APRÈS MAI (Depois de
Maio), de Olivier Assayas
Da “austera, apagada e
vil tristeza” (*) em que se transformou a
Europa do Sul, e não só, vítima do capitalismo selvagem que o projecto europeu da social-democracia, com o beneplácito do
grande capital, trouxe, o cinema actual é
um seu reflexo, sem nada de particularmente motivador em exibição neste momento,
para não dizer que é particularmente medíocre quase tudo o que nos chega.
Mas ainda vem alguma
coisa a despertar-nos a atenção, como este “APRÈS MAI” (Depois de Maio), de Maio
de 68, entenda-se.
Uma obra que o autor,
o cineasta francês Olivier Assayas (Paris, 25-Jan-1955), assume como muito
autobiográfica É a geração, que alguns
rotulam de perdida, que no Maio de 1968 era criança e no início dos anos 70
adolescente, dos jovens provindos da burguesia, estudantes nos finais do liceu
ou no início da universidade, que protagoniza a história e viveu a euforia dos
anos que se seguiram a 68, em que alguns julgavam poder transformar o mundo num
ápice, esquecendo a luta de classes, envolvendo-se em lutas erradas e sendo
arrastados na vertigem das aventuras radicais que tanto seduzem a juventude, como todos sabemos, por experiência própria ou
não.
A conclusão da obra é
o desalento radical que se apossou de muitos, a maioria julgo, que os levou a
desacreditarem da política ou passarem-se com armas e bagagens para o lado do
poder. Confesso que não sei em qual dos campos se encontra agora Assayas, mas
sei de muitos, agora poderosos e cheios
de dinheiro, que mandaram às urtigas ideais de juventude e participam
alegremente na exploração que tanto aparentemente condenavam... alguns até
admito que sinceramente.
Julgo que a obra
merece uma visão. Indiscutivelmente muito bem realizada, com a surpreendente,
para alguns, utilização de actores desconhecidos e inexperientes, que no
entanto chegam a ser brilhantes, ou não fosse Assayas um dos melhores da sua
geração em nossa opinião, já que conhecemos os seus filmes mais importantes.
E sendo ou não o
objectivo do seu autor acaba por mostrar que afinal a razão estava toda do lado
dos revolucionários que eles desprezavam, e combatiam em muitos casos, aqueles
que estavam munidos de uma teoria sólida.
Há aliás uma cena
paradigmática quando o principal personagem, Gilles (excelente Clément Métayer)
pede numa banca de jornais algumas das efémeras publicações esquerdistas da
época e nem sequer pega no L’Humanité,
do PCF...
(*) Os Lusíadas, Canto X, estância 145
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