Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

quarta-feira, 4 de março de 2015

RATOS E HOMENS




RATOS E HOMENS 

Escrito em 1937, por John Steinbeck (27-Fev-1902, Salinas, Califórnia - 20-Dez-1968, NYC) 

Já não me lembro quando li pela primeira vez, na juventude, esta obra de Steinbeck. Mas é uma das histórias que nos tem acompanhado toda a vida. 

Drama dos explorados e oprimidos nuns EUA em plena crise do capitalismo, numa das cíclicas crises do sistema, esta a de 1929, uma das maiores, que causou milhões de desempregados, aliás tal como a actual, neste início de século, porque são sempre os trabalhadores que pagam as crises para que o grande capital as aproveite para se manter ou quase sempre para aumentar os seus proventos. E se necessário for lança-se em guerras em que mais uma vez são os soldados provindos do povo, utilizados como carne para canhão, que irão morrer em massa. Foi assim na crise de 29, com a grande guerra de 1939-45, mas a guerra já começara a ser preparada antes, em Espanha. Então o fascismo tinha crescido, aproveitando-se da miséria das massas e os grandes estados capitalistas, governados por políticos burgueses, pensaram em lançá-lo contra a União Soviética, o primeiro estado dirigido pelos trabalhadores. Não contaram todavia com a força do povo soviético e acabou por ser o fascismo a ser derrotado, mas com o sacrifício de muitos milhões de seres humanos, em especial na União Soviética. 

Só pretendi situar o drama no tempo e no espaço. Embora nada disto tenha sido explicitado por Steinbeck, sabemos que foi assim. Os desenraizados, os sem trabalho, seres errantes no imenso território dos EUA, à procura de uma qualquer ocupação, ainda que difícil, sem direitos, sem garantias de nenhuma espécie. Aliás não só nos EUA, também na Europa e ainda há dias o víramos mostrado no também excepcional filme documento "O Espírito de 45", de Ken Loach. 

E os mais vulneráveis serão ainda as vítimas maiores. O que então nos impressionou e continua a impressionar em "Ratos e Homens", quase uma vida inteira decorrida, é a solidariedade entre seres humanos e a esperança de melhores dias, que nunca morre. 

O querer auxiliar os mais fracos. O nunca os deixar para trás, entregues à sua sorte, num mundo hostil e sem a protecção a que deveriam ter direito. Uma sociedade que não trate dos seus elementos mais frágeis não é digna desse nome. Pensei assim na juventude e continuo a pensá-lo agora. Quando oiço alguém defender a lei do mais forte e que os desprotegidos, ou os sem recursos, qualquer que seja a causa, devam ser ignorados, ou liquidados como defendem os fascistas, isso para mim é uma aberração e nunca o aceitarei. 

Na história que Steinbeck criou, o final é um libelo, não contra o trabalhador que só quer defender o companheiro até ao fim, mas contra a sociedade que cria condições para que a tragédia possa acontecer. Mas também sabemos como às vezes os mais miseráveis e despolitizados se tornam injustos e cruéis para os seus semelhantes, principalmente contra os que são mais fracos que eles. O pior e o melhor do ser humano vem ao de cima nas grandes crises. Steinbeck conseguiu fazer-nos sentir isso e esta belíssima adaptação ao teatro ainda mais. Pondo em confronto os sonhos daqueles homens, de um mundo mais justo e melhor para todos e a realidade cruel de exploração e miséria para a grande maioria. Julgo que foi por isso que outro dia, quando fui ver a peça, a tensão dramática subiu a níveis tão raros que a emoção se instalou no palco e na plateia quando o espectáculo terminou. Isso é grande teatro em qualquer parte do mundo! 


Esta realização do Intervalo Grupo de Teatro é magnífica, muito bem interpretada pela equipa que o constitui, dirigida pelo saber de Armando Caldas, que consegue sempre maravilhas dos seus excelentes actores e actrizes. Aqui sente-se uma vez mais como o trabalho de grupo é importante. No final do espectáculo pensei que gostaria de ver esta brilhante encenação num grande festival de teatro porque julgo que teria condições para aí ser devidamente apreciada.







NOTA: Texto publicado inicialmente no Facebook

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