“IO SONO L’AMORE” (Eu Sou o Amor), de Luca Guadagnino, (ITA), **** (4)
É a primeira obra notável na curta filmografia deste cineasta siciliano (Palermo, 1971).
Trata-se de melodrama e tragédia no seio de uma abastada família de industriais têxteis milaneses.
No início do filme, o velho dono da indústria, que fez a fortuna da família, é homenageado com um jantar, pelos filhos e netos, no dia do seu aniversário, no qual anuncia quem o substituirá - o filho Tancredo e o neto Edo (Eduardo). Algum tempo depois morre.
A história do filme centra-se na mulher de Tancredo, Emma, de origem russa, que se irá apaixonar por um amigo do filho, jovem cozinheiro, da idade deste, desejando os dois jovens abrir um restaurante, num projecto comum. No entanto o “reacender” do desejo sexual nesta mulher de meia-idade, vai desencadear uma série de acontecimentos que redundarão em tragédia. Como quase todos já salientaram, existe uma parte do filme, nas cenas entre os dois amantes, nas paisagens belas e sensuais da Riviera italiana, que fazem lembrar Lady Chatterley, e em especial a belíssima versão da cineasta francesa Pascale Ferran.
O filme é quase melodrama puro, cinematograficamente muito bem contado, com uma excepcional interpretação da versátil actriz Tilda Swinton. Relembremos apenas dois dos seus melhores papéis, o famoso “Orlando”, realizado por Sally Potter e o magnífico “Michael Clayton”, de Tony Gilroy.
Um conjunto de interpretações excelente rodeia-a, com a curiosidade de o marido de Emma, e herdeiro da fortuna e da indústria dos Recchi, Tancredo, ser o famoso actor e encenador, e um dos principais nomes do moderno teatro italiano, que já vimos em Portugal, nomeadamente no Festival de Teatro de Almada, Pippo Delbono.
A intriga atinge o clímax nas sequências finais, com forte intensidade emocional, tudo muito contido, como convém numa família em que se preza acima de tudo as aparências.
As conotações de classe social são no entanto dadas crua e violentamente, na cena final ente Emma e Tancredo: “Tu não existes!”, ou, se calhar melhor, “Deixaste de existir!”.
**** (4)
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