Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

sábado, 1 de novembro de 2014

LA CHAMBRE BLEUE (O Quarto Azul), de Mathieu Amalric


NOTAS CINÉFILAS (só sobre o que me interessa e gosto muito e que não posso deixar passar sem uma referência...)


O QUARTO AZUL (La Chambre Bleue), de Mathieu Amalric

Adaptação do romance homónimo (publicado inicialmente sob o título "Les Amants Frénétiques") de Georges Simenon (Liège, 13-Fev-1903 - Lausanne, 4-Set-1989). 

Gosto muito do escritor e não sou o único, felizmente: « (...) Simenon é uma espécie de Balzac (menor, se insistirem nisso, embora me pareça que em matéria de méritos artísticos e literários é difícil ir a meças), mas um Balzac da pequena e média burguesia da primeira metade do século (XX) » (Correia da Fonseca, À Espera de Simenon, em O Diário, de 9-Jul-1988)

Julgo que Mathieu Amalric, o magnífico actor e também realizador, e que nesta obra surge nas duas funções, traduziu o essencial da trama desta estória de paixão e destino trágico, a que os dois amantes não conseguem escapar. 

Mas, ao contrário das histórias policiais de Simenon, em que a principal figura é o Comissário Maigret, nesta a verdadeira solução do crime não será conhecida do espectador (ou leitor). 

Culpados os dois, ou só um, ou alguém mais, ou outra pessoa? A dúvida permanecerá. Mas as grandes paixões, a contra-corrente, obsessivas, ilógicas (?), tendem quase sempre para a tragédia. E os amantes, perante as provas circunstanciais que a sociedade ajuíza em geral tendenciosamente, acabarão condenados.

Concordo com uma crítica que li que referia a influência de Chabrol nesta obra de Mathieu Amalric, na sua descrição de um meio burguês de província. O que é um elogio, em minha opinião.

De início o espectador poderia pensar que se tratava de uma obra em que o sexo estaria sempre em grande plano, e afinal não é assim, embora seja o cerne da obra e haja meia dúzia de cenas eróticas que ficam na memória, emblemáticas, como a da abelha. 



Os actores principais, duas mulheres e um homem, que constituem o núcleo dos pares à volta dos quais decorre o drama são excelentes, Mathieu Amalric (Julien Gahyde), Léa Drucker (Délphine Gahyde), Stéphanie Cléau (Esther Despierre), e mais alguns secundários magníficos. Stéphanie colaborou com Mathieu na escrita do argumento, adaptação do romance. 

A propósito, confesso que também aprecio muito a longa série de pequenos romances centrados na figura de Maigret. Para além da quase bonomia com que trata os, quase sempre pequenos, criminosos que com ele se cruzam, na tentativa de lhes compreender as razões e motivações, reveladoras das misérias e infelicidades que afligem o ser humano, outra característica maior do romancista é, em minha opinião, a sua magnífica e principalmente fascinante descrição de ambientes. 

Quer de uma Paris que o autor e respectivas personagens conhecem bem, quer das suas incursões pela província, em especial das que se passam na sua Bélgica e Flandres natal, quase sempre com um rio de águas invariavelmente lodosas e escuras, que atravessa as cidades, e por onde sobem ou descem barcaças.

Nota pessoal:

Quando relembro os romances com Maigret e os seus ajudantes, e a Madame Maigret, quando penso no Quai des Orfévres, recordo uma deambulação por esses lados, provavelmente a tentar sentir também na pele as descrições de Simenon e lembro o susto de uma idosa transeunte quando lhe perguntámos se sabia onde era. Temendo ser assaltada naquela zona de grandes edifícios, quase deserta? Foi o que me pareceu. 

Estávamos em meados dos anos 70, quando já grande parte dos emigrantes portugueses havia regressado à pátria, cheios de novos sonhos, afastados dos bidonvilles, esses enormes bairros de barracas e lama, que as autoridades francesas haviam desmantelado à pressa, tentando apagar os vestígios da emigração a que o fascismo português obrigou o nosso povo.

Agora, passados 40 anos, uma nova geração de portugueses é obrigada a emigrar por políticas semelhantes às de então. Na história da Luta de Classes, trata-se de um enorme retrocesso, mas todos sabemos que mais tarde ou mais cedo a roda da História voltará a mover-se no sentido do progresso social, da liberdade e da igualdade, e isso será obviamente consequência da Luta dos Povos.




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