Não é um filme, mas um livro. Publicado em 2001, mas só agora me chegou às mãos e o li. Romance mais ou menos autobiográfico, passado em Trás-os-Montes, ou melhor, em Portugal, entre os anos 30 e 50 do século XX.
O autor nasceu em 1930, em Vila Nova de Gaia, onde viveu até 1945. Liceu no Porto, universidade - Românicas e Direito - em Lisboa. Forçado a emigrar, devido ás perseguições políticas da época, a quem bastava pensava de maneira diferente do poder e não se eximir de o dizer. Viveu no Brasil, EUA e França. Acabou por fixar-se, nos anos 60, na Holanda. Foi professor na Universidade de Amesterdão, de 1964 a 1988. Escritor de sucesso no seu país de acolhimento parece ser, até agora, quase ignorado no seu país de origem e na língua em que escreve, alias admiravelmente. Como muitas vezes acontece neste país aos seus melhores.
"Ernestina" é um romance, que para além da beleza da linguagem, com uma aparente simplicidade que só os grandes conseguem atingir, e que acho extraordinária, me calou profundamente. Porque é uma história das mil histórias que vivi e vi ou me apercebi, durante esses anos em que fui crescendo neste país, miúdo da grande urbe mas rodeado de gente de lugares recônditos que pouco a pouco fui conhecendo.
Para mim, também homenagem, masculina, à Mulher, através das duas Ernestinas, a Mãe e a Amante, iguais no nome e de certa maneira na condição, que fazem nascer a criança e depois o homem. Talvez por isso, com as suas admiráveis descrições da vida da maioria dos portugueses nesses anos sombrios, da descrição quase cinematografica das paisagens e das situações, comovente por vezes (e não me admiro que uma lágrima rebelde possa escapar aos mais sensíveis, porque se lê com muita emoção), de um regionalismo universal, o livro começou por ser sucesso editorial na Holanda. Será que agora irá ser também conhecido e amado, como julgo que merece, no nosso país?
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