Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

NA FUNDAÇÃO JOSÉ SARAMAGO



Localizada na Casa dos Bicos, ao Campo das Cebolas, a seguir ao Terreiro do Paço / Praça do Comércio, em Lisboa. Amig@s, não deixem de visitar a Fundação, dirigida pela sua companheira, a jornalista Pilar del Rio, que tanto admiramos também. 


A exposição "A Semente e os Frutos", a Livraria/Biblioteca e o Auditório, com o vídeo sobre a Casa de Lanzarote. Mas, acima de tudo, para lembrar o escritor e o cidadão, que é para nós uma referência, e a sua vasta e inesquecível obra.
Será didáctico e muito bom levar os mais jovens da família e explicar-lhes quem foi este homem e qual a sua obra, em contraponto às mediocridades que lhes são apresentadas massiva e quotidianamente pelos canais de televisão.
Nota: não há fotos do interior para não danificar os delicados objectos expostos - blocos notas, originais manuscritos, agendas, entre as quais se encontra a da folha seca conservada desde o dia em que José e Pilar se conheceram. Romântico gesto que os leitores fiéis compreenderão melhor que ninguém!



(nota: todas as fotos são minhas)


OBRAS PRIMAS DE QUE GOSTO MUITO (I)


Playtime (Vida Moderna), de Jacques Tati, FRA, 1967

Claro que não é um filme deste ano! Trata-se duma cópia nova de uma das geniais Obras-primas do Cinema, realizada pelo cineasta francês Jacques Tati.
Sendo de 1967, é no entanto um filme avançado no tempo, na sua crítica à desumanização da “vida moderna”, dominada por máquinas e burocratas, agora de roupagens neoliberais.
Neste início de século, cinquenta anos passados, quando os vejo passar em bandos, todos vestidos de igual, cinzentos, azuis ou castanhos, com gravatas a condizer e às vezes de dissonância kitsch, a caminho da reunião, do “meeting”, da assembleia de accionistas, não consigo deixar de ter vontade de soltar uma gargalhada (nem que seja para dentro). E lembro Chaplin, e lembro Tati. Também os podemos combater pelo Humor.
Nesta enésima visão da obra, agora em 2004, confesso que o mais me tocou, para além da crítica à desumanização da vida moderna (actualíssima, apesar dos quase 50 anos passados, a única coisa que não é actual, disse-me um amigo, são os modelos dos carros...), é a maneira como a personagem de Monsieur Hulot, vai servindo de contraponto à desumanização das situações.
Primeiro, na ida à sede da grande empresa, onde, após mil e uma peripécias, em que chega a abrir a porta da sala de reuniões onde está reunida a administração, Hulot consuma a reunião na rua do bairro, quando o quadro superior, com o nariz entrapado pela cabeçada nas paredes de vidro do edifício modernista, vai passear o cãozinho depois de jantar.
Depois, na espectacular sequência do restaurante nocturno, de moda, em que a entrada de Hulot serve de ponto de partida para o desencadear da aceleração dos incidentes, ou acidentes, que conduzirão às hilariantes e frenéticas sequências finais.
Por último, nas imagens de Paris, ao romper da manhã, agora já com outros personagens, o povo trabalhador parisiense, uma vez que a grande burguesia recolheu a casa, cansada de mais uma noite de estúrdia. E onde não podia faltar o romantismo, terno e comovente, da Cidade Luz, com o episódio da prenda à jovem turista americana, émulo feminino de Hulot, na curiosidade com que tudo quer ver, isto é, aquilo que merece ser visto.
E o filme culmina numa sinfonia de imagens e sons da grande cidade, que nos surge, apesar de todas as suas fraquezas e disparates, encantadora, também aos olhos dos turistas que a deixam, de autocarro, com destino ao aeroporto. E de certo modo é isso que o cinema de Tati é: crítico da sociedade, mas ao mesmo tempo procurando resgatar o que as pessoas têm de melhor, criticando-as pelo ridículo, mas em última análise com um olhar de simpatia pelas pequenas fraquezas humanas. Os maus sentimentos ficam, quase sempre, na sombra. Não interessam ao cineasta.
Principais filmes de Jacques Tati (para quem não se lembre): Festa na Aldeia, As Férias do Sr.Hulot, O Meu Tio, Playtime, Trafic, Parade.


