A RUA DA VERGONHA (Alasen Chitai) (1956), de KENJI MOZOGUCHI
Um dos filmes mais duros do grande cineasta nipónico, contra o capitalismo, sistema que assentando na mais crua exploração do homem pelo homem, ocasiona que seres humanos acabem por vender até o próprio o corpo para sobreviver.
Os comerciantes do sexo, os proxenetas e afins, justificam-se dizendo que no fim de contas prestam assistência social, não interessa se daí tiram chorudos lucros, como Mizoguchi repete várias vezes. Mas não é isso na prática que fazem os que ajudam a manter a pobreza para depois dela tirarem proveitos, em negócios vários de assistência social?
Não sei se o negócio da prostituição continua legal no Japão, como o era no nosso País, durante o fascismo dos tempos do salazar e cerejeira (o tal que era cardeal patriarca) e que depois disso a política de direita já tentou reactivar no nosso País.
Mizoguchi realizou esta obra-prima quando, no pós-guerra, o parlamento japonês, tornado mais democrático, e julgo que já depois de terminada ocupação norte-americana do país, quis aprovar a ilegalização da prostituição, o que provocou de imediato um coro de protestos, dos utilizadores das casas, muitos da alta burguesia, e dos seus proprietários.
"Rua da Vergonha" é um retrato admirável de várias mulheres que, quase todas, por impossibilidade de sobrevivência sua e da sua família, se tornam gueixas, escravas dos donos dos bordéis.
Entre as várias e impressionantes cenas do filme, lembrar a do filho criado com sangue, suor e lágrimas pela gueixa e que depois repudia a mãe, ou a do pai que utiliza bordéis mas depois, perante o caso conhecido da própria filha, que a sociedade condena mas utiliza, procura convence-la a abandonar o bordel ou, o mais trágico de todos, na cena final da obra, da iniciação de uma mulher ainda quase criança, utilizada para substituir alguém que morreu, por ter sido assassinada por um cliente transtornado.
"A Rua da Vergonha" é outra das grandes obras deste mestre da Sétima Arte. Tê-la realizado nos anos 50, num Japão imperial, na ascensão do capitalismo do pós-guerra, revela coragem.
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