mundial, 103 anos) espera-se sempre algo de muito pessoal, que ele nos queira transmitir, a nós espectadores mas também provavelmente aos seus pares.
Embora esta peça de Raul Brandão, “O Gebo e a Sombra”, contenha algo de contraditório: por um lado um desespero quase niilista (estado de espírito que está a reaparecer entre nós, neste início de século, perante o regresso da exploração mais selvagem, dos mais pobres pelos mais ricos, nesta fase de refluxo dos direitos humanos em mais um episódio da luta de classes, que essa mesma luta se encarregará de corrigir mais cedo ou mais tarde); por outro lado uma exaltação da honestidade (hoje cada vez mais rara entre as classes dominantes. Mas não terá sido sempre assim entre os dessas classes?) e do espírito de sacrifício, apesar da sua aparente inutilidade, já que só isso não chega, porque não elimina  as injustiças. Terá sido isso que seduziu Oliveira?




De resto é como sempre o primado da voz e dos actores, em longos planos fixos, e só por estes actores do nosso contentamento já valeria a pena ver este belo filme, porque eles são magníficos, a interpretar os diálogos da peça de um autor a que já chamaram o mais tchekhoviano dos escritores portugueses. Convém no entanto lembrar outras das suas obras, de “Os Pobres” a “Húmus”, passando pelos livros de viagens – “Os Pescadores”, ele que descendia de homens do mar, até ao teatro, nomeadamente essa famosa tragicomédia “O Doido e a Morte” e relembre-se que, ainda há pouco tempo, Alexandre Delgado, se serviu dela para libreto de uma ópera e Joaquim Benite, encenou-a no teatro, do que resultou um espectáculo conjunto que nos fascinou, até pela modernidade do texto.
Para terminar desejava só lembrar uma frase chave no filme, porque Oliveira, e os seus actores, também a sublinharam:

“Sofia (como quem fala doutra coisa maior que a subjuga):
Mas se essas pessoas ricas lhe perdoassem?
Gebo: Perdoar o quê? O dinheiro, filha? O dinheiro nunca se perdoa.”

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