"OS MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS" (Inquérito da revista do BFI, "SIGHT & SOUND")

À MANEIRA DO INQUÉRITO CINÉFILO DA REVISTA DO BFI,  "SIGHT&SOUND", que vai na sua VIIª edição (de 1952 a 2012)

AS MINHAS LISTA DOS "10 MELHORES FILMES DE SEMPRE" (em 22-Ago-2012) (que eu tenha visto...)

(I)

Tarefa quase impossível, pelo limite imposto, mas também porque entram em conflito gosto e análise. Além de que há muitos aspectos a considerar. Hoje optei por estas obras, valorizando o que me pareceu importante na evolução da Sétima Arte. 
Amanhã poderão ser predominantes outros factores e a lista será diferente. Preferia que me tivessem perguntado pelos 50 preferidos e mesmo assim teria que deixar de fora dezenas de obras de que gosto muito. 
E como português, não podia deixar de fora o cinema do meu país, cinema do qual gosto aliás muito, escolhendo uma das suas obras-primas.

A MINHA PRIMEIRA LISTA PRINCIPAL:

2001, A SPACE ODISSEY (2001, Odisseia no Espaço), de Stanley Kubrick (EUA) (1968)

APU (A Trilogia de Apu), de Satyajit Ray (IND) (1956-58)

BRONENOSEC POTEMKINE (O Couraçado Potemkine), de Serguei Eisenstein (URSS) (1925)

CELOVEK S KINOAPARATOM (O Homem da Câmara de Filmar), Dziga Vertov (URSS) (1929)


DET SJUNDE INSEGLET (O Sétimo Selo), de Ingmar Bergman (SUE) (1957)

IL GATTOPARDO (O Leopardo), de Luchino Visconti (FRA/ITA) (1963)

LA DOLCE VITA (A Doce Vida), de Federico Fellini (FRA/ITA) (1960)

LA RÈGLE DU JEU (A Regra do Jogo), de Jean Renoir (FRA) (1939)

VALE ABRAÃO (The Abrahams Valley),  de Manoel de Oliveira (POR) (1993)

(II)

Dedicado a cinéfil@s, isto é, que gostam do Cinema, a Arte que nasceu no Século XX.

NOVA LISTA DOS 10 MELHORES FILMES DE SEMPRE
(em 23-Ago-2012) (que eu tenha visto...)

A minha lista de hoje, 23-Ago-2012, e penso que posso prosseguir por vários dias sem que a qualidade baixe!  
Mantenho da anterior  duas das obras que considero mais fundamentais nesta Arte:

A MINHA SEGUNDA LISTA:

BRONENOSEC POTEMKINE (O Couraçado Potemkine), de Serguei Eisenstein (URSS) (1925)

CITIZEN KANE (O Mundo a Seus Pés), de Orson Welles (EUA) (1941)

LE NOTTI DI CABIRIA (As Noites de Cabíria), de Federico Fellini (ITA) (1956)

OS MUTANTES (The Mutants), de Teresa Villaverde (POR) (2001)

RAN, de Akira Kurosawa (JAP) (1985)

ROCCO E I SU FRATELLI (Rocco e Seus Irmãos), de Luchino Visconti (ITA) (1960)

SARABAND, de Ingmar Bergman (SUE) (2003)

THE LUSTY MEN (Idílio Selvagem), de Nicholas Ray (EUA) (1952)

THE RIVER (O Rio Sagrado), de Jean Renoir (FRA/EUA) (1951)

