"Anti-Christ", de Lars Von Trier (DIN), ** (2)
Como já se tornou hábito as obras do realizador dinamarquês Von Trier dividem os espectadores e os críticos de cinema – “Génio do mal (o realizador)” chama-lhe Manuel Halpern no JL (que saudades do Rodrigues da Silva!), e no DN, uns consideram o filme mau ("arbitrário, caótico, risível, transgressor e chocante" ou, por outras palavras, “quando lhe dá para a birra anti-social ou política, é mau, muito mau” e dão como exemplo do pior o que era magnífico, em minha opinião, “Dancer in the Dark”!!!) (mas aí as razões serão diferentes), outros consideram “Anticristo” como excepcional (João Lopes, aliás o melhor crítico de cinema daquele matutino). E até Michel Ciment, um estrénuo defensor de um cinema de qualidade, deplora que este filme signifique “Quanta decepção, por um cineasta em que tanto havíamos acreditado!” (Positif, nº581/582)
Uma coisa é certa: “Anticristo” não é aconselhável a espíritos fracos e impressionáveis e é principalmente recomendável a adultos com suficiente maturidade e que gostem muito de cinema e certamente aos meus amigos da Psicologia!
Parece que Von Trier se quer transformar num “cineasta maldito”. Poucas vezes o cinema teve cenas que horrorizassem tanto os espectadores como nesta obra, em que um casal que perde um filho ainda bebé, numa situação de que se sentem algo culpados, e sendo o marido psicólogo, se lança numa tentativa de tratamento da situação traumática criada pela perda e pelo sentimento de culpa. “A única maneira de controlar o medo é afrontá-lo.”
Cinema de autor, por vezes extraordinariamente bem filmado, faz lembrar certos “pesadelos” nórdicos (Munch e outros, também no cinema), em que a rigidez moral da influência das igrejas, conduz a comportamentos extremos, fundamentalistas, em que a histeria está omnipresente. E também, na segunda parte da obra, a uma enorme misoginia, tal como nas igrejas. “A Natureza é a igreja de Satanás”, a culpa é dos homens.
Quase como se Von Trier tentasse, com este filme, uma espécie de catarse, em relação à carga psicológica de uma educação resultante dos preconceitos, que marca, ainda hoje, muitas consciências. Também por isso, o sexo surge no filme, explícito e avassalador, em imagens por vezes de grande intensidade. O realizador filma os extremos – o clímax do prazer e da dor, e os seus praticamente dois únicos actores, Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg, são simplesmente brilhantes.
** (2)
A mim Lars Von Trier não convence... Não gostei de "Anticristo" (escrevi sobre ele no meu blog, propondo uma comparação com "A Hora do Lobo", de Bergman, esse sim um grande filme) e gostei menos ainda de "Dogville". Incomoda-me particularmente a sobrevalorização que odiretor recebe entre certos críticos e certa parcela mais"intelectualizada"do público. Mas acho "Dançando no Escuro" razoável.
ResponderEliminarÉ isso aí. Abraços! Ótimo blog!