Na Semana Cultural de 2012 assisti praticamente a tudo. Este ano, infelizmente,
apenas pude estar presente na última sessão, até porque teria um desgosto se
não tivesse lá estado pelo menos uma vez.
Não foi no Auditório
Lourdes Norberto, Linda-a-Velha, onde é a casa habitual do Intervalo Grupo de Teatro, mas no
Auditório Ruy de Carvalho, no Centro Cívico de Carnaxide.
Foi a homenagem do Intervalo a Álvaro
Cunhal (Coimbra, 10-Nov-1913 - Lisboa, 13-Jan-2005), no ano do centenário do seu nascimento, que se tem vindo a comemorar
desde o início do ano (e vai continuar), em geral por iniciativa do seu
partido, o Partido Comunista Português.
Mas desta vez foi um grupo de teatro, de
que tanto gostamos, que resolveu incluir também uma homenagem, na sua Semana
Cultural, que se realiza há cerca de 30 anos, julgo que sem interrupção e por
onde têm passado grandes figuras da nossa Cultura.
Aliás Armando Caldas, o director e encenador
principal do grupo, contou nesta sessão como convidou Álvaro Cunhal para
participar (que logo aceitou), juntamente com os dirigentes dos principais partidos portugueses,
numa sessão comemorativa do 25º Aniversário do Intervalo (fez este ano 43,
salvo erro) e como ela acabou por não se poder realizar por ausência dos outros
convidados, que aliás haviam anuído previamente...
Mas, voltando à sessão de anteontem, a
que assistimos, queremos dizer que gostámos muito.
É que Armando Caldas, com a sua
inteligência e sensibilidade, organizou uma sessão que primou pela sobriedade,
mas de uma qualidade superior.
Onde a habitual intervenção sobre o
homenageado da noite, desta vez, em homenagem infelizmente póstuma, foi
entregue a José Barata Moura, filósofo e intelectual multi-facetado, que vai
desde a cátedra universitária (passando também pela responsabilidade durante
alguns anos da Reitoria da Universidade), à obra escrita, em que avulta a
tradução e estudo de Marx e Lenin, até à música, como autor e cantor, com
especial relevo para os seus trabalhos para a infância.
Escusado será dizer que a intervenção
foi brilhante, combatendo preconceitos sobre o homenageado, sobre o seu
pretenso dogmatismo, mostrando, até com citações de Álvaro Cunhal, como ele
analisou a situação política do país e não só, com incursões históricas também,
à luz do Marxismo, que continua a revelar toda a sua superioridade como teoria
de análise da realidade. E referiu também a componente artística de Álvaro
Cunhal, os seus trabalhos, brilhantes, nos campos da literatura, pintura e
desenho e, o que nos toca profundamente, referindo uma vez mais a sua ausência
de dogmatismo também relativamente à Arte, no seu trabalho "A Arte, o
Artista e a Sociedade".
O momento de música que completa estas
homenagens não podia ficar melhor entregue! Foi o Coro Lopes-Graça, da Academia
de Amadores de Música, dirigido pelo maestro José Robert, com as Canções
Heróicas, que foram proibidas durante o fascismo salazarista, e escritas por
alguns dos grandes poetas portugueses.
Foi por vezes emocionante e até
comovente, com o grande final, à capella, de "ISTO VAI, MEUS AMIGOS ISTO
VAI", de Ary dos Santos e "ACORDAI", de José Gomes Ferreira. A
genial música de Fernando Lopes Graça, foi tocada, magnificamente, pelo pianista
Fausto Neves.
Tenho pena de não ter levado a maquineta
no bolso para registar esses momentos finais (embora sem som), com a fotografia
do homenageado em fundo e os artistas em palco e o público de pé, aplaudindo
longamente!
Fica aí o programa que ouvimos, embora o alinhamento fosse ligeiramente diferente:
Oito canções heróicas para Coro e piano – música de Fernando Lopes-Graça
1. Gafanhoto caracol (poesia de Mário Dionísio)
2. Canção campista (poesia de José Gomes
Ferreira)
3. Canção do camponês (poesia de
Arquimedes da Silva Santos)
4. Mãe pobre (poesia de Carlos de
Oliveira)
5. Ó pastor que choras (poesia de José
Gomes Ferreira)
6. As papoilas (poesia de José Gomes
Ferreira)
7. Ronda (poesia de João José Cochofel)
8. Quando a alegria for de todos (poesia
de André Varga)
II parte
Oito canções heróicas para Coro e piano – música de Fernando Lopes-Graça
1. Canto do Livre (poesia de Soares de Passos)
2. Cantemos o novo dia (poesia de Luísa
Irene)
3. Exaltação (poesia de Miguel Torga)
4. Canto de esperança (poesia de Mário
Dionísio)
5. Canção de maio (poesia de Joaquim
Namorado)
6. Combate (poesia de Joaquim Namorado)
7. Canto de Paz (poesia de Carlos de
Oliveira)
8. Jornada (poesia de José Gomes
Ferreira)
Duas canções heróicas (à Capella) – música Fernando Lopes-Graça
1. Isto vai, meu amigos isto vai (poesia de Ary dos Santos)
2. Acordai (poesia de José Gomes
Ferreira)
Piano - Fausto Neves.
Direcção - Maestro José Robert.
Obs: Retirei a foto publicada do mural
do Intervalo Grupo de Teatro, com os meus agradecimentos
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