“THE TIME THAT REMAINS” (O Tempo Que Resta), de Eli Suleiman, (FRA/PAL) *** (3)
Uma interessante obra, auto-biográfica, de um realizador palestiniano, vivendo em Israel, nos territórios ocupados (Nazaré).
Com algumas cenas admiráveis, em especial as que mostram os pais do realizador, a quem este dedica à obra. Particularmente fortes as que mostram a tortura a que eram submetidos os patriotas palestinianos pelos militares israelitas durante a ocupação, para os tentar forçar a denunciar outros camaradas, e que acabavam em fuzilamento ou lançamento para a morte das muralhas da prisão. Os que, por milagre, escapavam ficavam com sequelas físicas para toda a vida.
Mas fez-nos no entanto lembrar, com as devidas diferenças de contexto social e político, o cinema português anti-fascista, pelo recurso a um certo simbolismo para fugir à todo-poderosa censura (como exemplo, uma das obras-primas de José Fonseca e Costa, um dos grandes cineastas portugueses, “O Recado”). Talvez por isso as grandes figuras da Resistência Palestiniana estejam ausentes. Apenas o Presidente Nasser, símbolo maior para todos os árabes progressistas, surge referido no filme, em imagens do seu falecimento e funeral.
Suleiman utiliza uma espécie de caricatura, mais ou menos suave, para descrever a situação em que se encontra o seu povo, que afinal não é muito diferente de qualquer outro, em situação semelhante, depois de invasão e ocupação do seu país, há mais de 60 anos, desde que as grandes potências ocidentais decidiram criar o estado de Israel na Palestina, mesmo que para isso fosse necessário colocar os palestinianos em campos de refugiados, durante mais de meio século (e por quanto tempo mais?)!
Suleiman utiliza uma cena de “Spartacus”, com um célebre beijo entre Kirk Douglas e Jean Simmons, para caricaturar o conservadorismo das escolas hebraicas, com a professora a tentar esconder o beijo, dos alunos. No entanto houve um crítico de uma prestigiada revista de cinema (no melhor pano cai a nódoa…) que confundiu “Spartacus” com “Os 10 Mandamentos”!!! Distinguir Kubrick do, por muitos motivos, pouco recordável, Cecil B. DeMille, não parece tarefa difícil para qualquer cinéfilo. Não distinguir Jean Simmons de Anne Baxter já pode acontecer… Mas confundir o grande actor Kirk Douglas com o “canastrão” Charlton Heston é inconcebível, mesmo para um ocasional visitante ignorante das salas de cinema!
*** (3)
Sem comentários:
Enviar um comentário