Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

sábado, 19 de dezembro de 2015

BALANÇOS 2015 - (II) - TEATRO

TOP 10 - AS MINHAS PREFERÊNCIAS DE 2015
(II)- NO TEATRO


A TRAGÉDIA OPTIMISTA, de Vsevolod Vichnievski / Rodrigo Francisco / CTA
AL PANTALONE, de Mário Botequilha / Miguel Seabra / Teatro Meridional
E OS TEMPOS MUDAM, de Bertold Brecht / Manfred Krage / Berliner Ensemble
FRÄULEIN JULIE (A MENINA JÚLIA), de August Strindberg/Katie Mitchell/Schaubuhne
GATA EM TELHADO DE ZINCO QUENTE, de Tennessee Williams/Jorge Silva Melo/A.U.
KILIMANJARO, de Ernest Hemingway/ Rodrigo Francisco / CTA
O CONTRABAIXO, de Patrick Süskind/António Fonseca / Teatrão
O PELICANO, de August Strindberg/ Rogério de Carvalho / CTA
RATOS E HOMENS, de John Steinbeck/ Armando Caldas / Intervalo G.T.
MEMÓRIA DA REFORMA AGRÁRIA, Luís Varela / CENDREV


OBSERV: Foi um ano em que fui muito menos ao Teatro, por razões de saúde. Estes foram os espectáculos de que mais gostei ao longo do ano. Note-se que AL PANTALONE foi uma revisão, na sessão de encerramento do Festival de Almada, mas foi tão brilhante que não quis deixar de referir de novo este ano! 


BALANÇOS 2015 - (I) - CINEMA

TOP 10 - AS MINHAS PREFERÊNCIAS DE 2015
(I)- NO CINEMA

1.1-LONGAS-METRAGENS:
AS MIL E UMA NOITES, de MIGUEL GOMES (POR)
FUTATSUME NO MADO (A QUIETUDE DA ÁGUA), de NAOMI KAWASE (JAP)
GUI LAI (REGRESSO A CASA), de ZHANG YIMOU (RPC)
IRRATIONAL MAN (O HOMEM IRRACIONAL), de WOODY ALLEN (USA)
MIA MADRE (MINHA MÃE), de NANNI MORETTI (ITA)
MISS JULIE, de LIV ULLMANN (SUE)
PHOENIX, de Christian Petzold (ALE)
QUE HORAS ELA VAI VOLTAR, de ANNA MUYLAERT (BRA)
SICARIO, de DENIS VILLENEUVE (CAN)
SPIRIT OF '45 (O ESPÍRITO DE 45), de KEN LOACH (GBR)

1.2-DOCUMENTÁRIO PREFERIDO:
CITIZEN FOUR, de LAURA POLTRAS (USA)

1.3-REVELAÇÂO:
MONTANHA, de JOÃO SALAVIZA (POR)

1.4-OBRA QUE MAIS DETESTEI ESTE ANO
BRIDGE OF SPIES (A PONTE DOS ESPIÕES), de STEVEN SPIELBERG (USA)


OBSERV: Notas sobre todos estes filmes podem ser encontradas ao longo da minha página do Facebook ou no meu blogue ou (os que passaram o crivo) no cartaz de cinema do Público. Falhei pouca coisa que possa admitir poder eventualmente  alterar esta lista...


NOTAS CINÉFILAS

Meia dúzia de obras, no teatro e no cinema, vistas recentemente (com estrelas de gosto e tudo, de 0 a *****!)

1-Tudo Vai Ficar Bem (Everything Will Be Fine), de Wim Wenders - um belo regresso do cineasta alemão aos temas que lhe são caros - um acidente transforma a vida das pessoas nele envolvidas e será necessário que o tempo passe para que todos deixem de responsabilizar os outros no acontecido. (***)

2-Ponte dos Espiões (Bridge of Spies), de Steven Spielberg
uma remasterização dos filmes da Guerra Fria no que eles tinham de pior - uma propaganda cheia de mentiras e ódio. Mais grave ainda por ser apresentada em invólucro de luxo: o savoir faire da máquina de Hollywood. (0)

3-Montanha, de João Salaviza
uma bela e agreste primeira longa-metragem de um jovem cineasta português, sobre o que é ser adolescente numa sociedade em declínio social e económico, onde o desemprego e a droga grassa, que é o Portugal do início do século XXI com a política de direita no poder. Com a mudança de política neste final de ano a esperança renasce, mas o filme é anterior... (***)

