Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

TRILOGIA DE MAXIM, de Grigori Kozintsev e Leonid Trauberg



No ano em que se comemora o Centenário da Revolução de Outubro (1917 - 2017) deixo uma pequena nota, de 2006, sobre um dos mais famosos filmes sobre a Revolução e uma obra-prima absoluta da Sétima Arte, talvez pouco vista dado as cinematecas estarem noutras mãos...

TRILOGIA DE MAXIM, de Grigori Kozintsev e Leonid Trauberg, URSS (1935-1938), ***** (5)

Depois de ter visto a obra-prima de Satyajit Ray “Trilogia de Apu”, agora outra trilogia famosa, constituída pelos filmes “A Juventude de Maxim”, “O Regresso de Maxim” e “O Distrito de Vyborg”, todos com música do grande compositor soviético Dmitri Schostakovich, de quem se comemora este ano o centenário do nascimento (1906).

É uma das mais célebres obras do Cinema Soviético, dos anos inesquecíveis da construção do Socialismo. 

Obra-prima que poucas possibilidades temos hoje, e neste país, de ver… 

Exibida, em sessões separadas, no ciclo do Cinema Clássico Soviético, na Cinemateca Portuguesa, em 1987, que deu origem ao que talvez seja o melhor catálogo de sempre editado pela mesma Cinemateca, pelo menos no grafismo (obviamente esgotadíssimo…). 

Originários da antiga Rússia, hoje Ucrânia, de Kiev - Kozintsev (1905-1973) e de Odessa - Trauberg (1902-1990), os dois cineastas fizeram juntos parte dos movimentos de vanguarda do cinema, nos anos 20 e 30, na URSS.

Sobre a trilogia, diz o referido catálogo da Cinemateca, “há neles (nos filmes da trilogia) uma intrínseca excentricidade, na concepção geral, no tratamento das sequências capitais, na composição interpretativa, que é o contraponto feliz a um argumento muito elaborado, minucioso, didáctico e politicamente comprometido”.

“Tão exemplar (o filme) como o seu herói”, Jean-Marie Carzou, cineasta francês, no Dicionário dos Filmes, da Larousse.

“Maxime é um dos filmes mais importantes realizados na URSS (e no mundo), nos anos 30” no famoso e indispensável Dicionário dos Filmes, de Georges Sadoul.

Esta exibição de agora, no CCB, constituiu um verdadeiro “tour de force”, com a projecção consecutiva dos três filmes, durante quase seis horas, com curtos intervalos entre eles. 

As cópias no entanto apresentavam algumas deficiências, em especial a última, com o som em estado menos bom e legendada em francês, mas afinal com melhor legendagem (mais completa) que a electrónica em português dos dois primeiros filmes. Mas apesar de tudo isso, valeu bem a pena a visão desta obra-prima, do cinema em geral, e do Cinema Revolucionário em particular, abrangendo a história de um jovem operário russo entre 1910 a 1919, participante activo da Revolução Socialista de Outubro, um operário que dadas as suas qualidades é encarregue pelo partido, logo a seguir à Revolução, da gestão do Banco da Rússia, tarefa que desempenha como sempre com muita inteligência, num período particularmente difícil para o novo poder, com as contínuas sabotagens dos anteriores dirigentes, afectos ao czarismo e à direita.

Há na obra sequências memoráveis, entre quais o desfile dos operários com o cadáver do camarada morto na fábrica, devido às péssimas condições de trabalho, contra as quais os trabalhadores protestavam em vão, e subsequente violento reencontro com as forças policiais, que reprimem brutalmente o movimento popular; as orgias da dissoluta sociedade czarista; as primeiras e difíceis reuniões de Maxim com os quadros do Banco e as tempestuosas reuniões na Assembleia Legislativa, antes e logo a seguir ao eclodir da Revolução (e por vezes a caracterização política dos intervenientes é tão perfeita, que pareceu-me ver a actualidade); e, talvez acima de todas, o julgamento popular dos envolvidos nas sabotagens, saques e pilhagens, nos primeiros tempos do Poder Soviético, também pelo seu enorme significado político, mostrando a inteligência e sensibilidade com que os dirigentes comunistas que constituíam o tribunal, souberam lidar com as massas, deixando-as exprimir-se, mas explicando-lhes na altura própria, em que casos se deve ser inflexível e quando se deve perdoar. 

Admirável obra que o tempo não consegue desvanecer, continuando a ver-se com enorme emoção.




MÚSICA

Um concerto integrado na comemoração do centenário de Dimitri Schostakovich, dirigido por Pedro Moreira, com a Big Band do Hot Club de Portugal, mais músicos da O.M.L., e convidados ***** (5)

Os melómanos, habituados aos concertos requintados e organizados ao pormenor, provavelmente não apareceram (embora o auditório principal do CBB estivesse quase esgotado…) 

Confesso o enorme prazer sentido pelas 3 horas que passei no CCB, a assistir a um absolutamente original concerto, de música erudita para jazz e jazz puro (Duke Ellington), através de peças excepcionais escritas para jazz, de Schostakovich, Stravinsky e Bernstein! Logo três dos compositores de que mais gosto! Entre as peças a fantástica “Lost” Suite para Orquestra de Jazz (agora intitulada nº2), de Schostakovich! 

Com um palco, também ele próprio, mudando de aspecto a cada peça tocada, com mais ou menos músicos, e com a configuração da orquestra e dos seus instrumentos e lugares continuamente a mudar ao ritmo das necessidades musicais, foi qualquer coisa de único, parecendo tudo quase um enorme improviso! 


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