Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

segunda-feira, 20 de março de 2017

JERUSALÉM, de Gonçalo M.Tavares - Uma Leitura



RELEITURAS

Sobre JERUSALÉM, de Gonçalo M. Tavares
(Porque a sua linguagem, em minha opinião, seria facilmente transformável em imagens)

Reli essa obra-prima do desespero (em minha opinião) que é o JERUSALÉM. 

Há obras que só consigo ler com uma enorme angústia, não porque não estejam admiravelmente escritas mas pelo que descrevem. No cinema é possível fechar os olhos quando o desespero ou a angústia dos personagens passam do ecrã para dentro de nós. Na literatura, só se saltarmos linhas, ou páginas ( e capítulos), para não ler... 

Evito em geral esse tipo de obras, só as lendo (ou vendo) quando o nível da escrita ou do tratamento do tema o justifique, como é o caso de JERUSALÉM. 

Mas não deixam de me incomodar... Porque continuo a lutar para viver num mundo diferente.

Embora admiravelmente escrito (lê-se num ápice) é uma obra de uma escuridão total. Não há um mínimo de humor, de algo que não seja desgosto, infelicidade, desespero. Não é recomendável a espíritos inquietos, julgo eu. Há quem diga (na contracapa) que é kafkiano, que lembra os quadros de Kiefer sobre o nazismo, que segue na linha do expressionismo alemão, de Murnau a Lang, no período que leva ao poder os nazis na Alemanha. 

Confesso que esta obra é de uma leitura deprimente, embora goste muito do estilo do escritor, principalmente noutras obras, menos desesperadas. Nesse aspecto é extraordinariamente bem conseguido. E teria sido ainda mais difícil de ler se ainda vivêssemos sob os fascizantes governos de cavaco, passos e portas/cristas, às vezes com os seus afloramentos neo-nazis, deixados escapar no meio dos discursos, das propostas e até na aplicação das leis por eles aprovadas, como, por exemplo, as declarações sobre a "peste grisalha" de um deputado do psd ou as frequentes referências contra os apoios sociais aos mais desfavorecidos, que enquanto poder reduziram a níveis mínimos ou a famigerada lei das rendas, que veio a provocar muitos despejos de muitos dos mais idosos, dos mais vulneráveis e dos mais desfavorecidos dos inquilinos, com o favorecimento dos grandes senhorios.

Aos que não são demasiado impressionáveis e são sensíveis à grande literatura, recomendo JERUSALÉM, como aliás o resto da obra, a que conheço, do escritor. 

Porque não queremos que o mundo volte a ser assim! 

Nem concordo com as teorias dos Busbecks, avô e pai, sobre o terror, sobre o horror, cujas razões primeiras são quase sempre, como se sabe, as crises económicas do sistema que os mais poderosos fazem recair sobre os explorados e oprimidos, recorrendo à repressão, à violência, até ao genocídio, para manter o seu domínio e os seus privilégios. Essa ditadura dos mais poderosos degenera no fascismo e no nazismo.


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