Playtime (Vida
Moderna), de Jacques Tati, FRA, 1967
Claro que não é um filme
deste ano! Trata-se duma cópia nova de uma das geniais Obras-primas do Cinema,
realizada pelo cineasta francês Jacques Tati.
Sendo de 1967, é no
entanto um filme avançado no tempo, na sua crítica à desumanização da “vida
moderna”, dominada por máquinas e burocratas, agora de roupagens neoliberais.
Neste início de século,
cinquenta anos passados, quando os vejo passar em bandos, todos vestidos de
igual, cinzentos, azuis ou castanhos, com gravatas a condizer e às vezes de
dissonância kitsch, a caminho da reunião, do “meeting”, da assembleia de
accionistas, não consigo deixar de ter vontade de soltar uma gargalhada (nem
que seja para dentro). E lembro Chaplin, e lembro Tati. Também os podemos
combater pelo Humor.
Nesta enésima visão da
obra, agora em 2004, confesso que o mais me tocou, para além da crítica à
desumanização da vida moderna (actualíssima, apesar dos quase 50 anos passados,
a única coisa que não é actual, disse-me um amigo, são os modelos dos
carros...), é a maneira como a personagem de Monsieur Hulot, vai servindo de
contraponto à desumanização das situações.
Primeiro, na ida à sede
da grande empresa, onde, após mil e uma peripécias, em que chega a abrir a
porta da sala de reuniões onde está reunida a administração, Hulot consuma a
reunião na rua do bairro, quando o quadro superior, com o nariz entrapado pela
cabeçada nas paredes de vidro do edifício modernista, vai passear o cãozinho
depois de jantar.
Depois, na espectacular
sequência do restaurante nocturno, de moda, em que a entrada de Hulot serve de
ponto de partida para o desencadear da aceleração dos incidentes, ou acidentes,
que conduzirão às hilariantes e frenéticas sequências finais.
Por último, nas imagens
de Paris, ao romper da manhã, agora já com outros personagens, o povo
trabalhador parisiense, uma vez que a grande burguesia recolheu a casa, cansada
de mais uma noite de estúrdia. E onde não podia faltar o romantismo, terno e
comovente, da Cidade Luz, com o episódio da prenda à jovem turista americana,
émulo feminino de Hulot, na curiosidade com que tudo quer ver, isto é, aquilo
que merece ser visto.
E o filme culmina numa
sinfonia de imagens e sons da grande cidade, que nos surge, apesar de todas as
suas fraquezas e disparates, encantadora, também aos olhos dos turistas que a
deixam, de autocarro, com destino ao aeroporto. E de certo modo é isso que o
cinema de Tati é: crítico da sociedade, mas ao mesmo tempo procurando resgatar
o que as pessoas têm de melhor, criticando-as pelo ridículo, mas em última
análise com um olhar de simpatia pelas pequenas fraquezas humanas. Os maus
sentimentos ficam, quase sempre, na sombra. Não interessam ao cineasta.
Principais filmes de
Jacques Tati (para quem não se lembre): Festa na Aldeia, As Férias do Sr.Hulot,
O Meu Tio, Playtime, Trafic, Parade.
(Visto no Nimas, em
25jan04)
http://www.telegraph.co.uk/culture/film/film-news/7833404/Jacques-Tatis-ode-to-his-illegitimate-daughter.html
http://www.telegraph.co.uk/culture/film/film-news/7833404/Jacques-Tatis-ode-to-his-illegitimate-daughter.html
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