UGETSU MONOGATARI (Contos da Lua Vaga), Kenji Mizoguchi (JAP) (1953)




Nota: a foto é minha


domingo, 26 de agosto de 2012

DESEMPENHOS NO CINEMA


INQUÉRITO CINÉFILO

O "POSITIF" fez neste número uma coisa que, suponho, nenhum cinéfilo consegue recusar: pedir a gente do cinema e a colaboradores da revista que escolhessem os cinco papéis masculinos e os cinco femininos ao longo da história que mais os tivessem impressionado. O resultado é um "mergulho" fascinante na História do Cinema e a que os leitores têm vontade de dar resposta. É o meu caso:

Seis desempenhos masculinos maiores no Cinema

Albert Finney (Tom Jones, de Tony Richardson) (GBR) (1963)
Benicio Del Toro (Che, de Steven Soderbergh) (EUA) (2008)
Burt Lancaster (Il Gattopardo – O Leopardo, de Luchino Visconti) (ITA) (1963)
David Hemmings (Blow Up – História de um Fotógrafo, de Michelangelo Antonioni) (ITA/GBR) (1966)
Marcello Mastroianni (La Dolce Vita , de Federico Fellini) (ITA) (1960)
Marlon Brando (The Last Tango in Paris – O Último Tango em Paris, de Bernardo Bertolucci) (ITA) (1972)

Seis desempenhos femininos maiores no Cinema

Anna Magnani (Roma, Cidade Aberta, de Roberto Rossellini) (ITA) (1945)
Diane Keaton (Annie Hall, de Woody Allen) (EUA) (1977)
Gena Rowlands (A Woman Under the Influence – Uma Mulher sob Influência, de John Cassavetes) (EUA) (1974)
Giulieta Massina (As Noites de Cabiria, de Federico Fellini) (ITA) (1957)
Gloria Grahame (The Big Heat, Corrupção, de Fritz Lang) (EUA) (1953)
Marina Hands (Lady Chatterley, de Pascale Ferran) (FRA) (2006)

Obs: baseei-me no inquérito feito pelo POSITIF. A famosa revista escolheu todavia apenas 5, eu escolhi 6. A razão é que não consegui retirar nenhum nome destas listas... e como o inquérito é pessoal e intransmissível... As escolhas basearam-se apenas no gosto pessoal e por considerar as respectivas interpretações excepcionais. Há muitos mais que gostava de incluir. Hoje optei por estas.



Nota: A foto é minha

TORGA, BIOGRAFIA TEATRALIZADA


O INTERVALO GRUPO DE TEATRO não pára de nos surpreender com a qualidade dos seus espectáculos. 
Depois de vários e magníficos espectáculos em que grandes clássicos da comédia foram representados, agora uma belíssima homenagem a Miguel Torga, em duas partes.



A primeira parte, uma biografia teatralizada do escritor e poeta, com leitura de poemas por Carlos Paiva e Fernando Tavares Marques, dois dos grandes actores desta companhia dirigida por Armando Caldas.
A segunda, um extracto da sua peça "Mar", escrita em 1941, que constituiu, em minha opinião, um magnífico momento de Teatro. Não só porque a parte seleccionada conseguiu dar uma excepcional ideia do fundamental expresso naquele texto, que tem muito de poético, como a sua representação teve momentos ímpares de tensão dramática. Foi por vezes emocionante e comovente, com um final soberbo, com actores e público cantando em uníssono, tocado (Luís Macedo) ao vivo:

Mas a mágoa da distância
Tem sereias no olhar
E sonhos de uma abundância
Que o nevoeiro faz sonhar

Canto de sereia ouviu
E tanto sonho embalou
Que o Domingos seguiu
E nunca mais regressou

(versos de Fernando Tavares Marques, música de Luís Macedo)

Sonhos, amarguras, vida e morte, dos pescadores, suas companheiras e família.




