Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

segunda-feira, 18 de julho de 2016

BREVES NOTAS SOBRE O 33º FESTIVAL DE TEATRO DE ALMADA



BREVES NOTAS (tomadas na altura) SOBRE ESPECTÁCULOS VISTOS NO 33º FESTIVAL DE TEATRO DE ALMADA

Obs: Mereceriam obviamente outro tratamento mas já me falta o talento, a força e o tempo... Peço desculpa. 

1- HEDDA GABLER, de Henrik Ibsen, encenação de Juni Dahr




O 33º Festival de Teatro de Almada começou de maneira brilhante na Casa da Cerca!
Para quem gosta de Ibsen imagine o que se poderá fazer num espaço belíssimo como é a Casa da Cerca, espaço de exposições e eventos da Câmara Municipal de Almada, com Lisboa em fundo.

Mas o que esperávamos foi superado por esta magnífica encenação da peça HEDDA GABLER, pela encenadora e actriz norueguesa, também cineasta, Juni Dahr, acompanhada por outros 4 magníficos actores, uma mulher e três homens, do Visjoner Teater, de Oslo.
Espectáculo dito em norueguês, mas com uma tradução para português excelente e muito visível para todos quantos estavam a assistir.
Espectáculo quase íntimo, para apenas 60 espectadores por sessão, como gostava o grande dramaturgo norueguês, Henrik Ibsen, para aproximar o público dos actores e da representação.
Um longo e caloroso aplauso no final, com todos os espectadores de pé, pareceu-me até surpreender os actores, que talvez não o esperassem da parte de um público de língua tão diferente. Mas Almada é Almada e o público que criou tem uma cultura teatral invejável e rara.


2- A GAIVOTA, de Anton Tchecov, encenação de Thomas Ostermeier

Um famoso encenador alemão, Thomas Ostermeier, regressou a Almada com uma encenação muito moderna (mas não, pelo menos na parte principal, pos-moderna... felizmente!) de uma das grandes peças de Anton Tcheckov, A GAIVOTA.


É um grande texto que continua a suscitar interrogações e dúvidas de quem o vê representado (ou o lê) sobre o comportamento das pessoas... e dos artistas:
"Artistas!..." comenta a certa altura um dos personagens, o médico. 
Os comentários que o encenador incluiu na representação pecam, em minha opinião, por serem, no campo das ideias, um pouco confusos e ambíguos, pelo menos para mim, como o sobre os refugiados das zonas do mundo (Médio Oriente) vítimas de agressões e invasões da NATO e da UE para conquistarem fontes de matérias primas e por razões estratégicas favoráveis ao imperalismo,
Pessoalmente, no entanto, e no cômputo geral, achei muito bom, principalmente a partir de certa altura, onde se aproximou mais do clássico.



3- TRÓPICO DEL PLATA (Trópico do Mar da Prata), texto e encenação de Rúben Sabadini

(visto no Teatro Estúdio António Assunção, durante o Festival de Teatro de Almada de 2016)

Uma magnífica interpretação, de uma jovem actriz, Laura Nevole, transforma um espectáculo minimalista em algo que nos toca. 



E é quase sempre através da metáfora que o autor, o dramaturgo argentino Rubén Sabadini, nos descreve a relação de poder que se estabelece entre um homem, Guzman, e a sua amante, Aimée, uma jovem que recorre à prostituição para sobreviver numa grande metrópole, e que ele utiliza recorrendo à violência, como proxeneta e chulo. E as relações com os clientes, burgueses que se disfarçam, se escondem, para se servir daquela mulher. 
"O mercado da carne não funcionaria sem a cumplicidade de uma sociedade patriarcal prostituta que se sabe soberana e, no carnaval da história, a violência (institucional) contra a mulher disfarça-se de escolha pessoal e torna-se invisível por detrás da máscara."
"toda a violência (dos poderosos) é política porque a vítima é aquela que é tida por inferior."
"No mínimo este espectáculo procura não agradar a tantos espectadores de classe média que frequentam o teatro para expiarem as suas culpas de burgueses silenciosos e, como tal, complacentes." (palavras do autor, transcritas na folha da sessão)
Espectáculo à altura do Festival, com uma excelente legendagem, embora a clareza do castelhano argentino e a magnífica dicção de Laura Nevole a dispense muitas vezes.
De salientar ainda que, por esta interpretação, a actriz recebeu vários prémios no seu país.



