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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

sexta-feira, 2 de junho de 2017

A SENHORA OYU, de KENJI MIZOGUCHI



A SENHORA OYU (Yöu-Sama)

Aparentemente é apenas um muito belo e puro melodrama, se não repararmos nas implicações sociais, sociológicas, de um argumento, sempre brilhante, de Yoda Yoshikata (Japão, 1951).

Mais uma obra-prima deste realizador, do seu argumentista, não esquecendo os seus actores e actrizes, que são admiráveis, apesar das dificuldades em trabalhar com Kenji Mizoguchi, que pouco explicava do que queria, segundo Paulo Rocha, que também realizou obras no Japão, anos mais tarde (o belíssimo A Ilha dos Amores, sobre Wenceslau de Morais).

A propósito do epitáfio no túmulo do cineasta - "Aqui jaz o maior cineasta do mundo" - o antigo director da Cinemateca Portuguesa, João Bénard da Costa, apesar da sua filiação católica, escreveu:

"Quem não conhece os filmes analisados neste volume (catálogo da Cinemateca que lhe foi dedicado) - e que são pouco mais que um terço de tudo quanto fez - achará que o (autor do epitáfio) exagerou.

John Ford, Fritz Lang, Carl Th. Dreyer, Jean Renoir, entre os cineastas que, como Mizoguchi, começaram no cinema mudo e continuaram, sem solução de continuidade no sonoro, são os únicos que vejo de quem se pode dizer que foram tão grandes como Mizoguchi. De maiores, não sei de nenhum."

(mas, em minha opinião, provavelmente Bénard esqueceu-se, pelo menos, de Serguei Eisenstein, que é outro grande nome da arte cinematográfica universal)

Mas mais ou menos o mesmo, acerca da grandeza de Mizoguchi, foi dito por outros grandes cineastas, como Orson Welles ou Jean-Luc Godard.

Pessoalmente considero o famoso trio do cinema japonês e universal - Kurosawa, Ozu e Mizoguchi - como estando no relativamente reduzido número dos meus cineastas preferidos, quando penso em termos da globalidade das suas obras. Mas quando tenho que escolher as obras-primas que mais me impressionaram então Mizoguchi surge sempre entre os primeiros.

"A Senhora Oyu" é também outra história de amor impossível, de que Mizoguchi tantas vezes fala, embora por diferentes razões.

Nesta obra, que fala de uma sociedade em que os casamentos são acordados no seio das famílias mais poderosas, e não pelos amantes, é uma atracção súbita que conduz à paixão e sobreleva tudo o mais, que irá provocar o sacrifício do amor das duas irmãs. Trágico e belo, apesar de tudo!

E sempre com uma delicadeza de tratamento dos grandes sentimentos humanos que a nós, espectadores ocidentais do cinema hollywoodiano e seus seguidores, ainda nos surpreende, por estarmos habituados a um tratamento em geral demasiado primário e às vezes até grosseiro. 



E não é pela questão de mostrar ou não corpos nus ou cenas de amor físico, mas por questões muito mais profundas. A título de exemplo, muito longe do estilo de Mizoguchi estará "Lady Chatterley" (2007), baseado no romance de D.H.Lawrence (1928), realizado pela cineasta francesa Pascale Ferran, e no entanto, quer no aspecto estético quer no seu todo, é outra obra que consideramos admirável. Também porque, como em Mizoguchi, existe o mesmo respeito pelo Homem e pelos seus sentimentos. Mas sei que esta comparação será polémica! Paciência... É a Sétima Arte, como a vejo!





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