Deixo-vos, para terminar, um poema de que gosto muito e julgo que tem muito de pessoal:

Vento que passas, leva-me contigo.
Sou poeira também, folha de outono.
Rês tresmalhada que não quer abrigo
No calor do redil de nenhum dono.

Leva-me, e livre deixa-me cair
No deserto de todas as lembranças,
Onde eu possa dormir
Como no limbo dormem as crianças.

(Diário, Miguel Torga)



AS FLORES DA GUERRA, de Zhang Yimou


Um Grande Clássico - "As Flores da Guerra" (Jin ling shí san chai) (The Flowers of War), de Zhang Yimou (RPC)   


É difícil sintetizar o tudo que nos ocorre após a visão desta obra-prima da Sétima Arte. Vou resumir porque não tenho nem tempo nem espaço para mais. O que torna, em minha opinião, Zhang Yimou um dos mais incontestados Mestres contemporâneos (e não só...) é o seu elevado sentido estético e a elegância formal da sua linguagem. O que é evidente, uma vez mais, nesta obra tão densa e intensa sob o ponto de vista de emoções (e os espectadores só a custo as sustêm). Isto tem sido uma das principais características da quase uma dúzia de obras de Zhang Yimou, filmes extraordinários, que pudemos ver e também na concepção cénica da mais brilhante das aberturas olímpicas de sempre, a de Pequim 2008, o que mais saliente se tornou com a banalidade de Londres. Em "As Flores da Guerra", os extremos do comportamento humano, as suas grandezas e misérias, estão presentes nesta nova obra (de 2011) de Zhang Yimou. Os limites da perversidade desse comportamento também, através dos soldados ao serviço do fascismo nipónico. Em minha opinião o melhor filme de 2012, do que pudemos ver em Lisboa até ao momento. Um grande clássico: houve quem referisse que lembrava Ford mas também podíamos falar dos grandes Mestres japoneses, em especial de Kurosawa e Mizoguchi. Perder é imperdoável para todos os que se preocupam com a Cultura e que gostam de Cinema!
Publicada (no INDEKS) a 02-08-2012 por Egas Branco

TABU, de Miguel Gomes


TABU, de Miguel Gomes (no “Sight & Sound”, vol 22, issue 9)


(fotos são minhas)

Capa e contracapa da revista do BFI, “SIGHT & SOUND”, com uma primeira divulgação dos principais resultados do Inquérito “Os Maiores Filmes de Todos os Tempos”, tema evidentemente caro aos apaixonados pela Sétima Arte (na edição electrónica da revista pode ler-se mais).
E na contracapa vem o anúncio da estreia nos ecrãs britânicos de “TABU", o celebrado filme de Miguel Gomes, premiado no último, o 62º, Festival de Cinema de Berlim (Berlinale), com o prémio Alfred-Bauer, sendo Director do Festival Mike Leigh, um dos cineastas da actualidade cuja obra mais admiramos. No mesmo número está também uma entrevista com Miguel Gomes e uma crítica ao filme. 





TABU, foi um dos melhores filmes que vi este ano. Fotografado a preto e branco, é brilhante. Teresa Madruga, Laura Soveral, Ana Moreira, Isabel Cardoso: são as protagonistas, quatro grandes actrizes, numa equipa magnífica.
Mas um dos aspectos notáveis deste filme é a utilização da voz em off, de que críticos franceses, da famosa revista "Positif", referem a beleza literária, voz que narra a segunda parte. O “Positif” compara-a com a de outra obra-prima, "Vale Abraão", de Manoel de Oliveira (que é para mim o melhor filme do decano dos realizadores).
Estou completamente de acordo com a opinião. O actor que empresta, extraordinariamente, a sua voz a “TABU” é um veterano produtor e actor do cinema português, Henrique Espírito Santo, com produções e colaborações notáveis. Entre as quais se refere a sua quase desconhecida participação como actor, na principal figura, em “Drácula”, pequeno filme de 1977, que vimos. 
Em “TABU”, ele tem um dos principais papéis, na 1ª parte da obra,  como Ventura, agora envelhecido, de regresso a Portugal, por quem, quando jovem, Aurora (Laura Soveral) se apaixona em África (2ª parte). Mas é a sua voz, que vai narrar maravilhosamente, na 2ª parte, num longo flash back, a paixão de ambos. 

