LEITURAS
DEN OROLIGE MANNEN (Um Homem Inquieto) (2009)
De Henning Mankell (Estocolmo, 3-Fev-1948)
1-Uma pequena nota para os meus amigos facebookianos, nomeadamente para os que apreciam a chamada literatura policial, sobre a última obra publicada entre nós daquele escritor sueco, e que tem como protagonista principal o inspector Kurt Wallander. Será aliás a última em que ele surgirá, tomando em consideração o derradeiro parágrafo desta obra, por muito que isso custe aos seus leitores, embora haja um provável continuador na sua filha Linda Wallander.
2-Um aviso prévio de que se trata de uma obra para leitores adultos, no sentido mais lato do termo.
Porque se é certo que a escrita de Mankell fascina, os escolhos de leitura são muitos e há até um momento em que apetece pôr a obra de lado. Não por ser literariamente inferior, bem pelo contário, mas porque parece reflectir os clichés, reaccionários e preconceituosos, massivamente propagandeados pelos órgãos do sistema capitalista, durante a Guerra Fria, ficando no leitor a dúvida se reflectirá o ponto de vista de Wallander, polícia competente e arguto na investigação, mas de uma ignorãncia política muito grande, ou às vezes do próprio escritor...
3-No entanto uma das mais belas passagens do livro é quando Wallander deixa o meio da alta burguesia e vai conversar com uma trabalhadora (interrogar), empregada de restaurante já reformada, que travou conhecimento directo com os militares de alta patente que surgem na complexa intriga.
4-Kurt Wallander, oficial de polícia, de 60 anos, já com uma já longa carreira que os leitores foram acompanhando em obras anteriores, e que, de certo modo, ele revisita ao longo deste romance; a sua filha Linda, que segue as pisadas profissionais do pai; as mulheres da vida de Kurt, Mona e Baiba, com desenlaces trágicos; a neta Klara; o Pai, já falecido, a quem finalmente o filho parece entender, e que aliás mostrava uma perspicácia política muito superior à de Wallander; os colegas de profissão: eis o universo próximo de Wallander.
O resto são os von Enke, uma família da alta burguesia, e os que os rodeiam, principalmente oficiais superiores das forças armadas suecas.
O relato que Mankell faz da sociedade sueca é muito pouco lisonjeiro, mostrando-nos como é pouco verdadeira a aura de serem progressistas as sociedades nórdicas, conforme à ideia propalada pela comunicação social de tendência social democrata. O romance fala nomeadamente do ódios dos conservadores, em especial nas forças armadas e da alta burguesia, a Olof Palme, o primeiro-ministro assassinado em circunstâncias ainda hoje não esclarecidas. Tal como refere o feroz anti-comunismo dos mesmos meios.
Não devendo ser aqui referida a intriga com mais pormenor, para evitar que o suspense se perca, recomendo a leitura aos que apreciam este género de literatura, a dita policial.
Henning Mankell é sem dúvida um dos melhores autores contemporâneos do género, principalmente se estivermos atentos ao ambiente social e político em que se movem as suas personagens.
Nota à posteriori
A série televisiva adaptando os romances de Henning Mankell não chegou aos nossos pequenos ecrãs, julgo que fruto da lamentável subserviência dos programadores de TV portugueses ao que entendem ser o "gosto do mercado"... O resultado é uma programação em geral medíocre, quando não ainda pior e a que normalmente se costuma designar por lixo, com uma predominância das séries norte-americanas de baixa qualidade ou das telenovelas cujo único interesse são os desempenhos das estrelas, muitas vindas do teatro em crise e que recorrem à televisão para sobreviver.
Quem me lê sabe que não sou um fã desta televisão que nos "dão", embora me interesse pela qualidade e não teria dificuldade em citar umas poucas dezenas de grandes obras para o pequeno ecrã, vistas ao longo do tempo, de vários proveniências, desde o Brasil, aos EUA/Canadá e Europa, incluindo Portugal, e que considero magníficas. Fica para outra oportunidade. Por agora, resta este lamento...
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