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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

sábado, 3 de novembro de 2012

CESAR DEVE MORIRE (CÉSAR DEVE MORRER) de PAOLO E VITTORIO TAVIANI


“CÉSAR DEVE MORRER”, de Paolo e Vittorio Taviani

Amig@s, recomendo muito a visão deste filme, a surgir em breve nos nossos ecrãs e que teve ante-estreia para o grande público, na Culturgest, dia 27-Out-2012, na sessão de encerramento do DOCLISBOA 2012, onde o pude ver. Houve amigos, que mo recomendaram, que o haviam já visto em sessão especial reservada aos críticos.

O filme trata de uma representação da famosa peça “Júlio César”, de William Shakesperare, num universo concentracionário, o de uma prisão romana de alta segurança, Rebibbia, em que os actores foram seleccionados entre os presos e grande parte das cenas são realidade, isto é, pertencem aos ensaios e à representação da peça, dentro da prisão, para um público que ali foi autorizado a assistir.
A obra parte de um paradoxo: a luta pela liberdade contra a tirania, é representada integralmente neste filme por homens que dela foram privados, mas por terem cometido crimes de grande gravidade, que os levam a cumprir elevadas penas que, nalguns casos, vão até à prisão perpétua. É óbvio que, no entanto, sentem como qualquer outro ser humano o pode sentir, nas condições mais diversas, a falta de liberdade.
Neste universo desumano, os homens perdem muito da sua dignidade, amputados além da liberdade, do amor, das suas mulheres, cuja presença no filme se sente embora quase invisível.
Entre muitos outros méritos, cinematográficos também, esta obra extraordinária dos Irmãos Taviani, faz-nos pensar desde logo na relatividade da liberdade, nos seus limites, no limite supremo que, em minha opinião, reside na necessidade de defesa da classe trabalhadora, exército de explorados e oprimidos, que uma vez libertos e chegados ao poder, através de grandes lutas e sacrifícios, dada a enorme diferença de meios entre exploradores e explorados, se vê obrigada a limitar a liberdade dos antigos senhores, sob pena de sabotagens e atentados que deitariam tudo a perder. E isso, obviamente, também é uma ditadura, para estes.
Um outro aspecto fundamental que a obra foca é o de homens duros e violentos, capazes de matar e serem associais (acusados de assassinatos, de tráfico de droga, de associação criminoso – Mafia e outras organizações, etc) terem aceite participar neste projecto e nele se empenhando com grande inteligência e sensibilidade. Recuperando a dignidade como seres humanos.
Por isso a representação da obra-prima da dramaturgia universal que é “Júlio César”, é nesta encenação por vezes emocionante, comovente mesmo. É a dignidade de seres humanos, que no seu passado foram capazes de comportamentos irresponsáveis, que ressurge perante os nossos olhos. 
Lembrei-me de uma das mais belas obras do revolucionário, político, homem das Artes, que foi Álvaro Cunhal, em “A Estrela de Seis Pontas”,  em que o escritor narra, através de várias estórias, a sua experiência de contacto durante o seu cativeiro nos cárceres fascistas por motivos políticos, com presos de delito comum, dando-nos admiráveis retratos desses homens vivendo em condições adversas, em geral muito por culpa própria, mas em que as fraquezas e grandezas do ser humano não deixam de coexistir.
Tudo isto a obra dos Irmãos Taviani mostra através de imagens que nos impressionam, com uma magnifica utilização da cor e do preto e branco. A cor, no início e fim da obra, nas imagens filmadas da representação, nomeadamente da batalha final da peça. O preto e branco, na vida na prisão, nos ensaios que às vezes se misturam com o quotidiano da vida prisional. Não há efeitos fáceis, não há imagens desnecessárias, neste fascinante relato.
Inesquecível entre outras é a cena em que os prisioneiros de Rebibbia, através das grades das suas celas, representam o povo de Roma que recebe César, acompanhado dos seus próximos, que são os actores seleccionados entre a população prisional. Extraordinário a interpretação de Cassius, por um dos detidos, Cosimo Rega. Tão brilhante que só no final, no genérico, nos convencemos que se trata de um amador, de um homem detido em Rebibbia.
Para mim, esta obra é uma das mais brilhantes incursões no cinema do universo shakesperiano. E também o filme de que mais gostei entre os vistos até ao momento nesta temporada cinematográfica.

(Nótula publicada no Facebook)

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NOTA A POSTERIORI 

"Penso que o Neo-Realismo do Cinema Italiano foi uma das grandes contribuições da Itália para a arte em geral, durante o último século. E fez do cinema uma das máximas expressões da arte e cultura italianas. Não penso que, como ideia, esteja a morrer."
(Paolo Taviani, um dos Irmãos Taviani, autores de "CÉSAR DEVE MORRER", em entrevista)

Entretanto o filme, obra magnífica, em minha opinião (e não só) o melhor que vimos esta temporada nos ecrãs portugueses e Urso de Ouro da Berlinale 2012 (Festival Internacional de Cinema de Berlim), já estreou. 

Já não me espanto de nada neste país. No entanto registo: estreia numa única sala em Lisboa (Corte Inglês), reduzida divulgação nos quotidianos com suplementos especializados, que costumam encher páginas e páginas com outras estreias, quase sempre de reduzido ou nulo interesse. (OBS: está a ser exibido também no King Triplex)

Em face disto só me resta pedir uma coisa: Amig@s, se gostam de Cinema e se interessam pela Cultura, então não percam!

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