ESPECTÁCULOS DE TEATRO PREFERIDOS VISTOS EM CERCA DE DÉCADA E MEIA (2001 - 2017)
Os espectáculos de Teatro fora do palco só existem na nossa memória, a menos que sejam conservados em filme, mas então já não serão bem a mesma coisa.
São efémeros de facto e no entanto alguns nunca serão esquecidos por quem os viu e apreciou. E farão parte da nossa cultura, da nossa formação.
Foi a pensar nisso que resolvi fazer este balanço dos grandes espectáculos de Teatro vistos na última década e meia das nossas existências, a maior parte deles coincidente com "um período socialmente muito mau, com a política de direita no poder, violentamente reaccionária, não poucas vezes de cariz fascizante, aqui e em grande parte da Europa, afrontando o mundo do trabalho e os direitos sociais dos trabalhadores e do povo em geral", conforme já havia escrito em anteriores balanços sobre Cinema.
O Teatro tem também, para além dos seus aspectos lúdicos, um grande papel de denúncia, de uma chamada de atenção, para os problemas da situação social e política que atravessamos. O Teatro que amamos é o que toma partido pelos trabalhadores, pelo Povo e também pelos desfavorecidos, pelos explorados, pelos humilhados e ofendidos, pelos marginalizados, pelos injustamente afastados seja por que motivo for para as margens da sociedade e pelos que lutam por um Mundo Melhor. Em suma o Teatro que nos fala dos grandes valores da Humanidade por que nos batemos.
E os grandes mestres fazem-no de um modo intemporal porque vão ainda mais fundo, ao âmago da questão, à natureza do Homem e as suas obras podem por isso ser entendidas alguns séculos depois e permitir leituras e encenações centradas no nosso tempo.
Porque as questões que têm a ver com a dignidade do Homem, com o seu direito a conduzir o seu próprio destino, na vida colectiva inerente à condição humana, sem exploração nem opressão, permanecem, acompanhando a evolução da Humanidade e o surgimento das classes sociais e os seus interesses antagónicos numa sociedade ainda baseada no lucro e na exploração. Pelo seu fim nos batemos.
Nota final: após muitos esforços esta foi a lista mais reduzida que consegui obter! Claro que é muito pessoal. Que entre todos estes espectáculos vistos neste início de século, por uma razão ou por outra roçando o brilhantismo e não poucas vezes obrigando os espectadores no final a saltarem das suas cadeiras para aplaudirem, que era o mínimo que podiam fazer, a ligação é o grande prazer estético, emocional, de apelo à inteligência, que me proporcionaram.
VIVA O TEATRO !
Eis a lista, uma vez mais por ordem alfabética:
AL PANTALONE, de Mário Botequilha / Miguel Seabra, Teatro Meridional 2015
ANO DA MORTE DE RICARDO REIS (O), de José Saramago / Helder Costa, A Barraca 2016
BICICLETA DE FAULKNER (A), de Heather McDonald /Rita Lello, A Barraca, Cinearte 2009
CARTEIRO DE NERUDA (O), de António Skármeta / Carlos Porto / Joaquim Benite, CTA, TMA 2003
CASIMIRO E CAROLINA, de Odin Von Horvath / Emmanuel Demarcy-Mota, TMJB 2010
CLARABÓIA, de José Saramago / Maria do Céu Guerra, A Barraca 2016
COLECÇÃO (A), de Harold Pinter / Artur Ramos, Artistas Unidos, CCB 2002
COMÉDIA MOSQUETA, de Ruzante / Mário Barradas, CTA, FTA 2009
DIRECTORES (OS), de Daniel Besse / Joaquim Benite, CTA, TMA 2002
DOIDO E A MORTE (O), de Raul Brandão / Alexandre Delgado / Joaquim Benite, TMJB 2014
DOM QUIXOTE, de Miguel de Cervantes / Armando Caldas, Intervalo GT, 2017
DOZE HOMENS EM FÚRIA, de Reginald Rose / Armando Caldas, Intervalo GT 2016
ELA, de Jean Genet / Luís Miguel Cintra, Cornucópia, TdoBA 2008
ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, de José Saramago / João Brites, O Bando, Coliseu 2005
FAZEDOR DE TEATRO (O), de Thomas Bernhard / Joaquim Benite / Morais e Castro, TMA 2004
FELIZMENTE HÁ LUAR, de Luís de Sttau Monteiro / Helder Costa, A Barraca, Cinearte 2007
GAIVOTA (A), de Anton Tcheckov / Luís Miguel Cintra, Cornucópia, TdoBA 2007
GATA EM TELHADO DE ZINCO QUENTE, de Tennessee Williams /Jorge Silva Melo, Artistas Unidos, TMJB 2015
HEDDA GABLER, de Henrik Ibsen / Juni Dahr, Visjoner Teater, Oslo, 2016
I AM THE WIND, SOU O VENTO, Bob Fosse / Patrice Chéreau, TMJB 2011
ÍON, de Eurípides / Luis Miguel Cintra, Cornucópia, TMJB 2014
LONGA JORNADA PARA A NOITE, de Eugene O'Neill / Rogério de Carvalho, CTA, TMJB 2009
MÃE (A), de Máximo Gorki / Bertold Brecht / Joaquim Benite, CTA, TMJB 2010
MARX NA BAIXA, de Howard Zinn / António e Mafalda Santos, Cinearte 2014
MATA (A), de Jesper Halle / Franzisca Aarflot, Artistas Unidos, TMJB 2006
MERCADOR DE VENEZA, de William Shakespeare / Joaquim Benite, CTA 2002
OTHELLO, de William Shakespeare / Joaquim Benite, CTA 2006
PEER GYNT, de Henrik Ibsen / Peter Zadek, Berliner Ensemble, TMJB 2008
QUE FAREI COM ESTE LIVRO?, de José Saramago / Joaquim Benite, CTA, TMJB 2007
RATOS E HOMENS, de John Steinbeck /Armando Caldas / Intervalo Grupo de Teatro, ALN 2015
RETRATOS DA COMMEDIA DELL'ARTE, de Ferrugio Soleri, FTA 2011
SANTA JOANA DOS MATADOUROS, de Bertold Brecht / Bernard Sobel, CTA, TMJB 2011
TARTUFO, de Molière / Rogério de Carvalho, CTA, TMJB 2014
TIMÃO DE ATENAS, William Shakespeare / Joaquim Benite / Rodrigo Francisco, CTA, TMJB 2013
TUNING, de Rodrigo Francisco / Joaquim Benite, CTA, TMJB 2010
ÚLTIMA GRAVAÇÃO DE KRAPP (A), de Samuel Beckett / Peter Stein, FTA 2013
ÚLTIMA VIAGEM DE LÉNINE (A), de António Santos / Mafalda Santos, Não Matem o Mensageiro, 2017
UM DIA OS RÉUS SERÃO VOCÊS: O JULGAMENTO DE ÁLVARO CUNHAL, de Álvaro Cunhal / Joaquim Benite / Rodrigo Francisco, CTA, TMJB 2013
UM PARA O CAMINHO, de Harold Pinter / Jorge Silva Melo, Artistas Unidos, BA, 2002
Lisboa, 5 de Fevereiro de 2017
Sem comentários:
Enviar um comentário