Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

MANUEL CINTRA FERREIRA - OS CRÍTICOS DE QUE GOSTAMOS

CINEMA - mas não é mais importante que a Vida, como alguns parecem quase sugerir... ("Público", P2, pág 7)

Para mim, a vida é assim: 

Desaparecimentos que nos tocam, pela grande admiração que tínhamos por quem deixa o nosso convívio (ainda que fosse só seu leitor) - Manuel Cintra Ferreira, (Lisboa,1942- 2010), emérito crítico e colaborador da Cinemateca, cujos escritos líamos sempre com gosto, mesmo que as opiniões fossem às vezes diferentes. 

(Re)Nascimentos que nos agradam - mais um Cinanima - Festival Internacional de Cinema de Animação, em Espinho (8-14 de Nov), e logo abrir com mais uma obra do Sylvain Chomet, o cineasta francês, autor do magnífico "Belleville Rendez-Vous"!

"COPIE CONFORME" (Cópia Certificada), de Abbas Kiarostami



CÓPIA CERTIFICADA (Copie Conforme)

Aos amigos cinéfilos e aos que gostam de Cinema:
Embora agora (mas é sempre!) a prioridade seja para as LUTAS (pelos nossos direitos, pela nossa vida) que se avizinham, aí vai uma sugestão para os tempos de descanso, onde a Cultura deve ter uma parcela importante.
Não deixar de ver (para além. claro, do excepcional "JOSÉ E PILAR", que ontem se estreou) a última e magnífica obra do célebre cineasta iraniano, Abbas Kiarostami (Teerão, 1940), uma das grandes figuras actuais da Sétima Arte.
É "CÓPIA CERTIFICADA" (Copie Conforme), com um admirável par de actores, William Shimell e Juliette Binoche (a famosa actriz francesa, num dos seus melhores papéis no cinema).
Admirável reflexão sobre o (des) relacionamento entre os que decidem viver em conjunto, mas também sobre a Arte e, muito em particular, sobre o Cinema e como este pretende reflectir a realidade (entre cópias e originais...). Este tema dava "pano para mangas" (que o FB não permite), dada a maneira inteligente como o realizador o abordou.
Aliás, Kiarostami não cessa de nos surpreender, logo a seguir ao inesperado e brilhante ensaio sobre a sua arte de eleição, que era "Shirin" (onde Juliette Binoche também colaborou).
Já vi, surpreendentemente ou talvez não (filme demasiado subtil?), que a maioria da crítica portuguesa (com as excepções do costume! Posso rir-me?) não gostou muito. No entanto trata-se, em minha opinião, de mais uma obra de arte deste grande cineasta iraniano!


IN MEMORIAM LUIS BERLANGA



IN MEMORIAM - Luis Berlanga (12-Jun-Valência, 1921 - 13-Nov-2010)

Provavelmente os jornais noticiaram, ou a TV, ou a rádio, mas, como já nos habituaram, sem o relevo que as grandes personalidades da cultura mereceriam. E até as notícias da Cinemateca me escaparam desta vez...
Confesso que não vi, ouvi ou li. Foi agora, ao abrir o "Avante!" de hoje, que dei pela notícia do desaparecimento deste inesquecível cineasta espanhol, presidente honorário da Academia Espanhola de Cinema, Director da Filmoteca Nacional, a partir de 1975, ano da queda do franquismo. Com uma obra notabilíssima, apesar da feroz censura do fascismo franquista.
"Bienvenido Mr.Marshall" (1952), "Plácido" (1961), "El Verdugo" (1963) são obras maiores, deste cineasta, que utilizou o humor e a farsa, para fazer crítica social, por vezes ácida. Por esse motivo teve muitas dificuldades em obter autorização da censura para fazer os seus filmes, tendo alguns sido completamente retalhados (ver Dictionnaire du Cinéma, Larousse).

"WALL STREET, MONEY NEVER SLEEPS", de Oliver Stone


Oliver Stone e os seus intérpretes

É uma sequela da sua obra homónima, de há mais de uma dezena de anos. O cineasta, um dos melhores da sua geração, é no entanto, um dos mais mal-amados pela crítica neoliberal (ou ainda mais à direita), como aliás Michael Moore,  pelas mesmas razões. As críticas, por vezes violentas, que ambos fazem ao sistema capitalista, por dentro, já que são cidadãos norte-americanos, um até é católico (Moore), não são comunistas, mas reconhecem que o capitalismo é uma desgraça para os povos.
Neste filme, são a especulação financeira e os seus malefícios que estão em causa e que Stone descreve sem hesitações, e também a ganância pelo lucro a qualquer preço que move os especuladores.
Vale a pena ver, porque está muito bem feito e interpretado. Ao contrário do que dizem os que perseguem o filme por razões ideológicas, ele está, como cinema, uns degraus a cima do nível médio das produções estado-unidenses.

