VIVÓ BODE III
O título tem a ver com estórias regionalistas de um bode oeiriense, chibo em trânsito entre as vizinhas (e às vezes rivais) Linda-a-Velha e Carnaxide, do qual se discute a naturalidade, o que tem a ver com estórias de escárnio e mal-dizer, sobre os maus costumes que grassam neste momento no nosso País (e não só): Sim, são principalmente esses maus costumes, os dos seguidores do Deus Dinheiro, que nos desgovernam e dirigem as nossas principais instituições públicas já que das privadas já nada nos espanta...!
Entre o humor directo do Millôr Fernandes (1923-2012) e a ironia do Woody Allen (1935), com alguns portugueses muito bons pelo meio. Do segundo, Woody, grande cineasta, também actor e músico, e autor de textos vários e brilhantes pelo humor (julgo que não gosta por modéstia que lhe chamem escritor mas obviamente também o é), um texto delirante sobre o testemunho em tribunal do Rato Mickey (Fernando Tavares Marques, no juiz e Miguel de Almeida, no Mickey, que parece ingénuo mas se calhar não é) no julgamento de um dos administradores da empresa do patrão do rato, Walt Disney. Ironia cáustica sobre o meio hollywoodense, sobre as suas personagens e os seus escândalos, sexuais e financeiros, também sobre o sistema capitalista que explora milhões no seu país (e no resto do mundo). Quem conheça as personagens da banda desenhada, criadas por Disney e seus seguidores - Pato Donald, Pateta, Tio Patinhas, sobrinhos e amadas - e nem o Dumbo e o Bambi, salvo erro escapam, etc, etc), rirá ainda mais pelas suas semelhanças com a realidade que Woody captou com mestria...
Todos os actores presentes (desta vez com quase toda a companhia participante), vão como sempre magnificamente, desde a Adriana Rocha (e permitam-me que relembre duas das suas grandes interpretações, nos papéis de Sóror Mariana e da rapariga de Ratos e Homens) até ao jovem Samé (ver lista de actores no programa), e desejava referir em cada caso particular o muito bom que de cada um temos visto mas fica para próximo texto para não alongar este. Claro que seria injusto não referir a nova aquisição do Intervalo, o jovem José Coelho, que depois de nos ter surpreendido com o seu excepcional papel em "Ratos e Homens" demonstra aqui a sua versatilidade ao interpretar e muito bem o texto poema "FMI", de José Mário Branco e terminar com uma apresentação de todos os elementos da companhia, em que foi também magnífico. Os restantes membros do Intervalo que me perdoem mas sabem quanto os aprecio como actores, como declamadores, como cantores (sim, até isso!) e nalguns casos como excelentes poetas (Fernando Tavares Marques). O maestro de todos estes artistas é Armando Caldas, que deles consegue maravilhas através dum trabalho colectivo notável.
Como espectador só me resta dizer uma coisa: Muito obrigado pelo que nos têm dado e feito pensar e também pelo prazer que nos têm proporcionado!
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