De referir ainda a entrevista de Miguel Gomes, em "Câmara Clara" (RTP2), de que gostei muito por todas as razões, entre elas a reconhecida sageza do cineasta (que aliás já conhecia dos seus tempos de crítico de cinema), mas também pela sua defesa do cinema de autor, pelo menos como eu o concebo.
E não se eximiu de falar dos outros portugueses, daqueles de cujas obras gosta muito (de Oliveira a Paulo Rocha), esses autores de obras-primas (palavras suas, que subscrevo), sendo admirável que tivesse citado como exemplo desse cinema português que aprecia, um filme tão ignorado como o "O Bobo", de José Álvaro Morais, grande cineasta, que a crítica actual, a que infelizmente temos, sistematicamente esquece!
21-Ago-2012

EN ATENDANT, de AnneTeresa de Keersmaeker

EN ATENDANT - pela Companhia Rosas, de Anne Teresa De Keersmaeker.








Gostei muito! É tocante, comovente por vezes, num notável trabalho de grupo. A música é do século XIV mas o espectáculo tem muito a ver connosco, com a sua multiplicidade de gestos do quotidiano, admiravelmente coreografados, na nossa busca de uma vida melhor, o que tem que acabar sempre por ser colectivo. Há momentos que comovem.

Gostei de ler no programa da Culturgest que a Anne Teresa se sente mais próxima do Schoenberg (ou da Ars Subtilior, música do séc.XIV) que do Wagner. Eu também! Só tenho pena de uma coisa: não poder ver "EN ATENDANT", com um crepúsculo real! Teria sido assim em Avignon?

(visto em 6-Jun-2012, no Grande Auditório da Culturgest)


A CONTROVÉRSIA DE VALLADOLID, de Jean-Claude Carrière


NO 29º FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO DE ALMADA (conclusão)

O Festival acabou ontem em beleza, com um admirável texto de Jean-Claude Carrière, (que tanto admiramos e relembro, a talhe de foice, só duas das últimas obras no cinema, em que deixou bem marcada a sua influência - "O Laço Branco", do famoso realizador austríaco, contemporâneo, Michael Haneke e, principalmente, "Os Fantasmas de Goya", uma das melhores obras de Milos Forman, adaptando justamente Carrière) texto, "A Controvérsia de Valladolid", levado ao palco pela Comuna, pela mão de Carlos Paulo (tradução e extraordinária interpretação) e João Mota (encenação).
Já disse, e repito, que sou o mais modesto dos espectadores (paradoxalmente, apaixonado pelo que vejo, oiço e sinto) e nada disto é crítica. Falo é do que gosto. Queria dizer tudo em poucas linhas e não sou capaz. Por falta de tempo, agora, tento sintetizar. O espectáculo de ontem foi magnífico e creio que as cerca de 800 pessoas que a ele assistiram, gostaram, se nos reportarmos ao vigor dos aplausos. Afinal tratava-se de um libelo em defesa do Anti-racismo e dos direitos dos Outros!
Não queria deixar de referir as palavras finais, na sessão de encerramento, de duas das pessoas a quem se podem efectivamente pedir responsabilidades pelo nível (em minha opinião, muito elevado) deste Festival - Joaquim Benite, o seu criador e director, e Maria Emília Guerreiro Neto de Sousa, a autarca que conseguiu fazer da cidade que gere, uma das que nos podemos orgulhar neste País e do seu apoio ao Festival. "Resistência!" disseram eles, e eu concordo e apoio. Uma palavra final para a votação do público para o Espectáculo de Honra de 2012 - "O Sr.Ibrahim e as Flores do Corão". em minha opinião justíssimo dentro do universo dos que podiam ser votados!



