TRÊS
FILMES – Três pequenas notas de gosto
Ver Cinema, no CineAvante!, Festa do Avante! de 2012 (a foto é minha)
SAVAGES
(Selvagens), de Oliver Stone (EUA) –
Um
thriller, provindo da indústria do cinema dos EUA, com imagens de grande
violência e sexo, que agradam em geral a públicos pouco exigentes. Tecnicamente muito
bem feito, como aliás alguns dos produtos ali fabricados, que ficam bem acima
da qualidade média dessa indústria. No entanto “Savages” distingue-se.
Porquê?
É que Oliver Stone, como lhe é habitual, não esconde o “estado da nação”, cada vez
mais na mão de poderosos lobbies, com interesses à escala mundial: financeiros,
de fabricantes de armamento, dos grandes negócios, como a droga. E,
ironicamente, oferece ao espectador dois finais possíveis naquele estado de
coisas, como quem diz: Escolham o que gostarem mais! Essa ironia, obviamente,
irrita os defensores do status quo, daí o tentarem “queimar” a obra nas colunas
a que têm acesso. A ver, portanto!
360,
de Fernando Meirelles (EUA) -
O celebrado cineasta brasileiro
conseguiu captar o nosso interesse, com inteligência e, às vezes, com emoção,
neste retrato circular (ou elíptico) dos tempos que correm, entrecruzando
flashes breves sobre a vida de uma dezena de personagens.
A jovem brasileira, Laura (Maria
Flor) assume particular destaque, porque representa muito do que, julgo, é
comum a grande parte das novas gerações e, por isso, não conseguimos deixar de
sentir por ela uma grande simpatia, pela busca desesperada de quem começa muito
cedo a duvidar do que a vida lhe poderá vir a trazer.
Desejos (compulsivos, às vezes),
desilusões, amarguras, frustrações, excessos, renúncias (por motivos de crença
religiosa!...), desesperanças, eis do que é feita esta obra, com dois ou três
momentos magníficos que ficam na nossa memória cinéfila e isso já é muito bom
perante a mediocridade, vacuidade e inutilidade da maioria do cinema que é distribuído
(e promovido...) pelas salas do nosso País.
Bela
direcção de actores, também, dos veteranos ao mais jovens. Vale a pena ver.
7
DÍAS EN LA HABANA (7 Dias em Havana), Benicio del Toro, Pablo Trapero, Julio Medem, Elia Suleiman, Gaspar Noé, Juan Carlos Tabio e Laurent Cantet (FRA/ESP) -
Sete
realizadores, de diferentes nacionalidades - um porto-riquenho, dois argentinos,
um espanhol, um palestino, um francês e um cubano, apresentam sete visões,
quase sempre surpreendentes, da capital cubana, através de um guião escrito por
um escritor cubano, Leonardo Padura Fuentes (Havana, 1955).
O
resultado, como sempre acontece em obras deste tipo, é um tanto ou quanto
desigual. Inesperado às vezes, pela originalidade que os criadores sempre
procuram, aflorando os aspectos às vezes mais insólitos da realidade. Mas muito
longe de ser, obviamente, um retrato da sociedade cubana, que tem como se sabe
elevados padrões de Cultura - na ciência, na medicina, nas artes, no desporto,
além dos políticos e sociais, em que a fraternidade e justiça social
predominam, e que o filme quase não refere.
Sabe-se
que o retrato duma cidade, para que não se caia do “dejá vu”, no lugar comum ou
no bilhete postal, não é fácil. Apesar de tudo, em minha opinião, afloram nesta
obra algumas das características que permitem a este povo defender a sua
Revolução, há mais de meio século, contra
o criminoso bloqueio económico e não só, levado a cabo pelo mais
poderoso dos vizinhos, os EUA, estado dominado maioritariamente por políticos
sem escrúpulos.
Pablo
Trapero com Emir Kusturica, Elia Suleiman com ele próprio, Laurent Cantet, Juan
Carlos Tapio, distinguem-se pela qualidade fílmica dos episódios que dirigiram.
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