“VINCERE” (Vencer), de Marco Bellocchio, *** (3)
Em estilo de drama passional, são episódios da vida amorosa do ditador fascista Benito Mussolini (1883-1945), expulso do Partido Socialista por defender a intervenção na Primeira Grande Guerra (1914-18). Em 1922, após marcha sobre Roma, chega ao poder e a partir de 1925 fá-lo ditatorialmente. Em 1929 cria o Estado da Santa Sé, com sede no Vaticano. Invade a Etiópia (1935-36), enquanto Hitler faz o mesmo em Espanha (1936-38), com o apoio de Mussolini, colocando os fascistas de Franco no poder. Depois de invadir a Albania em 1939, e depois da ocupação de França pelos nazis, alia-se formalmente a estes na Segunda Grande Guerra (1939-45). Com as sucessivas derrotas do nazi-fascismo foi finalmente capturado pela Resistência em 1945 e executado.
Sem o fulgor de outras obras do cineasta, como o excelente “Bom Dia, Noite”, sobre o sequestro e assassinato do político conservador Aldo Moro, pelas Brigadas Vermelhas, acontecimento que correspondeu aos desejo da ultra-direita italiana. No entanto a obra tem a marca do estilo do realizador e vê-se com interesse.
Drama que passa pela eliminação física, durante a 2ªGrande Guerra, da sua suposta primeira mulher (decisiva na sua ascensão, de acordo com o filme) e respectivo filho, encerrados em hospícios de onde dificilmente se saía com vida, depois de renegados por Mussolini, segundo Bellocchio. Excelente interpretação de Giovanna Mezziogiorno, na amante desprezada, que reivindica o reconhecimento do casamento.
No entanto o filme tem dois ou três apontamentos merecedores de nota – a provocação radical de Mussolini aos homens da Igreja, a propósito da existência de Deus, que marca o início da obra, parece perdoada e esquecida a partir do momento em que ele cria em 1929, quatro anos depois de se tornar ditador, o Estado da Santa Sé, passando a partir daí a contar com o apoio declarado da Igreja Católica ao seu regime fascista. Aliás como aconteceu no resto da Europa, em relação ao fascismo.
Bellocchio, parece querer confirmar, com a última frase do seu filme, que afinal tiveram que ser os militantes da Resistência, a fazer justiça.
Sobre o radicalismo e de como muda tantas de vezes de campo, estamos nós fartos de saber, seguindo as últimas décadas da história portuguesa, indo até aos mais altos cargos da política – presidência da CE…
Falta ao filme um maior enquadramento das razões económicas e sociais da ascensão dos fascistas em Itália e do que foi depois o regime de terror por eles instaurado, aliás bem documentado na literatura e também no cinema, em várias obras maiores (Pasolini, Visconti, Bertolucci, Fellini, Zurlini, Maselli, Rosselini, Tornatore, Pontecorvo, Montaldo, etc, etc)
*** (3)
Adenda:
1-“Como é que todas aquelas pessoas puderam acreditar num palhaço daqueles?” (…) “Mas eu pessoalmente interrogo-me: e como é possível que hoje acreditemos noutros palhaços (como Berlusconi)? E no entanto acreditamos” (Filipo Timi, o actor que faz de Mussolini) (citado por Alexandra Prado Coelho, “Público”, 28mai10)
2-“Conheci o cinema que se fazia com as câmaras montadas sobre carris, agora faz-se tudo com máquinas cada vez mais pequenas. Godard rodou com uma máquina fotográfica… As televisões comandam num certo sentido. E nesse sentido, o cinema já mudou: a possibilidade técnica de fazer um filme com meios cada vez mais minimais determinará o estilo e o gosto – e já o faz. “ (Marco Bellocchio, em entrevista ao “Público”, 28-mai10)
Sem comentários:
Enviar um comentário