RATOS E HOMENS
Escrito em 1937, por John Steinbeck (27-Fev-1902, Salinas, Califórnia - 20-Dez-1968, NYC)
Já não me lembro quando li pela primeira vez, na juventude, esta obra de Steinbeck. Mas é uma das histórias que nos tem acompanhado toda a vida.
Drama dos explorados e oprimidos nuns EUA em plena crise do capitalismo, numa das cíclicas crises do sistema, esta a de 1929, uma das maiores, que causou milhões de desempregados, aliás tal como a actual, neste início de século, porque são sempre os trabalhadores que pagam as crises para que o grande capital as aproveite para se manter ou quase sempre para aumentar os seus proventos. E se necessário for lança-se em guerras em que mais uma vez são os soldados provindos do povo, utilizados como carne para canhão, que irão morrer em massa. Foi assim na crise de 29, com a grande guerra de 1939-45, mas a guerra já começara a ser preparada antes, em Espanha. Então o fascismo tinha crescido, aproveitando-se da miséria das massas e os grandes estados capitalistas, governados por políticos burgueses, pensaram em lançá-lo contra a União Soviética, o primeiro estado dirigido pelos trabalhadores. Não contaram todavia com a força do povo soviético e acabou por ser o fascismo a ser derrotado, mas com o sacrifício de muitos milhões de seres humanos, em especial na União Soviética.
Só pretendi situar o drama no tempo e no espaço. Embora nada disto tenha sido explicitado por Steinbeck, sabemos que foi assim. Os desenraizados, os sem trabalho, seres errantes no imenso território dos EUA, à procura de uma qualquer ocupação, ainda que difícil, sem direitos, sem garantias de nenhuma espécie. Aliás não só nos EUA, também na Europa e ainda há dias o víramos mostrado no também excepcional filme documento "O Espírito de 45", de Ken Loach.
E os mais vulneráveis serão ainda as vítimas maiores. O que então nos impressionou e continua a impressionar em "Ratos e Homens", quase uma vida inteira decorrida, é a solidariedade entre seres humanos e a esperança de melhores dias, que nunca morre.
O querer auxiliar os mais fracos. O nunca os deixar para trás, entregues à sua sorte, num mundo hostil e sem a protecção a que deveriam ter direito. Uma sociedade que não trate dos seus elementos mais frágeis não é digna desse nome. Pensei assim na juventude e continuo a pensá-lo agora. Quando oiço alguém defender a lei do mais forte e que os desprotegidos, ou os sem recursos, qualquer que seja a causa, devam ser ignorados, ou liquidados como defendem os fascistas, isso para mim é uma aberração e nunca o aceitarei.
Na história que Steinbeck criou, o final é um libelo, não contra o trabalhador que só quer defender o companheiro até ao fim, mas contra a sociedade que cria condições para que a tragédia possa acontecer. Mas também sabemos como às vezes os mais miseráveis e despolitizados se tornam injustos e cruéis para os seus semelhantes, principalmente contra os que são mais fracos que eles. O pior e o melhor do ser humano vem ao de cima nas grandes crises. Steinbeck conseguiu fazer-nos sentir isso e esta belíssima adaptação ao teatro ainda mais. Pondo em confronto os sonhos daqueles homens, de um mundo mais justo e melhor para todos e a realidade cruel de exploração e miséria para a grande maioria. Julgo que foi por isso que outro dia, quando fui ver a peça, a tensão dramática subiu a níveis tão raros que a emoção se instalou no palco e na plateia quando o espectáculo terminou. Isso é grande teatro em qualquer parte do mundo!
Esta realização do Intervalo Grupo de Teatro é magnífica, muito bem interpretada pela equipa que o constitui, dirigida pelo saber de Armando Caldas, que consegue sempre maravilhas dos seus excelentes actores e actrizes. Aqui sente-se uma vez mais como o trabalho de grupo é importante. No final do espectáculo pensei que gostaria de ver esta brilhante encenação num grande festival de teatro porque julgo que teria condições para aí ser devidamente apreciada.
NOTA: Texto publicado inicialmente no Facebook
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