Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

domingo, 1 de junho de 2014

O DOIDO E A MORTE, de Raul Brandão

SOBRE “O DOIDO E A MORTE”

Exactamente cinco anos depois revi no TMJB  (Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada) o espectáculo de teatro e ópera, brilhantemente concebido em 2009 por Joaquim Benite e que em 2014 é encenado pelo seu jovem assistente de então e agora seu continuador à frente da CTA (Companhia de Teatro de Almada).
A direcção musical continua a ser do autor da ópera, o compositor Alexandre Delgado, tal como o cenário da responsabilidade de Jean-Guy Lecat.
Pouco tenho a acrescentar à minha nota de simples espectador escrita em Junho de 2009 (ver abaixo). Desejo apenas salientar que, para mim, este espectáculo é simultâneamente inovador e didáctico, ao pôr em paralelo, e por vezes misturar, duas artes de palco, o teatro e a ópera, partindo de um mesmo texto, o da peça de Raul Brandão. Voltei a sentir, até por comentários murmurados por mim ouvidos, o fascínio do público quando se apercebeu que uma personagem, Nunes, era representado nas duas versões – a teatral e a operática, de maneira idêntica e pelo mesmo actor (Miguel Martins, tal como há 5 anos).
No conjunto mantiveram-se os principais actores, mudaram alguns cantores, mudaram todos os músicos mas a grande qualidade do espectáculo pelo menos manteve-se, com o nível dos desempenhos a  atingir o elevado nível que é habitual nos trabalhos desta Companhia.
Em suma, para mim “O Doido e a Morte”, de Raul Brandão, Alexandre Delgado e Rodrigo Francisco já está na lista do melhor que vi este ano e poderá nela permanecer apesar da fortíssima concorrência do que ainda aí virá, para já no incontornável Festival de Teatro de Almada.


Texto de 2009:

PROPOSTAS CULTURAIS E NÃO SÓ

Nº 25/09_2JUN09

Conforme já várias vezes escrito, estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida exclusivamente aos amigos, e não são Crítica! Muito menos de Cinema, Teatro ou Arte…

TEATRO

“O DOIDO E A MORTE” (1923), de Raul Brandão, encenações de Joaquim Benite, para a representação da peça pela CTA, e para a ópera de Alexandre Delgado.
Mesmo palco, mesmo cenário (magnífico, de Jean-Guy Lecat, para o enorme e belíssimo palco do TMA), um actor comum – Manuel Martins, em Nunes, o secretário do Governador Civil, para as duas representações – teatro e ópera - do famoso texto de Raul Brandão (1867-1930), ideia brilhante de Joaquim Benite e da CTA/TMA. Ambas muito bem conseguidas, com interpretações magníficas.
Quanto à peça, considerada por muitos como uma das grandes obras-primas do teatro português, apesar da sua curta duração, continua a surpreender-nos pela sua modernidade, pela sua crítica, por vezes mordaz, mas também pelo riso que provoca, sobre a sociedade em que vivemos e os seus actores principais: ”Confesso que menti… menti sempre que pude. Toda a minha vida foi uma mentira pegada.” (Governador Civil, perante a hipótese de morrer se o Senhor Milhões chegasse a cumprir o prometido, premindo o detonador da bomba de elevada potência, e perante a fuga de familiares (esposa) e todos os subordinados, incluindo o fiel Nunes), e sobre as profundas desigualdades dessa sociedade, há um século, ou hoje…
Em 1926, quando estreou no Teatro Politeama, em Lisboa, em benefício dos vendedores de jornais, quiseram suprimir-lhe a frase final “Ai o grande filho da puta!”, para não ferir “ouvidos delicados”, provavelmente dos beneméritos presentes, e fizeram descer o pano antes que o actor tivesse tempo de a pronunciar… No entanto, o sentido da obscenidade é ambíguo já que “o filho da puta” (O Doido), está afinal bem mais perto de nós, dos nossos anseios e sonhos, do que quem pronuncia a frase (O Governador).
Eram os tempos agitados dos finais da Primeira República, em que a extrema-direita aproveitava as debilidades do regime, e o descontentamento popular, para criar as condições que lhe permitissem o golpe definitivo contra o regime democrático, já muito periclitante, depois da primeira tentativa, apoiada pelas forças mais reaccionárias, e protagonizada por Sidónio Pais (1917-18). O golpe aconteceu nesse mesmo ano (1926), em 28 de Maio, dando origem ao estado fascista, consolidado com a aprovação da Constituição de 1933, já com Oliveira Salazar no poder.


2-Jun-2009


1 comentário:

  1. EGAS BRANCO

    Caríssimo,

    Sendo certo que filho da puta é o que é, não menos certo é que, de uma maneira ou de outra, nenhum de nós passa sem o vil metal e se isso é certo, tal significa que a todos o dito nos f ... lixa!

    Abraço

    Jaime Latino Ferreira
    Estoril, 2 de Junho de 2014

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