HOMENAGEM A HENRIQUE ESPÍRITO SANTO
Dirigente cineclubista nos anos de chumbo do fascismo e depois, ainda
antes que a liberdade fosse conquistada, produtor de cinema e depois nos anos
da liberdade que se seguiram ao 25 de Abril. Decano dos produtores de cinema no
nosso País e responsável por alguns dos melhores filmes que cá se fizeram. Uma
vida dedicada à luta por um Mundo mais justo e fraterno.
Homenagem ao Henrique e à Guida (na foto no dia 30 de Abril de 1974 no Aeroporto de Lisboa, aguardando a chegada de Álvaro Cunhal a Portugal, poucos dias depois do derrube do regime fascista).
E na cerimónia de entrega do Prémio de Carreira pela Academia Portuguesa de Cinema, no Centro Cultural de Belém, em 2014.
Assistimos ao encontro com ele na Cinemateca Portuguesa, integrado no
Ciclo de Homenagem que a Cinemateca organizou, onde foi referido por todos os
participantes e alguns assistentes que quiseram intervir, da importância que o movimento
cineclubista teve na resistência ao fascismo. Posso acrescentar que, era eu
então estudante universitário - anos 50 e 60, fui dos para quem o cineclubismo, juntamente com as Associações de Estudantes,
mais que a Universidade, foram fundamentais no esclarecimento da situação política
no nosso País e a nível mundial e de uma
tomada de posição decisiva na luta contra a exploração e a repressão.
Ao procurarmos nos exemplares que tenho da Seara Nova dos anos 50 as
críticas que então escreveu para aquela revista de esquerda, na sua luta
constante com a tenebrosa censura fascista, encontrámos uma crítica a
"LONELY ARE THE BRAVES" (Fuga sem Rumo), filme dirigido por David
Miller e com argumento do grande Dalton Trumbo, um dos nomes do cinema implacavelmente
perseguidos pelo comité dirigido por Joseph McCarthy e Richard Nixon durante de
um períodos mais fascistas da política nos EUA. Curiosamente está em exibição
neste momento na nossa cidade um filme sobre Dalton Trumbo, que chegou ao ponto
de ter que assinar com outros nomes os seus trabalhos em Hollywood.
Adenda:
excerto do que escrevi a propósito da sessão de homenagem a José Fonseca
e Costa, realizada em 9-Out-2015, no Intervalo Grupo de Teatro, com a presença
do grande realizador, embora já muito doente.
(...)
Poucos dos espectadores desta noite cultural se terão dado conta (e o
homenageado só no final) da presença entre os que esgotaram o auditório Lourdes
Norberto, de outro nome grande do cinema português, o decano dos produtores
portugueses e às vezes também actor (como no magnífico "Tabu", de
Miguel Gomes), Henrique Espírito Santo. É que ele participou nos anos 50 e 60,
com José Fonseca e Costa, no movimento cineclubista, tendo ambos feito parte
da mesma direcção do Cine-Clube Imagem, e pouco depois ambos seriam presos pela
PIDE, acusados de "actividades subversivas", conduzidos ao Aljube, em
trânsito para Caxias, onde Henrique Espírito Santo estaria um ano e meio. Mas o fascismo não os conseguiu
destruir ou amedrontar e ambos participaram nos primeiros projectos de José
Fonseca e Costa no cinema, nomeadamente na curta-metragem "Regresso à
Terra do Sol", realizada em Angola (1967), donde o realizador é natural, e
da longa-metragem já citada "O Recado" (1971), nas quais Henrique
Espírito Santo foi o Director de Produção. Ambos fariam depois notáveis
carreiras, cada um na sua especialidade, e tendo o segundo colaborado nalgumas
das obras do realizador, nomeadamente em "Balada da Praia dos Cães" e
"Cinco Dias Cinco Noites".
(baseado em notas que publiquei no facebook, antes e depois da homenagem na Cinemateca, em 26-Fev-2016)
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