4- GRAÇA - SUITE TEATRAL EM TRÊS MOVIMENTOS - autoria e encenação de Carlos J.Pessoa 

Este Festival também tem destas coisas: conduzir-nos a locais de grande beleza, neste caso o velho Teatro Taborda, na encosta do Castelo de S. Jorge, mas à altura da Senhora do Monte ou do Monte Agudo, que é um fascínio de instalações, de vista, de localização. E quanto à peça, GRAÇA - SUITE TEATRAL EM TRÊS MOVIMENTOS, concepção e encenação de Carlos J. Pessoa, para o Teatro da Garagem, é uma magnífica homenagem à pintora Graça Morais, cuja obra, de profundo sentido telúrico, pelo menos para mim, a sua sensibilidade e humanismo, admiramos desde há muito, sendo outro espectáculo que nos surpreendeu, principalmente pela sua concepção com recurso a meios vários, nomeadamente o vídeo, admiravelmente conseguidos.





Relembremos que a pintora é a autora do belíssimo cartaz do Festival e que duas exposições da sua obra são visíveis, na Casa da Cerca (até Setembro) e na Escola D. António da Costa (só durante o Festival).



5- DEIXA-ME QUE TE BAILE, dançado e encenado por Mercedes Ruiz

Para mim o Festival iniciou-se e terminou com dois espectáculos que achei brilhantes, de que gostei muito.

Para abrir, foi a HEDDA GABLER, a famosa peça de Ibsen, representada este ano na CASA DA CERCA e que viria ontem a merecer a escolha do público para Espectáculo de Honra de 2017 (fiquei contente porque gostei muito desta encenação). 

E o fecho, incluindo a homenagem a um grande homem de teatro, Ricardo Pais, foi outro espectáculo excepcional, DEJAME QUE TE BAILE, não de teatro mas de dança e canto, desta vez com o FLAMENCO, dançado pela que foi considerada este ano, em Espanha, a melhor intérprete desta Arte, Mercedes Ruiz (Jerez de la Frontera, 1980) e a sua Companhia. 

É difícil encontrar palavras para descrever o que se sente quando se assiste a um espectáculo de FLAMENCO, com esta enorme qualidade artística, com as suas origens em povos e culturas, com as quais as nossas ligações ancestrais são fortíssimas - árabes, judaicas e, principalmente, ciganas. Impossível não pensar em Frederico Garcia Lorca, um dos maiores poetas e dramaturgos da Literatura Universal e em tempos mais recentes, num grande cineasta, Carlos Saura e na sua maravilhosa trilogia sobre a música património universal - Flamenco, Tango e Fado.




6- CONCLUSÃO

Com imagens feitas por um modesto espectador e fotógrafo ocasional e outras, as de alguns dos participantes, de espectáculos que vimos, retiradas da NET.
Foi o 33º. E como diria o seu criador e fundador, o saudoso Joaquim Benite, já estamos a pensar em como será o 34º, onde esperamos ainda estar presentes, com o mesmo empenho e interesse...
Retenho as palavras do director artístico do Festival, Rodrigo Francisco, em entrevista que lemos - "... há um espectáculo que eu acarinho bastante e que é o espectáculo de encerramento no Palco Grande: Dejame que te baile, da coreógrafa e bailadora espanhola Mercedes Ruiz."
Também nós porque foi, em nossa opinião, um brilhante e maravilhoso encerramento para o Festival, mesmo que à sua programação deste ano possam ser tecidas algumas críticas mas isso ficará para outro espaço e momento ! 
E lamento muito não ter podido ver tudo o que me interessava.









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