RUIZ, BOTELHO E RIVETTE

PEQUENAS NOTAS SOBRE TRÊS BELÍSSIMAS OBRAS

De Raúl Ruiz, João Botelho e Jacques Rivette, um chileno, um português e um francês. Grande cinema!

Talvez seja raro mas, em vésperas da estreia do magnífico filme "José e Pilar", de Miguel Gonçalves Mendes, grande sucesso no DOCLISBOA deste ano, com honras de Sessão de Abertura, vai verificar-se que três das melhores obras e mais interessantes que poderão ser vistas neste país, são filmes de produção portuguesa, embora um deles, "Mistérios de Lisboa", seja realizado por um famoso cineasta, nascido no Chile, mas exilado desde 1973, Raúl Ruiz. Quanto ao terceiro é a extraordinária obra de João Botelho, "Filme do Desassossego".

Relembrar ainda que "José e Pilar", homenageia o nosso Nobel, José Saramago, e sua mulher, Pilar del Rio. "Mistérios de Lisboa", adaptam um romance de Camilo de Castelo Branco e "Filme do Desassossego", baseia-se em "O Livro do Desassossego", de Fernando Pessoa, publicado sob o pseudónimo de Bernardo Soares.
De facto, exceptuando as obras de Roman Polanski ("O Escritor Fantasma"), de Oliver Stone ("Wall Street"), de Juan Jose Campanella ("O Segredo dos Teus Olhos") e de Jacques Rivette ("36 Vistas do Monte Saint-Loup") e, eventualmente do filme de David Fincher, o resto, salvo erro e omissão, é lamentavelmente descartável!
A Cultura deste país, que tão maltratada tem sido por este governo e anteriores, dirigidos por gente de fraca cultura, aparece neste domínio, como em muitos outros, a mostrar que, apesar de todas as dificuldades, tem grandes valores.

"MISTÉRIOS DE LISBOA", de Raúl Ruiz (25-Jul-1941, Puerto Montt, Chile).


São cerca de 4h30' de filme (com 10' de intervalo), mas acreditem que vale a pena. Realizado por um famoso realizador chileno (mas que vive na Europa desde o golpe fascista de Pinochet, em 1973, no qual o Presidente Salvador Allende foi assassinado, assim como mais alguns milhares de chilenos).
De Ruiz víramos recentemente (2006), outro filme magnífico, "KLIMT", sobre o famoso pintor, que os "críticos conservadores" (para ser suave) desconsideraram, coragem que agora não tiveram, em face do êxito retumbante e universal dos "Mistérios"...


"Mistérios de Lisboa" é uma brilhante adaptação da obra homónima do nosso Camilo de Castelo Branco (que li aos 16 anos, tal como mais cerca de 40 obras desse grande escritor. Aparentemente não me fez mal... Posso rir-me?).
Folhetinesco, até há quem lhe chame "rocambolesco" (à maneira, salvaguardas as devidas diferenças, do célebre folhetim de Ponson du Terrail, que fez as delícias da nossa adolescência - outros quarenta volumes, esses da "Romano Torres"!), mas se calhar não muito diferente das recentíssimas novelas, televisivas ou não, a não ser na enorme qualidade literária de Camilo, e no seu retrato, real mas nada lisonjeiro, da sociedade da época (século XIX) e na também enorme qualidade do cinema de Ruiz.
Só três referências indispensáveis:
- ao autor do argumento, Carlos Saboga, que tal como em obras anteriores, também de excepção - "O Milagre Segundo Salomé" (José Rodrigues Miguéis) e "Um Amor de Perdição" (Camilo), ambos realizados por Mário Barroso - mostrara a sua mestria na adaptação de grandes clássicos da nossa Literatura.
- à extraordinária música de Luís de Freitas Branco (1890-1955), um dos maiores compositores portugueses, membro de uma ilustre família de músicos e musicólogos
- a um actor, embora a direcção de actores (a maioria são portugueses) seja magnífica, não se vendo nela dissonâncias, que é Adriano Luz, na misteriosa e fascinante figura do Padre Dinis.

