NOITE DA LIBERDDADE - de Ödön von Horváth
O grande dramaturgo e escritor de língua alemã, nascido no Império Austro-Húngaro em Susak, Rijeka, em 9-Dez-1901 e falecido em Paris em 1-Jun-1938, levou grande parte da vida a alertar para o perigo do fascismo, particularmente do nazismo, que viu nascer no seu país e pouco a pouco avançar como uma peste, como um mal de consequências imprevisíveis que ele, lamentavelmente falecido muito precocemente, não chegou a assistir em todos os seus efeitos que causaram milhões de mortos por todo o mundo.
No nosso País temos tido a fortuna de assistir a algumas das suas peças mais representativas, algumas delas em Almada, pela mão da Companhia de Teatro de Almada.
Mas mais que descrever as manifestações nazis que pouco a pouco influenciavam parte do seu povo - o racismo, a xenofobia, o egoísmo social, o nacionalismo, o desprezo pela condição feminina, o ódio às minorias - o autor ridiculariza-as por vezes até, Horváth alertou para a capitulação burguesa perante os fascistas, em quem a grande burguesia via apenas possíveis aliados para conter e reprimir as aspirações sociais do povo, ajudando a manter a exploração do trabalho em que assenta a sociedade capitalista.
Em 1933 o partido nazi, chefiado por Hitler, vence as eleições e ele é nomeado chanceler.
E a partir daí são conhecidos os factos históricos que terminariam com o desencadear da 2ª Grande Guerra Mundial e os anos de horror entre 1938-45, embora já antecedidos da preparação para a guerra pelos fascistas, em Espanha, onde as hordas fascistas de Franco apoiadas pelos nazis, destruiram a novel República Espanhola no meio de um horror de crimes e assassinatos.
Esta peça de Horváth, cujo título original é "Noite Italiana", em apoio à luta anti-fascista em Itália, contra Mussolini e seus sicários, foi escrita em 1929.
Um pouco antes portanto da chegada dos nazis ao poder na Alemanha, quando o partido nazi era ainda apenas uma ameaça e os partidos burgueses julgavam poder contê-la, apesar dos alertas dos comunistas, que defendiam a necessidade da criação de uma verdadeira frente popular contra o fascismo.
No final da peça imaginada por Horváth os jovens comunistas, que haviam sido expulsos do partido socialista dominado por políticos burgueses por apelarem à luta anti-fascista, surgem em defesa destes perante o ataque dos nazis.
Sabemos no entanto que o anti-comunismo desses dirigentes prevaleceu nos anos seguintes, dando força aos nazis para atacarem a União Soviética, onde felizmente foram finalmente derrotados. Horváth já não viveu infelizmente para testemunhar isto, vitimado em Paris, onde se refugiara, por uma árvore em queda nos Campos Elíseos durante uma manhã tempestuosa.
A encenação de Rodrigo Francisco, pretende ligar a acção da peça à preocupante situação política e social dos nossos tempos, com o fascismo de novo a crescer na Europa e nos EUA (Trump) mas sem alterar o texto original de Horváth, o que implica um mínimo de conhecimentos por parte dos seus espectadores.
A esperança de quem vê a peça é que ela seja bem entendida pela maioria dos seus espectadores.
A ilusão de que o capitalismo se pode regenerar, tornando-se humano, é um erro que foi fatal em várias ocasiões ao longo do século passado e que não gostaríamos de ver repetida neste novo século pelo atraso que inevitavelmente trará para a luta dos povos por um mundo melhor, por uma sociedade socialista, em que a exploração do homem pelo homem, a discriminação e a pobreza sejam erradicadas.
O trabalho do encenador e actores é magnífico, com destaques vários, de Guilherme Filipe, no político burguês, a Tânia Guerreiro, na jovem revolucionária Anna, passando por Duarte Guimarães (Karl), João Tempera (Martin), Maria Frade, Marques de Arede e todos os restantes.
A não perder se vier a ser repetido na próxima época!