(visto de 4 a 18 de Julho, em várias salas de Almada e Lisboa)

A BATALHA DE ARGEL, de Gillo Pontecorvo

LA BATTAGLIA DE ARGEL (A Batalha de Argel), de Gillo Pontecorvo

LA BATTAGLIA DE ALGER (A Batalha de Alger), de Gillo Pontecorvo (1966) 
Ganhou o Leão de Ouro de 1966, prémio principal de um dos mais famosos festivais de cinema do mundo, o de Veneza.

Vi-o ontem na Cinemateca, numa sessão mais ou menos esquecida, ao fim da tarde, em sobreposição aliás com a visão de outra obra-prima, "Tempestade na Ásia" (Potomok Ghingis-Khana), (1928) do famoso mestre soviético, Vsevolod Pudovkine, o autor de "A Mãe", que gostaria também muito de ter visto...

Só vou ter tempo agora para duas ou três brevíssimas notas, muito pessoais, sobre esta obra que, como outras do mesmo realizador, continuam a causar polémica, a favor ou contra, conforme a ideologia de quem vê. É que, como em "Kapò", outra obra célebre de Pontecorvo, de denúncia do horror dos crimes do nazismo, com os seus campos de concentração e de extermínio, em que alguns conseguiram sobreviver até certo ponto mas à custa da sua dignidade, se trata de um cinema frontal, que no seu desejo de intervir, não hesita em mostrar a realidade, por muito horrível que seja de ver.




Na "Batalha de Alger", apesar da sua aparente neutralidade e secura, sentimos que se trata de um filme muito pensado, em que é evidente a influência dos revolucionários argelinos que participaram na feitura do filme, a pedido do seu governo. 
Não vi referidas nas críticas que conheço (muito menos na folha da Cinemateca) mas logo me foi salientado por um amigo que também viu o filme, a extraordinária cena do casamento dos jovens militantes da FLN, pelo que ela significa num contexto de luta revolucionária, de libertação nacional, perante um ocupante que não hesita em recorrer ao terrorismo e à pior das torturas, que só termina quando o prisioneiro confessa. E quando não confessa "é suicidado na cela", como acontece ao dirigente da FLN preso pelos franceses.
 
Outra cena admirável é a do jovem adolescente que "rouba" o megafone aos militares, durante a repressão à GREVE GERAL de 7 dias, e o utiliza ele próprio, fazendo renascer a esperança da população do Casbah de Alger.
O filme foi feito depois da independência, por isso nós espectadores sabemos desde início quem vai vencer: os patriotas e revolucionários argelinos. Ainda que, para que a Revolução Argelina triunfasse, muitos tivessem que dar a vida, como os personagens do filme, suponho que a maioria personagens reais. Neste episódio da Guerra da Argélia, a repressão e a violência colonialistas aparentemente triunfam no Casbah. O que o filme mostra magistralmente é que nada podia deter o desejo de Libertação daquele povo oprimido.




Só uma nota final para referir que o realizador é Gillo Pontecorvo (Pisa, 19-Nov-1919 - 12-Out-2006), cuja primeira obra vimos ainda nos anos 60, no circuito cineclubista, o magnífico "La Lunga Strada Azurra", e logo nos chamou a atenção para este homem. O argumento é de Franco Solinas (Sardenha, 1927 -14-Out-1982) outro nome grande do cinema italiano, com uma longa colaboração com Gillo Pontecorvo. Ambos, além de importantes nomes do Cinema Italiano, foram cidadãos empenhados na luta pela melhoria de vida do povo do seu país (foram militantes comunistas). 
Outra notável colaboração nesta obra é a de Giuliano Montaldo (o famoso autor de filmes como "Sacco e Vanzetti" e "Inês Vai Morrer"). Também ele civicamente actuante e de quem, curiosamente, desconhecia a sua participação importante no filme, por nunca a ter visto citada na crítica (nem na folha da Cinemateca...), e que só ontem ao ver o filme, li no seu genérico final. 
E também Ennio Morricone, o grande compositor, com algumas obras famosas compostas especialmente para o cinema. Estes dois artistas, felizmente ainda activos.


