Cultura!

Cultura!

OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

domingo, 24 de fevereiro de 2013

DJANGO UNCHAINED (Django Libertado), de Quentin Tarantino


RECOMENDAÇÃO CINÉFILA – DJANGO UNCHAINED (Django Libertado)

Quentin Tarantino (Knoxville, Tennessee, EUA, 27-Mar-1963) regressa aos grandes ecrãs dos cinemas lisboetas com outra excelente obra, com argumento do próprio cineasta. Sobre a Escravatura nos EUA, a acção do filme passa-se ainda antes da Guerra Civil (da Secessão) (1861-1865), que alastrou pelo país até à derrota dos partidários da escravatura. E em que, caso raro na filmografia sobre o tema, os heróis são os escravos! E saiem vitoriosos no final...

Não deixa de ser curioso olhar as recomendações dos críticos dos jornais dominantes portugueses (DN e Público). É que as opiniões, entre os críticos mais radicais, à direita, extremam-se entre o muito mau e o excepcionalmente bom... Porquê? Se a primeira posição parece lógica, aliás coincidente com posições claramente de extrema-direita do crítico, a segunda, mais conotada com um neo-liberalismo de fachada, aparentemente não será tão lógica.

O autor de CÃES DANADOS (Reservoir Dogs), que foi a sua obra de estreia (1992), e que espantou então a crítica no Sundance Film Festival (conhecido festival de cinema, no Utah), também de PULP FICTION (1994), a sua obra-prima e ainda da recente paródia anti-fascista, SACANAS SEM LEI (Inglourious Basterds) (2009), que nos divertiu apesar da sua deturpação histórica, volta ao “western”, por vezes de uma violência extrema, daí provavelmente (além da participação Franco Nero, no pequeno papel de um esclavagista que se dedica à promoção de lutas de escravos) a razão das referências, da crítica dos Media a propósito deste filme, ao género conhecido por “Western Spahetti”, que os estúdios italianos a certa altura produziram, com alguns bons resultados (nomeadamente os filmes de um excelente cineasta, Sergio Leone e de que Franco Nero foi um dos actores mais conhecidos). E também há quem refira como outra referência, um nome célebre do cinema norte-americano, o realizador Sam Peckinpah (1925-1984), em especial no mais famoso dos filmes deste cineasta de origem índia (julgo que o único grande realizador com esta ancestralidade), “Wild Bunch”, em que a violência no ecrã atingia níveis raros. Julgo residir aqui fundamentalmente a razão do tal incensamento por parte da tal crítica atrás referida.

Mas, por outro lado, a verdade é que não conseguimos ver DJANGO LIBERTADO sem uma grande emoção, e isso é um grande mérito da realização, por vezes brilhante, de Tarantino, que provoca a ira de quem vê perante a realista reconstituição das atrocidades cometidas pelos colonos do velho Farwest contra os escravos negros, e contra os índios também obviamente (o que este filme não mostra). Indignação que depressa atinge os níveis do ódio nos nossos corações, contra esta abjecção humana que foi a Escravatura, em especial esta, a que deu um contributo importante e muito sombrio do ponto de vista humano, à história da formação dos EUA, à semelhança aliás do genocídio índio.

No entanto, Tarantino é também muito sarcástico quando mostra que tudo se resolve se aparecer alguma perspectiva de grande negócio, isto é, de muito dinheiro. E mesmo os mercenários da empresa mineira, que transportam em jaulas os escravos negros, comprados aos grandes fazendeiros e levados acorrentados para o inhumano trabalho nas minas, escravos que só terão possibilidade de se libertarem com a morte, esses mercenários também são tentados pela mira de ganhar muito dinheiro (Tarantino aparece aqui como actor e não se livra de apanhar um tiro mortal...).

As semelhanças com a actual sociedade capitalista norte-americana continuam a ser mais que óbvias, onde o dinheiro tudo permite, tudo consente...

Não me quero alongar por agora muito mais . Recomendar apenas que, a menos que sejam muito impressionáveis, porque as reconstituições são realistas, que não deixem de ver este filme.

E recomendar ainda para repararem numa cena do filme, quando Django se liberta dos mercenários que o pretendem conduzir para a mina, e deixa aberta a jaula onde os seus companheiros de fuga aguardam. Fizeram-me lembrar alguns compatriotas meus...

E, a cena final, quando o último dos inimigos com que se depara Django (Jammie Foxx) é Stephen (Samuel L.Jackson), o escravo que como paga da sua subserviência e traições aos seus irmãos de classe, é promovido a acólito do patrão, à semelhança de alguns que infelizmente conhecemos...

As interpretações são excelentes, como Christopher Waltz (no dentista Dr.Schultz) e Leonardo DiCaprio (no fazendeiro Calvin Candie), este com um excepcional momento quando debita o seu discurso da superioridade da “raça branca”, ao melhor estilo nazi-fascista..
Digamos que o tema de fundo da obra é a revolta, desta vez vitoriosa, dos escravos contra os patrões esclavagistas ou negreiros se assim lhe preferirem chamar. A essa revolta dos escravos negros nos EUA faltou no entanto a organização protagonizada por outro escravo famoso, Spartacus, que fez tremer o Império Romano, e que por isso continua a ser um exemplo para todos os que lutam pela Liberdade dos Povos.

No final Django, e a sua amada, a bela Broomhilda (Kerry Washington) partem livres. Aliás foi esta belíssima actriz que afirmou a propósito do filme de Quentin Tarantino: “Quis fazer “Django” pelo meu pai. Porque o meu pai cresceu num mundo onde não havia super-heróis negros. E é isso que este filme é.”


