RELEITURAS
Sobre JERUSALÉM, de Gonçalo M. Tavares
(Porque a sua linguagem, em minha opinião, seria facilmente transformável em imagens)
Reli essa obra-prima do desespero (em minha opinião) que é o JERUSALÉM.
Há obras que só consigo ler com uma enorme angústia, não porque não estejam admiravelmente escritas mas pelo que descrevem. No cinema é possível fechar os olhos quando o desespero ou a angústia dos personagens passam do ecrã para dentro de nós. Na literatura, só se saltarmos linhas, ou páginas ( e capítulos), para não ler...
Evito em geral esse tipo de obras, só as lendo (ou vendo) quando o nível da escrita ou do tratamento do tema o justifique, como é o caso de JERUSALÉM.
Mas não deixam de me incomodar... Porque continuo a lutar para viver num mundo diferente.
Embora admiravelmente escrito (lê-se num ápice) é uma obra de uma escuridão total. Não há um mínimo de humor, de algo que não seja desgosto, infelicidade, desespero. Não é recomendável a espíritos inquietos, julgo eu. Há quem diga (na contracapa) que é kafkiano, que lembra os quadros de Kiefer sobre o nazismo, que segue na linha do expressionismo alemão, de Murnau a Lang, no período que leva ao poder os nazis na Alemanha.
Confesso que esta obra é de uma leitura deprimente, embora goste muito do estilo do escritor, principalmente noutras obras, menos desesperadas. Nesse aspecto é extraordinariamente bem conseguido. E teria sido ainda mais difícil de ler se ainda vivêssemos sob os fascizantes governos de cavaco, passos e portas/cristas, às vezes com os seus afloramentos neo-nazis, deixados escapar no meio dos discursos, das propostas e até na aplicação das leis por eles aprovadas, como, por exemplo, as declarações sobre a "peste grisalha" de um deputado do psd ou as frequentes referências contra os apoios sociais aos mais desfavorecidos, que enquanto poder reduziram a níveis mínimos ou a famigerada lei das rendas, que veio a provocar muitos despejos de muitos dos mais idosos, dos mais vulneráveis e dos mais desfavorecidos dos inquilinos, com o favorecimento dos grandes senhorios.
Aos que não são demasiado impressionáveis e são sensíveis à grande literatura, recomendo JERUSALÉM, como aliás o resto da obra, a que conheço, do escritor.
Porque não queremos que o mundo volte a ser assim!
Nem concordo com as teorias dos Busbecks, avô e pai, sobre o terror, sobre o horror, cujas razões primeiras são quase sempre, como se sabe, as crises económicas do sistema que os mais poderosos fazem recair sobre os explorados e oprimidos, recorrendo à repressão, à violência, até ao genocídio, para manter o seu domínio e os seus privilégios. Essa ditadura dos mais poderosos degenera no fascismo e no nazismo.
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