4-Minha Mãe (Mia Madre), de Nanni Moretti
Uma obra-prima deste cineasta, numa bela homenagem, ficcionada, a sua mãe, a todas as mães. A descrição dos sonhos dos personagens que atravessam a obra é um dos seus aspectos mais interessantes, revelando os seus estados de espírito perante a inevitabilidade do fim da existência de uma pessoa amada e admirada por muitos. (*****)

5-Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert
As relações entre patrões e criados, no seio da grande burguesia brasileira. Uma pedrada no charco do cinema populista, com uma obra dirigida com admirável inteligência e sobriedade. Episódio da Luta de Classes, visão marxista da sociedade, disseram alguns e eu concordo. Vai concorrer aos Óscares (se passar os escolhos das censuras...) e é mais que merecido. (****)

6-A Tragédia Optimista, de Vsevolod Vichnievski, encenada por Rodrigo Francisco, para a Companhia de Teatro de Almada
Uma peça escrita em 1932, na URSS, sobre a Revolução, por quem a viveu. Apesar da complexidade do tema, que pretende abarcar diferentes visões de como transformar a sociedade, não deixa de nos impressionar e principalmente fazer pensar. Só por isso, discorde-se ou não dos aspectos mais controversos da encenação e do próprio texto escolhido (a peça teve várias versões, talvez intenção de Vichnievski para a tornar mais clara, penso eu, e aqui pesa obviamente o que se quer salientar....) vale a pena assistir.

Interpretada por actores profissionais e muitos estudantes da Escola Superior de Teatro e Cinema, uma referência para a novel estrela da Companhia e não só, Ana Cris. (***)



sábado, 12 de dezembro de 2015

QUE HORAS ELA VOLTA, de ANNA MUYLAERT



QUE HORAS ELA VOLTA? 

de ANNA MUYLAERT, com Regina Casé

O regresso do CINEMA BRASILEIRO, que tanto apreciamos, com uma excelente obra, dirigida com inteligência e qualidade ao grande público.




As relações entre patrões e criados nos meios da grande burguesia brasileira. O oposto do olhar falso e subserviente de "Upstairs Downstairs", da televisão britânica, que nos revoltava por querer fingir que esse era o "melhor dos mundos", numa visão completamente do lado dos ricos e poderosos. 

Ao contrário Anna Muylaert mostra a realidade e a consciencialização crescente dos mais jovens.


As entidades públicas brasileiras responsáveis já a escolheram para concorrer ao melhor filme em língua estrangeira dos Óscares, os prémios da academia norte-americana de cinema.
Vi e gostei muito. 

Como eu gostaria que o cinema português para o grande público tivesse esta qualidade em vez de tomar esse público como atrasado e idiota como parece acontecer com algumas produções ultimamente estreadas, pretendendo copiar antigos sucessos. 

NÃO PERCAM !

(publicado no Facebook e no Cartaz de Cinema do Público)

MIA MADRE (MINHA MÃE), de NANNI MORETTI



MIA MADRE (MINHA MÃE), de Nanni Moretti (19-Ago-1953, Brunico, Itália)

“Mia Madre”, film di Nanni Moretti: 10 minuti di applausi al Festival di Cannes 2015 (lido na Net)

Considerada por muitos como uma grande obra de maturidade do celebrado realizador italiano, de quem tanto apreciamos a maioria dos seus filmes, o que concordo. 

Com muito de autobiográfico, embora seja ficção e o papel que o próprio Moretti, como actor, desempenha no filme não seja o seu. Podemos pensar que seja Marguerite Buy (magnífica interpretação como irmã!) que em parte o representa.

Homenagem à Mãe, admirável personagem, nas suas vertentes cívica (cidadã empenhada e anti-fascista) e intelectual (professora amada pelos alunos), a cujo final de vida assistimos no filme. 

E uma vez mais Moretti não se esquece de fazer um enquadramento político e social à sua obra, em pano de fundo suficientemente claro todavia. A filha (Marguerite Buy) é realizadora e assistimos a filmagens do seu novo filme sobre a actualidade das lutas dos trabalhadores numa época de exploração crescente.


Um dos aspectos muito interessantes do filme é a presença dos sonhos, vários ao longo da obra, que não deixam de nos fascinar, em especial, suponho, àqueles que sonham... 