Amigos, vão ver os "MISTÉRIOS" e esqueçam o que está em exibição (partindo do princípio que já viram "O Escritor Fantasma", "Wall Street", "O Segredo dos Seus Olhos" ou, em menor grau, as "36 Vistas")





"FILME DO DESASSOSSEGO", de João Botelho, baseado em "O LIVRO DO DESASSOSSEGO, de Fernando Pessoa, assinado sob o pseudónimo de Bernardo Soares. 
Uma interpretação em imagens, mas com uma maioria de textos do poeta, dessa sua estranha e fascinante obra. 

Um dos críticos de cinema que vale sempre a pena ler, Mário Jorge Torres disse sobre o filme "(...) talvez sem a perfeição inteira de «Conversa Acabado» (...)". Pessoalmente substituiria o "talvez sem" por "com"!
Obra, por vezes de uma beleza sublime, faz parte, em minha opinião, das obras maiores deste cineasta (e já são algumas!).
Os extraordinários textos de Pessoa, com as reflexões que sempre suscitam em quem os lê ou ouve, mesmo que nem sempre acompanhemos as do poeta, assumem enorme relevo na obra de João Botelho. E um momento capital é sem dúvida a "Educação Sentimental", dita maravilhosamente por Catarina Wallenstein. Mas sob os nossos olhos (e ouvidos) desfila uma enorme galeria de actores (e cantores) que nos habituámos admirar. Injusto seria no entanto não referir especialmente um excepcional Cláudio da Silva, no protagonista. Tal como o trecho de ópera, "Marcha Fúnebre", de um compositor português contemporâneo Eurico Carrapatoso, de que gostamos também muito.

Um dos melhores filmes deste grande cineasta português. 
Visto fora do circuito comercial habitual, com as suas cocas e pipocas, que Botelho detesta e eu também. Exibido em salas de teatro e de concerto. Pessoalmente vi-o no magnifico auditório principal do Teatro Municipal de Almada, repleto de público.

"36 VISTAS DO MONTE SAINT LOUP" (36 Vues du ...), de Jacques Rivette - do antigo crítico (às vezes algo irresponsável) dos Cahiers du Cinema, uma homenagem ao circo, mas também ao teatro, com o "savoir faire" deste cineasta. 
O autor do famoso "A Religiosa", adaptando o célebre romance de Diderot, e que foi uma das suas primeiras obras, demonstra estar em plena forma, nesta fase da sua obra, com estas "36 Vistas...".

JOSÉ & PILAR, BOXING GYM, KONSOMOL - A SONG OF HEROES, LA JETÉE





Três citações especiais, de obras magníficas, vistas este ano no mais carismático dos Festivais de Cinema que se realizam em Portugal (DOCLISBOA) e mais uma no Festival de Cinema do Estoril/Cascais.

"JOSÉ & PILAR" (POR, 2010), surpreendente, pela qualidade, documentário realizado por Miguel Gonçalves Mendes, sobre o nosso Nobel da Literatura (1998), José Saramago e sua mulher, a jornalista Pilar del Rio, que acompanhou as últimas décadas, muito fecundas, deste escritor, que muitos consideram no topo da Literatura Universal (Harold Bloom, famoso crítico norte-americano), opinião que partilho.


"KOMSOMOL, SONG OF HEROES"  (URSS, 1932), de Joris Ivens (Nijmegen, Holanda, 18-Nov-1898 - Paris, 28-Jun-1989) - 


Uma das obras máximas deste famoso documentarista, mestre dos mestres, observador privilegiado de acontecimentos políticos e sociais, ímpares, do século XX, que nesta obra acompanha o entusiasmo do povo na construção da primeira nação socialista da História da Humanidade. Este filme foi incluído na retrospectiva do cineasta, exibida neste Festival.



Joris Ivens filmou na Argélia, no Vietname, no Chile (acompanhando uma campanha eleitoral de Salvador Allende (em 64), nos novos países socialistas surgidos com a derrota dos conservadores após a 2ª guerra mundial (39-45), em Espanha (acompanhando Hemingway, do lado das forças republicanas e democráticas, durante a Guerra Civil de 36-38), na URSS (onde filmou a extraordinária obra de hoje - "Komsomol - Sonho de Heróis" (em 1932) ), na República Popular da China, etc.


A sua longa obra, além de ser Arte, constitui também, em grande parte, um importante documento de muitas lutas pela Liberdade e por um Mundo mais justo, sempre do lado dos Povos, e ficará como um retrato do Século XX, no que ele teve de melhor!

