Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

sábado, 4 de março de 2017

O VENDEDOR (Forushande), de Asghar Farhadi



No rescaldo dos anunciados óscares fui ver uma obra do cineasta iraniano, Asghar Farhadi, "FORUSHANDE" (O Vendedor), aliás já estreada no final do ano passado nos ecrãs da nossa cidade.

E foi uma magnífica surpresa este belo filme iraniano, com um final de grande intensidade dramática, que tem como pano de fundo a representação da famosa peça "THE SALESMAN" (A Morte de um Caixeiro Viajante), de um dos maiores dramaturgos norte-americanos, que muito admiramos, Arthur Miller, já que os dois protagonistas são o casal de actores que representam os principais papéis da peça de Miller num palco de Teerão. E aqui não deixámos de lembrar o nosso grande Rogério Paulo, no mesmo papel nos palcos portugueses. 

Magnificamente realizado e desempenhado, tendo como tema a vingança, mas num ponto de vista de quem, por questões de formação e ideologia (trata-se de um professor que se percebe ser culto e humanista, pelo menos), se procura dominar, num crescendo de emoções que mantém os espectadores amarrados aos seus lugares, e é por isso que tem sido tão premiado: ultimamente com o óscar para o melhor filme em língua estrangeira, mas já o fora em Cannes e Munique, por exemplo.


Obviamente que sendo uma obra realizada por alguém que é crítico ao actual poder político no seu país - o da hierarquia religiosa dominante, o filme não deixa de apontar o dedo à censura existente, sempre sob o pretexto da moral - aos diálogos da peça de Miller, aos livros considerados pouco recomendáveis para entregar aos jovens para ler na escola. 

Sabendo-se como o imperialismo cobiça há longos anos voltar a dominar aquele grande país e principalmente as suas matérias primas (petróleo), que o seu último político progressista, Mohammed Mosaddeq, havia nacionalizado em meados do Século XX, razão porque CIA e a política britânica organizaram poucos anos depois um golpe de estado que devolveu o poder absoluto ao Xá. 

A corrupção da monarquia veio no entanto a criar condições para a revolução que deu o poder actual aos religiosos, o que não deixou de ser um revés para a política norte-americana, que através da CIA, tenta desde então recuperar a influência perdida.

No presente, complexo e perigoso, contexto internacional, o regime iraniano, visto do ponto da correlação das forças anti-imperialistas versus pró-imperialistas (como a UE, por exemplo), apresenta aspectos positivos e importantes. Talvez seja por isso também, que as grandes obras do cinema iraniano actual, embora não escondam a natureza do regime político, não o fazem com grande violência crítica.


(comentário já publicado no facebook)

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