Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

quarta-feira, 4 de março de 2015

KILIMANJARO



KILIMANJARO, baseado em Ernest Hemingway, dramaturgia e encenação de Rodrigo Francisco, para a Companhia de Teatro de Almada


A dramaturgia deste espectáculo parte duma obra-prima do conto, "As Neves do Kilimanjaro", que Hemingway (1899-1961) escreveu em 1936, muito longe ainda do desenlance fatal que o afastou de nós quando muito haveria ainda a dizer e a fazer, pensamos. Mas junta-lhe excertos da restante obra do autor ("todas as frases nesta peça são do Hemingway, excepto uma", afirmou Rodrigo Francisco, autor da dramaturgia e da encenação). 

Para além das soluções cénicas, do desempenho dos actores, da tensão dramática atingida - tudo magnífico, quase sem falhas, obviamente que o fundamental é a visão que o autor do espectáculo nos quer dar do pensamento e obra do grande escritor, premiado com o Pulitzer em 1953 e com o Nobel em 1954. 

E nós espectadores procuramos o fio condutor que liga as várias cenas querendo sentir se corresponde, ou não, às nossas ideias. Se lhe acrescenta até alguma coisa, para nós. Porque o teatro tem, pelo menos na minha opinião, sempre o objectivo de falar da vida. E se assim não for confesso que pouco me interessa.

As inquietações do escritor, a sua busca de realização - na escrita, na vontade de viver (a que alguns chamam espírito de aventura) os grandes acontecimentos do seu tempo, na participação cívica - as guerras em que, pensamos nós, quis ajudar a combater "o mal", a combater o nazi-fascismo, em Espanha e na Europa, no amor, transformam-no num ser humano invulgar, que apesar do seu interesse pelos outros, pela sorte deles, atravessará grandes momentos de solidão. 

Por nos ter transmitido parte disto, o espectáculo torna-se também nosso e mais que pela proximidade física aos actores é por aí que nos prende, nos interessa. MUITO BOM!





Mas há mais qualquer coisa que quero dizer: ao pensar no homem que Hemingway foi, ao pensar no amor a Cuba, ao pensar em "O Velho e o Mar" (outra obra-prima entre as várias que criou), ao pensar na inesquecível foto com Fidel (em 1960), ao pensar na Revolução a que assistiu e em que participaram alguns dos seus amigos, tenho pena, muita pena, que não tivesse conseguido ultrapassar as suas inquietações interiores e pudesse, por muitos e bons anos, continuar a ser visto no velho bar de Havana e a escrever sobre os outros ... e sobre si. Faltou-lhe alguém, talvez, que lhe tivesse feito sentir isto, por muito difícil que o seja, como quase todos sabemos.


NOTA: texto publicado inicialmente no Facebook

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