Não se pode esperar que esta recentíssima obra de Wim Wenders, estreada no Festival de Cinema de Veneza deste ano, venha a ter grande sucesso junto do público ou da crítica dominante.
No entanto trata-se de um filme belíssimo para quem aprecie a chamada Sétima Arte.
É que Wim Wenders pegou num texto quase abstracto, escrito para o teatro pelo dramaturgo alemão Peter Handke, seu velho conhecido. E o resultado é puro fascínio, com os dois principais personagens, uma mulher e um homem, Sophie Semin e Reda Kateb, conversando perante nós enquanto a câmara se movimenta suavemente.
Enquanto Sophie fala dos seus amores e desamores, indo até a pormenores da relação física, Kateb descreve a natureza luxuriante que os rodeia, embora nos arredores de Paris mas com memórias do belíssimo parque de Aranjuez. Por ser mais discreto ou porque essa é condição atávica do ser masculino?
Wenders introduz no entanto uma diferença em relação à peça, porque cria o personagem do escritor (Jenz Harzer) e sendo embora discutível o que vemos, para mim o casal é apenas imaginação. Harzer vai pontuando a peça com músicas tocadas numa velha juke box e numa delas surge até ao vivo Nick Cave, numa das suas mais emblemáticas canções, tocando piano e cantando.
E para finalizar é o próprio Peter Handke, o dramaturgo, que surge em silhueta no jardim, aparando as sebes.
Belíssima obra que suscita vontade de a rever. A dicção dos actores é aliás espantosa.
Adenda:
Adenda:
Sophie Semin a bela e magnífica actriz desta obra é a companheira de Peter Handke, o escritor, dramaturgo e cineasta autor da peça original e que aliás surge também num pequeno papel, numa homenagem de Wim Wenders!
Handke teve, no final dos anos 90, a coragem de se manifestar publicamente contra o ataque, a invasão e a destruição da Jugoslávia pela NATO, ataque que causou milhares de vítimas numa agressão que se manteve até à conquista dos Balcãs como nova área de influência do imperialismo norte-americano e dos seus acólitos europeus. Não tenho seguido a sua trajectória política e social mas esse facto torna-o ainda mais credor da nossa admiração.
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