BOXING GYM (EUA, 2010), de Frederick Wiseman - durante hora e meia, este grande documentarista norte-americano, acompanha a vida num ginásio (Lord's Gym), dirigido por um antigo lutador de boxe profissional. O que é admirável é que Wiseman conseguiu dar um retrato do que poderiam ser uns EUA, onde se vivesse efectivamente em Democracia, com gente das mais diversas proveniências, de todas as cores de pele, com as mais variadas culturas, que ali convivem e partilham sentimentos e preocupações, ao mesmo tempo, que lá fora, o ódio, a violência, a indiferença e muita desigualdade social, imperam! 
"BOXING GYM", é outra espécie de "bailado", principalmente de pés e mãos, pontuado pelo obsessivo som do matraquear das bolas e dos sacos de treino, em contraponto com as conversas que nos revelam infelizmente a existência de mundo pouco recomendável fora das quatro paredes daquele ginásio. A visão humanista do que poderia ser aquele país, se nele houvesse democracia e aquela multiplicidade de sensibilidades, de culturas, de cores de pele pudessem construir uma sociedade sem desigualdades. Frederick Wiseman, o famoso documentarista norte-americano, utiliza o contraponto, como uma imagem de marca, entre aquela actividade no ginásio, por vezes frenética, e as imagens, muito belas, da cidade, em silêncio, que o rodeia.


LA JETÉE (1962), de Chris Marker (Paris, 1921)

Do fotógrafo e realizador francês, autor de "Cuba, si!", de 1961. Há quem considere "La Jetée" (a exibir, no Casino do Estoril, no âmbito da retrospectiva de Chris Marker, no respectivo Festival de Cinema) como um dos mais belos filmes da história do cinema. No entanto são só cerca de 30' de fotografias, que contam uma história de ficção científica. Porém, um dos momentos mágicos do filme tem a ver com um curto (e único) movimento, um simples piscar de olhos no belo rosto de uma mulher. Não sonhei, pois não?



"JOSÉ & PILAR", de Miguel Gonçalves Mendes

Admirável abertura para o DOCLISBOA, no grande auditório da CULTURGEST, com a obra do cineasta português Miguel Gonçalves Mendes, "José & Pilar"!
Empolgante e comovente homenagem a dois seres de excepção. O longuíssimo aplauso final de todo o público, de pé, à obra, ao autor e aos protagonistas, foi um momento único, que será inesquecível. A presença de Pilar del Rio tornou esse momento ainda mais impressionante, pelo que revela da enorme admiração do público por José Saramago e sua mulher.




INTERVALO GRUPO DE TEATRO - SEMANA CULTURAL

CORREIA DA FONSECA, leu o magnífico texto que escreveu para a homenagem que o Intervalo - Grupo de Teatro fez ao Maestro António Vitorino de Almeida, na passagem do 55º aniversário de actividade do compositor, músico, escritor, cineasta. Texto que suscitou, o aplauso, de pé, da assistência que transbordou o auditório Lourdes Norberto. Diga-se que foi uma sessão inesquecível, contando com a presença de grandes figuras da nossa cultura, como Carlos do Carmo (que cantou!), Olga Prats, Maria do Céu Guerra e Júlio Pomar. Além do incansável dinamizador desta anual Semana Cultural, o actor e encenador Armando Caldas.



INTERVALO GRUPO DE TEATRO - SEMANA CULTURAL


O Intervalo - Grupo de Teatro (ex- Primeiro Acto) fez 41 anos, e continuam a dirigi-lo alguns dos membros fundadores, numa persistência notável em prol da cultura.
Desde há décadas que este grupo organiza anualmente uma Semana Cultural, por onde têm passado grandes nomes da cultura do nosso país E é mais uma vez o que está a acontecer esta semana, entre 11 e 17 de Outubro. Com sessões no Auditório Lourdes Norberto, em Linda-a-Velha, com a sala permanentemente esgotada. Mário Jacques, Manuela Maria, António Vitorino de Almeida, Vitorino, Maria da Fé, Simone de Oliveira, serão os homenageados este ano, um em cada dia da semana, acompanhados por cantores, por eles, convidados. A dinamização de tudo isto é da responsabilidade do encenador e dos actores do grupo. O actor e encenador Armando Caldas, ao longo destas mais de quatro décadas, tem dirigido o grupo, com alguns espectáculos notáveis, de grande sucesso, como "Dom Quixote" e "O Tinteiro". Se ainda não conhecem, experimentem ir um dia a Linda-a-Velha e é quase certo que ficarão fãs deste grupo de teatro, de enorme carisma e muita qualidade (foi o que me aconteceu e agora não gosto de falhar nenhuma das realizações do Intervalo).