Cultura!

Cultura!

OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

domingo, 22 de julho de 2018

35º FESTIVAL DE TEATRO DE ALMADA (III) - Breves Notas (II)


No 35º festival de Almada


Breves Notas (continuação)


(IV) ESTADO DE SÍTIO



Ao longo de muitas temporadas vimos em Almada grandes espectáculos de Teatro, do melhor que se fez na Europa e não só. 

Nos últimos anos, devido aos sucessivos atentados cometidos pelo capital contra a Cultura, que os governos por ele dirigidos se apressam a cumprir escrupulosamente, a qualidade geral ressentiu-se, mas mesmo assim ainda aconteceu um ou outro momento do grande Teatro que amamos. 


Quando puder gostaria de dizer qualquer coisa sobre isso, muito modestamente, do ponto de vista de um vulgar espectador embora apaixonado, mas fica desde já aqui registado o que achei melhor entre o que pude ver, que foi a encenação de Emmanuel Demarcy-Mota para o belíssimo texto de Albert Camus, Estado de Sítio, publicado em 1948, de profundo significado político, de denúncia do nazismo e dos seus programados assassínios em massa, utilizando para o efeito a tecnologia de ponta da poderosa indústria alemã. O nazi-fascismo havia sido derrotado em 1945, mas restavam ainda na Europa a Espanha e Portugal com governos fascistas que escaparam à derrota por razões políticas conhecidas - o receio das grandes potências europeias (com governos de direita) que os povos desses países, ansiosos de liberdade e democracia, apoiassem regimes socialistas. Por isso Camus faz passar a acção da sua peça em Cádis, no Sul de Espanha, o que então danou a direita daquele país.


Belíssimo espectáculo por todas as razões e porque não é negativo. Questionei amigos que viram quase tudo e concordaram que foi o melhor que viram.

"Julgaste que tudo se podia resumir em números e fórmulas! Mas, na tua bela nomenclatura, esqueceste a rosa selvagem, os sinais do céu, os rostos de Verão, a grande voz do mar, os momentos de angústia e a cólera dos homens! " 

(Diego para a secretária da Peste, isto é, do fascismo, em Estado de Sítio, de Albert Camus, encenado por Emanuel Demarcy-Mota para o Théatre de la Ville, Paris) 

Com o belo texto de Albert Camus, de 1948, contra o fascismo, publicado depois da derrota do nazi-fascismo, mas com o horror ainda a prolongar-se na Península Ibérica, até 74/75, com os fascistas Franco e Salazar e depois Marcelo Caetano e na sua Argélia natal o colonialismo francês que ainda duraria mais uma década com um grande sofrimento para o povo argelino em luta pela sua independência e liberdade. 

Demarcy-Mota cria esta magnífica encenação como um brado de alerta contra o fascismo que renasce na Europa, da Ucrânia à sua França com a Marine Le Pen e governada por uma direita perigosa (Macron) que pode abrir o caminho ao pior.







(V) "Actriz", texto e encenação de Pascal Rambert, com Marina Hands no papel principal entre 14 actores (a grande actriz do excepcional filme Lady Chatterley (2006), da cineasta francesa Pascale Ferran).



Escrito para os actores vê-se com muito prazer. Excelente. E Marina Hands, que deslumbrou no cinema na figura de Lady Chatterley, tem neste espectáculo outro belíssimo desempenho.



Visto no Teatro Nacional D.Maria II, no âmbito do Festival de Teatro de Almada. Falado em francês, mas com legendas projectadas no palco com muito boa visibilidade e dado que a complexidade linguística das falas não é muito grande torna-se muito fácil de acompanhar para quem não conheça bem a língua francesa. Todos os espectáculos em língua estrangeira deste Festival são legendados e já se ultrapassou a fase em que a sincronização não era famosa. Neste e noutros espectáculos que vimos esteve impecável.








(VI) A SONÂMBULA, baseado na ópera homónima de Bellini 

Falado em alemão parcialmente legendado, com algumas falas em inglês (o trompetista norte-americano, aliás co-autor do melhor da peça, com as árias cantadas). 

Sem dúvida interessante embora por vezes se tornasse irritante a mistura de sons, alguns levados ao paroxismo, levando até ao abandono da sala por vários espectadores e a alguma divisão do público no final. Consequências do querer fazer diferente e ser moderno o que nem sempre resulta. No entanto a beleza da música, isto é, dos trechos que se conseguem ouvir, do Bellini, segura parte do espectáculo. 

Não podemos esquecer aquelas cenas de humor que nos fazem sorrir, às vezes no limite da quase gargalhada, desencadeadas a partir das confusões no libreto original, resultantes do sonambulismo da personagem principal, a noiva e até que tudo se esclareça na intriga que Bellini utilizou e o encenador prosseguiu.


(VII) BREVÍSSIMA CONCLUSÃO

"A peça "Dr. Nest", da companhia alemã Familie Floz, foi eleita quarta-feira pelo público o Espectáculo de Honra do 35.º Festival de Almada, regressando na edição de 2019. 

Em segundo lugar ficou "A alegria", do italiano Pippo Delbono, e, em terceiro, "Bonecos de luz", da Companhia de Teatro de Almada (CTA), anfitriã do certame, que terminou quarta-feira à noite. 

Votaram 437 pessoas do público que assistiu quarta-feira à noite à peça "Federico García", que fechou o certame, a decorrer desde o passado dia 04." (Agência Lusa) 

Comentário: De fora da votação ficaram como habitualmente os espectáculos mais caros e este ano possivelmente os melhores, a que pude felizmente assistir por serem mais perto de casa. Ainda tive a expectativa de que seria finalmente este ano um "espectáculo da casa" o eleito, que aliás em minha opinião era muito bom. Esteve perto...
Fica o grande lamento de ter falhado muita coisa principalmente por falta de capacidade para as deslocações. 
As opiniões que ouvi dos amigos sobre o que viram foram muito díspares, mas isso é habitual. Os gostos, as sensibilidades e os interesses divergem: o que para alguns foi muito bom para outros foi fraco. 
Aqueles espectáculos em que a relação com o Cinema era grande também gostaria de não ter perdido. Comentários mais detalhados tenciono fazê-los quando tiver tempo e condições para isso.
E espero ainda ir ao 36º!






Sem comentários:

Enviar um comentário