KEY LARGO (Paixões em Fúria) (1948), de John Huston
Visto em noite de Óscares (porque gravei).
Abro um parêntesis para referir que os seus principais prémios - de MELHOR FILME, REALIZAÇÃO e FOTOGRAFIA, foram para BIRDMAN. do cineasta mexicano ALEJANDRO GONZÁLEZ IÑARRITU, um mal-amado da crítica neo-liberal dominante.
Por isso foi para mim uma agradável surpresa, até porque gostei bastante de BIRDMAN (ver o post de há dias) e aprecio muito de um modo geral as obras de IÑARRITU já exibidas no nosso País. Surpresa também porque WES ANDERSON era favorito, embora a sua filmografia não tenha nenhum significado especial para mim, mas Anderson é, ao contrário de Iñarruti, um supervalorizado por aquela mesma crítica.
Mas foi nesta noite que acabei por rever KEI LARGO, uma obra-prima de JOHN HUSTON, de 1948.
Esta é uma obra que me é particularmente cara por juntar na sua ficha técnica grandes nomes do Cinema, que muito aprecio.
Refiro, porque muitos amig@s podem não ter reparado, que o argumento deste filme é assinado em primeiro lugar por RICHARD BROOKS (Filadélfia, 18-Mai-1922 - 11-Mar-1992). Ele é um dos grandes nomes do cinema norte-americano, quer como argumentista, quer como realizador. Da sua filmografia constam obras admiráveis como GATA EM TELHADO DE ZINCO QUENTE, ELMER GANTRY, SEMENTES DE VIOLÊNCIA (Blackboard Jungle), SWEET BIRD OF YOUTH, A ÚLTIMA VEZ QUE VI PARIS, OS PROFISSIONAIS, etc, etc).
O argumento de KEY LARGO é magnífico e reflecte uma visão progressista da sociedade. Veja-se como refere a comunidade índia, como faz uma alusão à violenta perseguição anti-comunista, no pós-2ª Guerra Mundial, aos cidadãos norte-americanos de esquerda, campanha conduzida por elementos da extrema-direita então no governo dos USA, apesar do fascismo ter sido derrotado na Europa (mas aonde ainda ficaram no entanto no poder alguns dos mais fervorosos adeptos de Hitler - Salazar e Franco) e retrata sem complacências os grupos de gangsters dominantes na sociedade estado-unidense (Rocco, admiravelmente desempenhado pelo grande actor Edgar G.Robinson (Bucareste, Roménia, 12-Dez-1893 - 26-Jan-1973), refugia-se na então colonizada pelos EUA ilha de Cuba. Faltava ainda mais de uma década para a Revolução Cubana conduzida por Fidel Castro sair triunfante e libertar a Ilha).
RICHARD BROOKS, que foi um grande realizador, ainda hoje é esquecido, ou desvalorizado, pela crítica de cinema dominante. Aliás esta é uma das formas de que o grande poder económico sempre se serviu, através de escribas convenientemente escolhidos para, com algum sucesso, tentar influenciar camadas mais intelectualizadas da população.
JOHN HUSTON (Nevada, Missouri, 5-Ago-1906 - 28-Ago-1987), o realizador de KEY LARGO, é um dos nomes maiores da realização cinematográfica universal, autor de várias obras-primas, como A RAINHA AFRICANA, ASPHALT JUNGLE, RELÍQUIA MACABRA, THE DEAD (Gente de Dublin), O TESOURO DE SIERRA MADRE, etc, etc.
Contracenando com uma equipa de secundários magnifica, entre os quais se destacam LIONEL BARRYMORE (Filadélfia, 28.Abr-1878- 15-Nov-1954) e CLAIRE TREVOR (Newport Beach, Califórnia, 8-Mar-1910 - 8-Abr-2000), surgem os grandes actores EDGAR G.ROBINSON (já referido) e as estrelas do filme, LAUREN BACALL (Bronx, New York, 16-Set-1924 - 12-Ago-2014), recém falecida e HUMPHREY BOGART (New York, 25-Dez-1899 - 14-Jan-1957).
LAUREEN BACALL e HUMPHREY BOGART, são inesquecíveis, quer como actores mas além disso também como seres humanos preocupados com a vida dos seus semelhantes e que algumas vezes os levou a tomar posições públicas.
RICHARD BROOKS e JOHN HUSTON adaptaram uma peça de um famoso dramaturgo norte-americano, MAXWELL ANDERSON (Atlantic, Pensilvânia, 15-Dez-1888- 28-Fev-1959), cujo humanismo e apoio às lutas dos seus concidadãos o levaram a ser perseguido e despedido algumas vezes.
Sobre KEY LARGO dizer ainda que a peça, de MAXWELL ANDERSON, foi admiravelmente transposta para o cinema, pondo em destaque o seu humanismo e as cargas psicológica e sociológica que estão nas suas entrelinhas. A intensidade dramática do palco, perante os actores em carne e osso, não se perdeu nesta versão em cinema, mesmo num pequeno e modesto ecrã como é o da televisão.
A não deixar de ver quando reaparecer.
NOTA: texto publicado inicialmente no Facebook
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