Uma referência para o sonho mais cinéfilo de todos eles (haverá algum cinéfilo que não se emocione?) quando os dois irmãos percorrem a longa fila, imenso caudal humano, à porta de uma sala romana carismática, hoje encerrada devido à política fascizante e anti-cultura dos neo-liberais de que Berlusconi é o mais famigerado exemplo (e como nós compreendemos bem isso depois de pelo menos 4 anos de política igual, com gente igual!). 


 Claro que há nela uma referência óbvia ao mais ou menos longo caudal da vida, mas também há a nostalgia do tempo em que cinema era sinónimo de cultura para grandes massas e recordamos as "nossas filas", aquelas que nunca vamos esquecer, como a de "António das Mortes" (do grande Glauber Rocha), em Lisboa, que foi um acto de cultura e também de resistência anti-fascista (1972). 

Muito mais haveria a dizer sobre esta obra, mas aqui tenho que ser o mais sintético possível e nem sequer vou falar nos actores e actrizes, que são quase todos magníficos, apenas referir a interpretação de John Turturro, um grande actor (e também realizador) norte-americano, de ascendência italiana, que muito admiramos, e que é brilhante no papel do "grande astro estrangeiro" convidado, mas um tanto ou quanto cabotino, trazendo ao filme também algum humor.

No final da obra é difícil resistir à emoção, que me pareceu generalizada na sessão a que assisti, com a presença de vários escalões etários, mas admitindo que a experiência de vida, mais ou menos longa, possa ainda pesar mais. 

Emoção todavia nunca num sentido negativo, de mágoa desesperada. 


Uma vida termina, de alguém sem uma grande notoriedade pública, mas fica a memória dos que a conheceram, admiraram e amaram.

Um belíssimo filme, que as notícias vindas do Festival de Cannes deste ano dizem ter sido aceite pela grande maioria da crítica presente, mesmo ficando-se apenas pelo Prémio Ecuménico. Julgo que merecia mais.

(publicado no facebook) 
(não publicado no Cartaz de Cinema do Público...)

MONTANHA, de JOÃO SALAVIZA



MONTANHA, de João Salaviza

Obra bela e agreste 

Atravessar a adolescência é quase sempre subir a uma montanha, entre escolhos e veredas muitas vezes difíceis de ultrapassar, até descobrir novos horizontes. 


Mas muito mais complicado se torna quando se vive nas margens de uma sociedade em período de declínio, em que os horizontes e as esperanças estão reduzidos ao mínimo (de súbito renascem as esperanças, em Portugal, hoje, mas o filme ainda o não sabia). 

Sabemos, julgo eu, como os exemplos a as lições aprendidas nessa fase crucial da vida são importantes para a formação do carácter, por isso quase sempre com reflexo no resto da vida. A primeira longa-metragem deste jovem cineasta faz-nos pensar nisto e isso já é um mérito.




Acresce que o faz utilizando uma linguagem um pouco rara de ver no grande ecrã, embora ele nos fale de duas ou três grandes referências - Nicholas Ray, Robert Bresson, os manos Dardenne, em obras-primas, difíceis mas, por razões compreensíveis, detestadas por muitos... 



Não digo que tudo seja perfeito mas algumas cenas de MONTANHA vão ficar na nossa memória cinéfila. Para obra de estreia é notável!

(publicado no Facebook e Cartaz de Cinema do Público)

PARA VER E REVER

DO CINEMA E TEATRO AINDA PARA VER E REVER EM 2015



TUDO VAI FICAR BEM, de WIM WENDERS



EVERY THING WILL BE FINE (TUDO VAI FICAR BEM) 

Belíssimo filme de Wim Wenders, o autor de grandes obras como "Paris-Texas" e "O Amigo Americano", entre várias outras obras-primas. 

Também autor de obras com ou sobre Nicholas Ray, Michelangelo Antonioni , Pina Bausch e Sebastião Salgado, todos grandes nomes da Cultura, o que lhe tem valido aliás invejas e incompreensões.


Desde "Ao Correr do Tempo" (1976), o seu primeiro filme que vimos, que as suas imagens quase sempre nos fascinam. 

Isso volta a acontecer nesta nova obra, na magnífica ligação entre o olhar do cineasta sobre a paisagem e o estado de espírito das suas personagens. 


A não perder para quem puder, porque é, em minha opinião, do mais interessante em exibição em Lisboa, pela sua qualidade.

24-Nov-2015