A não perder A LEI
DO MERCADO (La Loi du Marché), de Stéphane Brizé, com um único actor profissional,
Vincent Lindon, rodeado de dezenas de não profissionais, numa magnífica
direcção de actores.
O autor diz que o
seu filme é apenas político no sentido estrito do termo, mas que não quis fazer
um panfleto ou uma bandeira da luta de classes, mas apenas debruçar-se sobre um
homem em crise, por ter caído aos 50 anos no desemprego, não querendo no
entanto perder a sua dignidade como ser humano.
O filme mostra, através de vários episódios na vida
deste homem, o estado lamentável da sociedade resultante das políticas neoliberais
(em muitos aspectos espécie de fascismo). Não tenho tempo agora para explicitar
alguns aspectos a merecerem atenção mas que julgo que os espectadores não
deixarão de sentir, como por exemplo o da "selecção de pessoal" nas
empresas privadas. Aliás isso foi evidente na reacção dos espectadores da
sessão a que assisti.
Não deixa de
indignar verificar o rancor com que a crítica neoliberal ou de extrema direita
ataca o filme, acabando por o acusar erradamente também de falta de ritmo
(!!!): é o contrário, afinal.
«Todos aqueles que
furtam em “A Lei do Mercado” têm uma desculpa: um gandulo ameaçou-os de pancada
se não o fizessem, nunca o tinham feito antes, têm um filho drogado, estão na
casa há 20 anos. E, dando milho aos pardais do “anti” em jato contínuo, Brizé
deixa implícito que a culpa disto também é do “capitalismo neo-liberal”. (...)
“o filme quer que consideremos tais transgressões como crimes sem vítima (…) e
que é totalmente aceitável roubar no emprego”.» (lido no ultra-direitista Observador)
A personagem de
Thierry (Vincent Lindon), que perde o emprego por despedimento colectivo
fraudulento por parte do patrão, começa, no início do filme, por se mostrar
individualista recusando participar no processo que os camaradas de trabalho
querem pôr ao patrão, no fundo alheando-se dessa luta anticapitalista.
Mas no final irá
verificar tragicamente que os novos patrões, mesmo que por vezes dêem indícios
de procurar um bom ambiente de trabalho, tratando os trabalhadores com alguma
humanidade (não nos salários, claro) não hesitam em punir sem apelo nem agravo
todas as faltas, mesmo não sendo graves, o que conduz a tragédias pessoais.
E num assomo de
dignidade abandona o trabalho para não ter que colaborar em tais processos!
Belíssima
interpretação de Vincent Lindon, acompanhado dos seus companheiros não
profissionais!
A obra já recebeu
vários prémios internacionais!
(já publicado no facebook)
ADENDA (em 12-Mai-2016): Depois de publicado este modesto texto saíu uma crítica magnífica na imprensa, de que recomendo a leitura
Ver em:
http://www.avante.pt/pt/2215/argumentos/140297/
ADENDA (em 12-Mai-2016): Depois de publicado este modesto texto saíu uma crítica magnífica na imprensa, de que recomendo a leitura
Ver em:
http://www.avante.pt/pt/2215/argumentos/140297/
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