VISTO NA CINEMATECA
Pequena nota sobre:
THE SOUTHERNER, de
Jean Renoir (1945)
Uma obra-prima
raramente citada, de um dos grandes Mestres do Cinema.
Não gosto nada do
título português, “A Semente do Ódio” que tem pouco a ver, parece-me, com o
espírito do filme. É bem melhor o de língua francesa, “O Homem do Sul” (L’Homme
du Sud).
Aliás, na magnífica
crítica da folha de sessão, escrita pelo saudoso Manuel Cintra Ferreira (onde
estão os bons críticos da Cinemateca de hoje?) diz-se uma coisa, com a qual
concordo e que se aplica a quase toda a obra deste Mestre da Sétima Arte:
“Não há maniqueísmos
(mas nunca os houve na obra de Renoir, mesmo nos seus filmes de “propaganda”!),
apenas seres humanos alimentando ilusões ou com elas desfeitas, o ciclo eterno
da vida que vai do nascimento à morte”.
Há um ambiente quase
poético nesta tragédia, muito sulista, a crer nos grandes escritores que
descreveram o Sul dos EUA e as suas gentes.
Aliás o grande William
Faulkner, que colaborou com Jean Renoir nesta obra, julgo ter lido algures,
considerava que Renoir tinha retratado magistralmente o sentir profundo dos
pequenos agicultores do Sul, que tudo arriscam, menos a dignidade (alguns pelo
menos) para cultivar um pedaço de terra sua.
Falta todavia, na
maioria, o sentimento expresso do
empenhamento colectivo, do unir esforços, embora isso fosse possível, como
julgo que Renoir quis demonstrar, metaforicamente, na belíssima cena da captura do grande peixe
do rio pelos dois homens desavindos, por causa de um individualismo, que é
fortemente aumentado por condições de vida (e de exploração).
Uma palavra para os
actores, admiravelmente dirigidos, com citação especial dos dois principais
personagens, Zachary Scott (Sam) e Betty Field (Nonna) (ver foto), hoje também
muito esquecidos porque tiveram carreiras curtas, devido a desaparecimentos
prematuros. E para Beulah Bondi, que é
uma avó inesquecível, numa personagem muito renoiriana.
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