LE HAVRE, de Aki Kaurismaki
Foi um dos filmes estreados em 2012 nesta cidade onde vivo, que então não cheguei a poder ver.
Por já conhecer alguns dos filmes deste famoso realizador finlandês (Orimattila, 4-Abr-1957), por muitos considerado um dos grandes nomes do cinema contemporâneo, opinião que partilho por já conhecer alguns das suas obras maiores, que passaram felizmente por cá, não quis deixar de o ver agora, em sessão organizada em colaboração com o ABC Cine-Clube.
Uma vez mais utilizando o seu estilo muito próprio, com uma fotografia que me faz lembrar às vezes as grandes obras do hiper-realismo da pintura, com diálogos reduzidos ao essencial e sempre com as questões sociais contemporâneas em primeiro plano, LE HAVRE tem de novo em relação ao que conhecíamos o encantamento de uma história de gente boa que contraria o mundo desapiedado, frio, cruel, em que a exploração dos trabalhadores aumenta, em que a xenofobia cresce, em que as diferenças sociais atingem níveis nunca julgados possíveis, em que políticos venais e medíocres servem os interesses do grande capital (como os que infelizmente estão no poder no nosso país), tudo isto é a lamentável Europa do início do século XXI, que urge combater antes que rebente e volte a fazer milhões de vítimas, como por duas vezes no século XX, em 1914-1918 e 1938-1945.
E para isso é necessário que a gente boa se una e lute, para que se criem condições para aquela gente actualmente no poder seja afastada e uma nova política surja, a caminho de uma sociedade mais justa, em que os direitos dos povos sejam respeitados e a exploração diminua e tenda para o seu fim.
Um brevíssimo relato do argumento: um escritor em dificuldades, trabalha como engraxador no Havre, a cidade portuária da Normandia, onde vive com a mulher que entretanto adoece. O engraxador encontra um jovem imigrante africano, que deveria ir para Londres, onde a família o espera e que desembarcou forçadamente naquele porto da Normandia, e por isso foge à polícia que o quer reenviar para o país de origem. O engraxador irá ajudá-lo, escondendo-o em sua casa e na dos vizinhos, numa cadeia de solidariedades, a que um inspector da polícia também se associa. E apesar dos delatores fascistas que odeiam os imigrantes e os denunciam à polícia, das rusgas e buscas policiais, o jovem, ajudado pelos seus novos amigos, consegue escapar e seguir para Londres.
Uma belíssima obra de Aki Kaurismaki.
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