HOMENAGEM A CHABROL - MAIS PRAZER CINÉFILO: "BELLAMY"
Foi nos anos 60 que comecei a ver as obras de Claude Chabrol (Paris, 24-Jun-1930 –
12-Set-2010), as que chegavam até nós. Creio que foi “À Double Tour” (Quem
Matou Leda) (de 1959), o primeiro que vi, nessa longínqua época, numa sessão de
um dos cineclubes de então - ABC, Imagem ou CCUL, embora, pela minha condição
de estudante, fosse sócio do CCUL, numa dessas associações que nos ajudaram a
ver Cinema e não só, nesses tempos plúmbeos e medíocres.
E a partir daí foi sempre com um redobrado prazer cinéfilo
que segui a sua carreira. É um dos
autores de que não gostava de perder nova obra, à semelhança do que acontece
com alguns outros cineastas e obviamente com alguns escritores. Mesmo que a não
consideremos no conjunto do melhor do seu autor.
Não é no entanto, na minha opinião, o caso de “Bellamy”,
que Chabrol dedicou a dois “Georges”: obviamente Brassens e Simenon, que também
são para nós, não por acaso, duas referências.
http://images.search.conduit.com/ImagePreview/?q=marie%20bunel&ctid=CT3241941&searchsource=15&CUI=UN34371507074683905&start=0&pos=9
É que o filme é muito bom, embora no entanto se trate de
uma obra um pouco à margem, em minha opinião, do conjunto da filmografia de
Chabrol, ele que é muito justamente considerado um crítico, agudo e mordaz, da
vida burguesa, mais da grande e média que da pequena burguesia. Digamos que
aqui ele alarga a sua observação do comportamento humano, num retrato complexo,
pela sua imbricada teia de relações, mas em que o humor não está ausente.
Teria ou não Chabrol ideia de que poderia ser o seu último
filme, suponho que ninguém saberá. Mas não deixa de ser algo premonitório que o
tema aborde a morte, ou o desejo dela, como motivo principal. Mas não deixo de
concordar com os que detectam alguma influência neste filme, nas suas
personagens, da escrita da grande escritora inglesa, do género policial, Ruth
Rendell (que Chabrol adaptou com brilho
noutras obras, a partir de alguns dos seus romances). É magnífico que na sua derradeira obra
Chabrol, homenageie, embora discretamente, dois dos grandes autores do
Policial, Simenon e Rendell, de cuja escrita gostava muito, tal como eu.
http://images.search.conduit.com/ImagePreview/?q=claude+chabrol&ctid=CT3241941&SearchSource=15&FollowOn=true&PageSource=ImagePreview&SSPV=&start=35&pos=1
De salientar ainda a cativante interpretação de Marie
Bunel, como Madame Bellamy (Françoise), a mulher do Inspector, que fica na
nossa memória cinéfila. Por outro lado Gérard Depardieu é excelente. O seu
Bellamy tem de facto bastante a ver com Maigret, pelo menos como eu o imagino.
As alegações finais do jovem advogado de defesa, no
julgamento do pretenso homicida que havia pedido auxílio a Bellamy, servindo-se
dos versos de Brassens é uma ideia para mim original, porque não me lembro de
outra igual.
E para terminar, suponho que quem viu reparou, nessa
imagem de marca do grande cineasta francês, que nos acompanha desde o primeiro
filme e que neste, embora seja um filme muito de interiores, não deixa de
surgir para nosso encantamento. O desfilar da copa das árvores perante os
nossos olhos, ou os dos infelizes ocupantes dos automóveis, carros que neste
filme têm papel determinante, no início e final da obra...
Por tudo isto, é um prazer, cinéfilo em primeiro lugar.
E lamento muito por não poder ver mais nenhuma nova obra
deste cineasta que tanto apreciávamos.
(publicado no Cartaz de Cinema / Público / Indeks)
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