“SHIRIN”, de Abbas Kiarostami (IRÃO), ***** (5)
Do Irão, actualmente sob um regime teocrático, em que sacerdotes governam ditatorialmente, uma obra notabilíssima, questionando a essência da linguagem do cinema, como arte.
“Acredito que esta forma de arte que é o cinema é a que de uma maneira mais poderosa mexe com os espectadores e incorpora as suas emoções. Este filme é um tributo a esse poder do cinema.” (Abbas Kiarostami)
O que cineasta fez foi, “em primeiro lugar, coleccionei todas estas emoções verdadeiras de todas estas mulheres e depois decidi fazer todo o processo de uma banda sonora de filme clássico”, juntando-lhe os diálogos de “Shirin”, um poema persa clássico, do século XII, conhecido pela lenda de Khosrow e Shirin, escrito pelo grande poeta Nemazi, e que os espectadores ouvem durante o filme. “Escolhi Shirin, entre outras heroínas e histórias, pela sua grande modernidade. Remonta ao século XII, mas é a primeira história de um triângulo amoroso cujo centro é uma mulher”.
São 114 actrizes, incluindo a francesa Juliette Binoche, que o cineasta filmou durante alguns minutos. “É a mais sofisticada mise-en-scène do olhar que alguma vez alguém fez. Seguramente a mais bela.” (L.M.Oliveira, Ipsilon).
Como última nota: “Ao contrário de outros países muçulmanos (*), as mulheres iranianas têm um papel activo na sociedade, conduzem (**) e votam. Nos últimos 10 anos, elas tornaram-se maioritárias nas universidades. Mas aos olhos da lei islâmica, elas permanecem inferiores aos homens. O véu simboliza essa discriminação.” (…) “No fim do filme uma espectadora sorri. Ela sabe que a situação irá mudar e que o Irão será uma república plena e inteira que não terá outro nome: iraniana.” (Bamchade Pourvali, crítico de cinema)
(*) quase todos pró-ocidentais, e por isso aceites pelo imperialismo norte-americano.
(**) ver “Ten”, uma obra anterior de Kiarostami, onde dez mulheres falam enquanto conduzem nas ruas de Teerão.
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