“A MÃE”, de Bertold Brecht, encenado por Joaquim Benite, para a Companhia de Teatro de Almada, no TMA (Teatro Municipal de Almada), ***** (5)
Mais um magnífico espectáculo daquela que é, creio que sem dúvida, uma das nossas (e não só) melhores companhias de teatro. Foi a sua 121ª produção. E, à mesma hora, na sala experimental do mesmo teatro - Municipal de Almada, representava-se também “Uma Visita Inoportuna” (1987), de Copi, que ainda não vimos mas tencionamos.
Numa peça escrita em 1931-32, Brecht adapta o famoso romance homónimo, publicado em 1906, por Máximo Gorki (“uma saga por vezes feminista como «A Mãe» e, na sua riqueza telúrica, simplesmente sublime”, Urbano Tavares Rodrigues, Dez2009), mas alterando-lhe o final e fazendo Pelagea Vlassova, a Mãe, (excepcional Teresa Gafeira, uma vez mais) sobreviver e assistir à Revolução triunfante pela qual o filho, Pavel, e os seus camaradas, e depois ela própria, tanto lutaram.
Peça extremamente rica, dividida em 14 cenas, que continua a poder ser aplicável à realidade que nos rodeia, quase um século depois de ter sido escrita – a luta pelo fim da exploração, pelo direito ao trabalho, a luta de classes. Mãe e filho, cuja vida e comportamento se interpenetram. Uma dando-lhe origem e formação nos primeiros anos de vida, outro, de quem mais tarde ela receberá exemplos, que a levarão a transformar-se e a substituí-lo quando sucumbe varado pelas balas da repressão. (ler artigo de Roland Barthes no programa do espectáculo)
A música de Hanns Eisler (de quem ouvimos algumas canções por ele musicadas, noutro extraordinário espectáculo, “Canções de Brecht”, também pela CTA) é tocada ao vivo (acordeão, trompete e percussão) e dirigida pelo maestro Fernando Fontes. O cenário, extremamente eficaz, simultaneamente na representação da entrada da fábrica, das casas despojadas, dos seus operários ou do refeitório de uma herdade, é de Jean-Guy Lecat, uma vez mais a colaborar com a companhia. Um grupo de 18 actores, muito coeso e magnífico, dá corpo e voz aos personagens criados por Brecht, em que avulta, pela dimensão da personagem, a Mãe, Pelagia Vlassova, admiravelmente interpretada por Teresa Gafeira.
Sala cheia, para assistir a uma peça que hoje, como dantes, faz pensar. “Aliás, a revolução não é coisa para um país com gente desta. O russo nunca fará uma revolução” (O Professor, Nikolai Vessovchikov) (Marques d’Arede em outro magnífico desempenho). No entanto também ele irá mudar e assistir à vitória da Revolução de Outubro, em 7 de Novembro de 1917. A tradução é de Yvette K.Centeno (“rigor e excepcional qualidade literária”, Joaquim Benite, em entrevista a Miguel-Pedro Quadrio no “MAIS TMA”, onde aliás o encenador define com muita clareza o “distanciamento” ou “efeitos de estranheza”, no teatro de Brecht).
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