(visto em 21-Jul-2012, na Cinemateca Portuguesa)

NOTA FINAL:
Gostaria de rever "Kapò", e o seu trágico final, com o movimento de câmara que alguns aproveitaram para atacar a obra (a morte da protagonista, protagonizada por Emmanuelle Riva, ao se atirar contra as electrificadas vedações de arame farpado). Para então poder falar da violenta polémica, que continua até aos dias de hoje. Julgo que não deixa de ser apesar de tudo uma questão ideológica que tem a ver, como tudo, com a Luta de Classes. Será que a Cinemateca nos vai dar essa possibilidade?




GEORGE DANDIN, de Molière


GEORGE DANDIN, de Molière, encenado por Armando Caldas, para o Intervalo Grupo de Teatro 

Amig@s, conhecem o Intervalo Grupo de Teatro, com espectáculos às sextas-feiras e sábados (21.30) e domingos (16.00), no Auditório Lourdes Norberto, em Linda-a-Velha?
 
Se sim, já sabem da excelência dos espectáculos desta companhia. Se não, experimentem e vão ficar muito provavelmente fãs (como eu!). 
No prosseguimento da série dos últimos anos (que tive a felicidade de ver na íntegra!), dedicada aos grandes clássicos que utilizaram a comédia para criticar os erros da sociedade do seu tempo (Shakesperare e "O Amansar da Fera", Goldoni e "O Mentiroso", Beaumarchais e "As Bodas de Fígaro" e agora outro grande Mestre, Molière, com "George Dandin ou Um Casamento Conveniente?".

Garanto-vos que se vão divertir (e muito) mas de uma maneira inteligente, muito mercê das 
encenações, que embora respeitem escrupulosamente o espírito dos originais, o fazem como que num prolongamento para o Tempo que vivemos. É que estas obras tem uma parte intemporal, que tem a ver com aos qualidades e defeitos do Homem e uma outra que tem a ver com a sociedade, as suas desigualdades e a sua transformação.

Armando Caldas, fez nesta encenação uma ligação à obra de outro grande artista que muito aprecio. Refiro-me ao cineasta e encenador italiano Luchino Visconti e neste caso particular a uma das suas obras máximas, "O Leopardo" (Il Gattopardo), obra-prima absoluta da Sétima Arte, de que Armando Caldas mostra uma cena.

Quanto à companhia, com magníficas actrizes e actores, sobressai acima de tudo uma grande coesão e é isso que provoca também a grande adesão dos espectadores!

(visto em 14-Abr-2012, no Auditório Lourdes Norberto, em Linda-a-Velha)
 

A GRUTA DOS SONHOS PERDIDOS, de Werner Herzog


CAVE OF FORGOTTEN DREAMS (A GRUTA DOS SONHOS PERDIDOS), de Werner Herzog








“A Gruta dos Sonhos Perdidos”, do grande cineasta alemão Werner Herzog, reconhecido pela sua admiração pelos que arriscam tudo, incluindo a vida, para ir até aos limites da sua resistência. Agora não se tratará bem disso, mas de um mergulho num passado de mais de 30 mil anos que uma gruta, fechada por um acidente natural, permitiu preservar. E o resultado é fascinante, deslumbrante, com a sua Vénus vista pelos olhos de um nosso longínquo antepassado e, pela primeira vez que eu tenha conhecimento, alguém tirando partido interessante da 3D.

(visto em 24-Jan-2012, nas Amoreiras, Lisboa)