(publicado no facebook em 24-Fev-2013)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

GRANDES CLÁSSICOS - O RIO SAGRADO (The River) (La Fleuve), de Jean Renoir

THE RIVER (La Fleuve) (O Rio Sagrado), de Jean Renoir

Para quem puder, que veja hoje, na Cinemateca Portuguesa, às 21.30, outra obra-prima absoluta, "The River" (La Fleuve) (O Rio Sagrado), de um dos grandes Mestres da Sétima Arte, Jean Renoir. 
É uma obra de 1951. 

Também está na minha "lista inicial" (ver meu post anterior, sobre "Ladrões de Bicicletas"). 

Julgo não errar se disser que é dos filmes mais amados, mas só por alguns. 
Na obra de Renoir, e na História do Cinema, não terá a importância de outras das suas obras fundamentais, como "A Grande Ilusão" ou "A Regra do Jogo". É no entanto para muitos, para mim também, um filme admirável.


http://images.search.conduit.com/ImagePreview/?q=the%20river%2C%20jean%20renoir&ctid=CT3241941&searchsource=15&CUI=UN34371507074683905&UM=UM_ID&start=0&pos=3

Não é propriamente um filme sobre Índia. Para isso vejam-se outras obras extraordinárias, como as de Satiajit Ray, em especial a sua obra-prima, a trilogia "Apu". 
No "Rio" são os colonos ingleses, que por ali viveram durante a época colonial, até à independência, os personagens em primeiro plano. 


http://images.search.conduit.com/ImagePreview/?q=the%20river%2C%20jean%20renoir&ctid=CT3241941&searchsource=15&CUI=UN34371507074683905&UM=UM_ID&start=0&pos=0

A obra tem, no entanto, qualquer coisa de secular, como a civilização daquele grande país (que os colonialistas não deixaram de retalhar). Sobre a existência do Homem, com a sua demasiado breve duração. Da sua relação com a Natureza, que aos nossos olhos quase parece imutável - a floresta, o rio - apesar dos atentados que contra ela se cometem. 

Admirável obra que o tempo não desgastou.

(também publicado no facebook)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

GRANDES CLÁSSICOS - LADRÕES DE BICICLETAS (Ladri di Bicicletti)


LADRÕES DE BICICLETAS (Ladri di Biciclette), de Vittorio de Sica

Para quem possa, ver hoje, segunda-feira, 21.30, na Cinemateca Portuguesa. Julgo que será sem dúvida um dos mais belos e tocantes filmes da História do Cinema, obra-prima do Neo-Realismo Italiano, realizada no post-guerra, em 1947, por Vittorio de Sica. 




http://images.search.conduit.com/ImagePreview/?q=ladr%C3%B5es%20de%20bicicletas&ctid=CT3241941&searchsource=15&CUI=UN34371507074683905&UM=UM_ID&start=0&pos=22

A história de um pai e um filho à procura da sua bicicleta roubada, necessária para o trabalho daquele homem, numa Roma saída da hecatombe mundial causada pelo fascismo e pelo nazismo. 

Foi o topo da lista dos críticos, no famoso inquério da "Sight and Sound" (1952), mas em 2012 surge ainda na lista dos 10 Melhores Filmes de Todos os Tempos, escolhidos pelos realizadores, no mesmo inquérito! ("o mais humanista e político filme da história", Roy Anderson).

"Aos amigos cinéfilos

O comentário de um amigo ao afirmar que determinada lista que fizera se referia aos “filmes que mais o tinham tocado e que não esquecera”, fez-me pensar em elaborar uma síntese dedicada às obras cinematográficas que mais me marcaram.

É um exercício difícil dado que joga essencialmente com a memória, principalmente das emoções. Algumas obras, que também me impressionaram muito, ficaram provavelmente neste momento esquecidas. Há cenas, em especial da luta antifascista, que tanto marcaram a minha adolescência e juventude, que permanecem como marcas que o tempo penso nunca apagará da minha memória, mesmo que sejam de obras menores. Mas eis uma lista possível, por ordem cronológica:

As Vinhas da Ira (The Grapes of Wrath), John Ford, 1940
Casablanca, Michael Curtiz, 1942
Ladrões de Bicicletas (Ladri di Biciclette), Vittorio de Sica, 1948
Os Contos de Hoffman (The Tales of Hoffman), Michael Powell/Emerich Pressburger, 1951
O Rio Sagrado (The River), Jean Renoir, 1951
Shane, George Stevens, 1953
A Estrada (La Strada), Federico Fellini, 1954
Um Homem tem três metros de altura (A Man is Ten Feet Tall), Martin Ritt, 1957
Rocco e Seus Irmãos (Rocco e i Suoi Fratelli), Luchino Visconti, 1960
West Side Story, Robert Wise, 1961

Atenção – nasci em 38, em 1961 tinha 23 anos e da minha lista estão ausentes cinematografias fundamentais como a soviética, mas tive a infelicidade ter nascido durante a mais longa ditadura fascista da história, a portuguesa, de 26 a 74, o que significa que só conheci a liberdade no meu país aos 36 anos! Algumas das obras que mencionei foram vistas com cortes. Só muito mais tarde pude conhecer finalmente as versões integrais. Muitos dos filmes em falta neste período da minha vida só os vi no estrangeiro, já em plena maturidade, a partir dos 32 anos, razão porque os não menciono.
Todos os filmes que considerei fazem parte da história do Cinema e da Cultura. Alguns são Obras Primas absolutas. Mas a mim estas obras ensinaram-me essencialmente a compreender melhor o Mundo e a amar a Liberdade, a Fraternidade e a Igualdade entre os Homens. A sentir que a Arte e a Cultura são inseparáveis de uma condição humana superior. A considerar sempre que, mesmo nas condições mais adversas, a Luta por um Mundo Melhor é um objectivo supremo duma condição humana que se deseje dignificada. 
15abr03"

(publicado em post no Facebook)