O PELICANO, de August Strindberg, encenado por Rogério de Carvalho para a Companhia de Teatro de Almada, estreado no Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada.
Strindberg ((1849-1912) chamou-lhe Teatro Íntimo, nome que deu à própria sala inaugurada em 1908 e onde estreou O PELICANO, numa tentativa de criar um novo público, diferente do público grande burguês e pouco culto que frequentava maioritariamente os espectáculos de teatro no seu país, a Suécia, tal como no resto da Europa.
Surpreendentemente esta peça, que inaugurou aquele teatro, apesar das suas incongruências (segundo alguns) continua a ser inesperadamente moderna, neste intenso drama familiar, entre álcool e fogo, tão constantes aliás na vida escandinava, dos longos e frios invernos e dos sentimentos de culpa e expiação que nascem de uma educação severa e rígida, que como sempre acontece nas educações baseadas em moralismos religiosos descamba numa enorme hipocrisia e muitas vezes, numa tragédia.
Magnificos a encenação, o cenário, as interpretações das 5 personagens, com especial relevo para a Mãe (a grande actriz Teresa Gafeira), na qual Strindberg colocou muito da perversidade feminina a que atribuiu os falhanços amorosos da sua vida privada.
E para terminar esta pequena nota lembrar Teresa Gafeira nas diferentes Mães que tem desempenhado recentemente (entre vários outros papéis completamente distintos), como as de Gorki/ Brecht e de O´Neill (em Uma Longa Jornada para a Noite) para sentir a grande versatilidade desta actriz.
E "O Pelicano", por tudo isto, é um espectáculo que suporta múltiplas visões.
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