Só uma pequeníssima nota do muito que haveria a dizer sobre mais uma obra notável do realizador haitiano, RAOUL PECK (Port-au-Prince, 1953), um homem de cultura, autor de "LUMUMBA" e de "O JOVEM KARL MARX", este último filme da sessão de gala no Festival de Berlim e que víramos com muito interesse há dias e do facto demos notícia aos amigos.
Esta nova obra, "I AM NOT YOUR NEGRO" baseia-se nas notas deixadas pelo escritor e activista dos direitos cívicos nos EUA, JAMES BALDWIN (1924-1987), que pretendia escrever uma obra sobre a luta anti-racista no seu país, homenageando simultâneamente três grandes dirigentes negros assassinados, Medgar Evers, Malcom X e Martin Luther King, que foram seus amigos e companheiros de luta.
Repositório tremendo do que tem sido a luta pelos direitos cívicos nos EUA e continua muito actual, dado o retrocesso civilizacional naquele país e no mundo capitalista, responsável pelo crescimento da extrema-direita, do racismo e da xenofobia, como também na actual união europeia.
Medgar Evers, foi o primeiro a ser assassinado, como sempre por um activista de direita, membro da Ku Klux Klan, Byron De Le Beckwith, que no entanto escapou à justiça durante 30 anos, só vindo a ser julgado e condenado pelo crime em 1994 (!!!).
Impressionante o relatório do FBI sobre James Baldwin, essa tenebrosa instituição então dirigida pelo famoso, pelas piores razões, Edgar G. Hoover.
Na actualidade dos textos e discursos de Baldwin (alguns na voz de Samuel L.Jackson) refira-se a sua afirmação de que tudo está nas mãos do povo norte-americano. Sabemos o que isso significa de necessidade de luta organizada e de esclarecimento de uma população que o é muito pouco.
Curiosidade pelo surgimento nas imagens de actores famosos, apoiantes das causas cívicas, entre os quais, um dos que traiu ideais e companheiros, Charlton Heston, aliás mau actor, que viria a mudar de barricada e a tornar-se presidente da NRA (National Riffle Association), activista contra o aborto, apoiante de Reagan e dos Bush.
Haveria muito a acrescentar sobre esta magnífica obra de Raoul Peck, mas não havendo aqui e agora nem tempo nem espaço fica a fortíssima sugestão aos amigos facebookianos para não a perderem.
Vi no Cinema Ideal, ao Camões, em Lisboa.
Às imagens que juntei adicionei a do jornalista Mumia Abu Jamal, que embora não seja citado na obra, é uma das vítimas da perseguição racista nos EUA, continuando preso.
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