VELIKII GRAJDANINE (Um
Grande Cidadão) (1ª Parte – 1937, 2ª Parte – 1939), de Friederich Ermler (URSS)
***** (5)
Trata-se de uma obra, magnífica, em duas partes, num
total de 4 horas e 45 minutos, sobre os anos dificílimos de construção do
Socialismo, na União Soviética.
Como obra sobre um período revolucionário, referindo-se
aos anos de 1930-35, em que os explorados estão no poder, não estará nunca
datada, porque descreve as dificuldades, as divergências, as traições, as
sabotagens, em tal período. Algumas cenas, apesar de terem quase um século,
parecem-nos actuais (em 2007), em termos de comportamentos.
O filme descreve a vida e o assassinato do dirigente
comunista Serge Kirov (sob o nome de Chakov, admiravelmente interpretado por
N.Bogolioubov), de acordo com a versão oficial na época, a qual viria a ser
mais tarde contestada.
Mas para além disso, é a maneira admirável como aquele
grande cineasta soviético filma as personagens, muitas vezes em grandes planos,
conseguindo dar-nos o seu retrato psicológico, que tornam o filme perfeitamente
actual em termos de linguagem. Filme principalmente de diálogos intensos, tem
no entanto meia dúzia de exteriores magníficos – os plenários na fábrica, as
reuniões com os operários e população, as manifestações, as obras da construção
do canal.
A figura da Mulher é fortemente exaltada, equiparando-a
ao Homem, no trabalho, na direcção da fábrica e no partido. Uma das cenas mais
fortes do filme é o discurso da mãe de Chakov no plenário, mas há mais meia
dúzia de figuras femininas admiráveis, que sobressaem na obra.
O assassinato de Chakov, é dado elipticamente, como em
geral o fazem os grandes mestres, adquirindo enorme força.
Mas um dos aspectos que mais me surpreendeu foi a
maneira como o ideal comunista, no comportamento, nos é dado, com muita
inteligência, sem nunca recorrer a frases feitas, mas antes ao que acontece na
prática, perante os acontecimentos favoráveis ou desfavoráveis.
Nada disto foi, no entanto, referido na respectiva folha de sessão da Cinemateca, num texto algo primário. Lamentáveis também os erros ortográficos (e não só)
inacreditáveis (“houveram”, por exemplo) da legendagem electrónica. Feita
aonde? Na própria Cinemateca? Mesmo autor?
Terminada a projecção é inevitável que nos
interroguemos, se não foi uma formidável proeza, única na história da humanidade,
o poder dos explorados, dos oprimidos, conseguir resistir durante tantas
décadas, perante a força do inimigo, que recorreu a todos os meios para o
minar, para o sabotar?
Admirável obra, de um período fecundo para a arte
cinematográfica – o das gerações que fizeram a Revolução de Outubro.
***** (5)
(visto na Cinemateca, em Mar-2007)
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